Por Carlos Sena (*)
UFA, temos papa. De maisena, de
massa puba, de mandioca, de milho, de. Papa é bom porque desce redondo em nossa
goela, embora o Papa represente muita coisa que não engolimos. Num olhar de
soslaio lembramos um balaio de gatos em que a igreja se meteu durante séculos:
em nome de Deus matou e condenou. Em nome de satanás bolinou crianças a mercê,
bolinou Erê, bolinou. Em várias paróquias, uma anarquia: sacristia repleta de
heresia, de falsa moral, de... Reticências, ah as reticências! Se não fossem
elas o meu texto seria “textículo”, o meu verso “versículo” e o meu terço um
rosário de lágrimas choradas e por chorar. Ufa, temos Papa.
Não sei se procede, mas ouvi
dizer que PAPA é uma sigla: Pedro Apóstolo Príncipe do Apostolado. Atolado mais
que príncipe? Há quem diga que sim, mas
é preciso rever esses conceitos protocolares. Afinal, a grande retórica da
própria igreja está na afirmação meio idiota de que se condena o pecado, mas
não o pecador. Isso aconteceu com a questão dos homossexuais em que foi dito
isso. Nesse gancho vocabular, acho que a gente tem mesmo que encarar o Papa
como encaramos a papa. Papa fina: a gente pode não gostar, mas desce. Papa
quente, a gente assopra e ela desce. Papa aguada a gente põe uma gotinha de
adoçante e ela desce. Papa de qualquer coisa, a gente bota qualquer outra coisa
nela e “pimba”, ela desce. Mas a papa desce para o nosso organismo e o Papa?
Ele desce ou ele sobe? Ele aparece ou ele some? Assim, o vaticano fica mais pra
cano do que para água. Se mais pra água ele, o Papa, poderá ser santo até
debaixo dela? E se for só humano ele vira boneco de pano?
Tudo pode acontecer, inclusive
nada. Mas, no reino das acontecências a realidade é nua e crua, mais nua do que
crua porque quem se atreveria a cozinhar os pecados da santa madre igreja? É
assim a peleja dela conosco. Tudo porque preferiu ignorar que o mundo mudou e
que se fosse para padres ser celibatário padre deveria ser eunuco. Assim, quem
arrisca não petisca, mas os papas ariscaram e petiscaram no reino da riqueza
dos mais ricos em opressão a ignorância dos mais pobres. Soube que Dom Helder
teria mando o Papa Paulo VI vender o vaticano e dar o dinheiro aos pobres! Só
não me lembro do que o papa respondeu, mas isso foi certamente, uma provocação
inteligente do nosso Dom.
Ufa. Temos papa! Argentino, mas
Papa. Fico pensando que antes da fumaça branca sair, eles dançaram uns com os
outros um tango Argentino. Imaginei logo La Cumparcita que eu adoro. Agora
imaginemos aquele salão belíssimo da Sistina com aqueles senhores paramentados
com aquelas saias esvoaçantes dançando feito libélulas no ar! Acho digno se
isso tivesse acontecido. E as sandalinhas deles em formato Anabela? E aquelas
cores berrantes misto de roxo com lilás e rosa? E se fosse mesmo? Ninguém teria
nada a ver com isso. Afinal o papa não é franco, mas é Francisco. Não é babado
nem é bico. É simplesmente o Papa Francisco – da ramagem franciscana, uma das
mais sérias e comprometidas irmandades do mundo católico e cristão. Só por
isso, salve ele, salve o Francisco.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 13/03/2013
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