Por Zezinho de Caetés
Quem se opunha à “revolução
bolivariana”, está rindo. Alguns mais contidos, dizem, riem por dentro.
Outros, como eu, riem às bandeiras despregadas. Quando ouvi ontem o ministro das
relações exteriores do Brasil reconhecer o novo governo venezuelano, mesmo que
havendo suspeitas fundadas de uma eleição fraudada, eu, além de rir, disse:
Ganhamos!
Hoje mostro, abaixo um texto do imortal (não porque é múmia,
mas por que escreve bem) Merval Pereira, que tem o título de Derrota Moral, para mostrar o que
aconteceu com o chavismo na Venezuela. Melhor impossível.
É muito difícil, para quem é brasileiro e gosta de futebol,
esquecer a Copa do Mundo na Argentina em 78, em que o técnico Coutinho disse
que tivemos uma vitória moral, pela forma como ele achava que foram manipuladas
as outras equipes. Vitória moral, não trouxe um taça, da mesma forma que a
derrota moral do chavismo, não trouxe o governo para a oposição, mas, já é um
começou de vitória tanto moral quanto real.
Os resultados das eleições mostraram que o povo venezuelano já
estava cansado do bolivarianismo tosco do, hoje múmia, Chávez. E levaram a
outros países da América Latina a mensagem de que não se pode enganar todo o
mundo todo o tempo. E muito menos um homem cuja campanha foi baseada na
reencarnação de um morto em um passarinho e que o levava no ombro para os
comícios. O meu conterrâneo Lula em sido ridículo muitas vezes, mas, nunca
chegou a tanto, embora alguns petistas tentem fazê-lo. O mundo deles caiu.
E eu continuarei aqui rindo do passarinho e da derrota moral
pelas consequências que ela pode ter para nosso chavismo infantil, tentado pelo
PT, por muitos anos. Basta ver a que o assistencialismo desvairado levou a
Venezuela. Naquele país, o trabalho quase virou um pecado, a não ser no serviço
público, para seguir o modelo cubano que até o Fidel (ele chorou quando o
Chávez morreu e agora vai chorar de novo, por que sabe que não vai ter petróleo
de graça por muito mais tempo) já é contra, igual estão tentando fazer aqui no
Brasil.
Se depender de mim, não irão além de 2014, pois já vêm tendo
vitória moral há muito tempo. Espero que as oposições acordem porque chegou a
hora da vitória real. Fiquem com o imortal.
“A vitória por menos de 2% dos votos não apenas dá margem à
desconfiança sobre a lisura do resultado na Venezuela como garante ao candidato
oficial Nicolás Maduro apenas os primeiros três anos de mandato, e olhe lá.
Isso porque no meio do mandato há a possibilidade de convocação de um
“referendo revogatório” que pode tirá-lo do poder, caso o governo não esteja
agradando à maioria dos venezuelanos.
Sem a presença física de Chávez, não tendo surtido efeito o anúncio de
que ele reencarnara em um passarinho, a revolução bolivariana, apesar de
controlar os meios de comunicação e as instituições oficiais que organizam a
eleição, perdeu, pelos números oficiais, cerca de 700 mil eleitores, enquanto o
candidato oposicionista Henrique Capriles recebeu cerca de 600 mil votos a mais
do que na última eleição presidencial, quando Chávez venceu o mesmo Capriles
com uma vantagem de 12% dos votos.
Maduro venceu em 16 estados, e Capriles em apenas 8, mas, como a
diferença entre os dois ficou abaixo dos 2%, isso indica que o oposicionista
venceu nos estados mais populosos. Mesmo os chavistas mais ferrenhos admitem
que parte de seu eleitorado absteve-se de votar, e outros passaram para a
oposição.
O resultado mostra que Chávez já governava na base da retórica
revolucionária e que sem o seu carisma não foi possível impedir a explicitação
de um descontentamento não apenas com os métodos revolucionários do chavismo,
mas com os resultados do governo, vendidos como expressivos por seus áulicos,
mas na verdade insuficientes para manter eternamente a população atrelada aos
interesses do governo.
Se é verdade que a desigualdade foi reduzida e a pobreza combatida
através das missões chavistas, também é verdade que a economia venezuelana
sofre as consequências de uma política populista que é incapaz de manter os
gastos sociais sem provocar efeitos colaterais terríveis como a altíssima
inflação — cerca de 30% ao ano —, desabastecimento, déficit público e uma
violência descontrolada nas grandes cidades, especialmente Caracas.
Além de sustentar as políticas assistencialistas, a estatal de petróleo
PDVSA também garante uma política de subsídio do preço da gasolina que consome
10% do PIB, isso em uma empresa que sofre com o aparelhamento governista que
lhe tira a competitividade e reduz a sua produção, que caiu 25% em relação ao
que produzia há 14 anos, quando Chávez assumiu o poder.
A gasolina quase de graça fez com que o consumo tenha aumentado mais de
60% no período, o que obriga a Venezuela a importar o combustível, mesmo tendo
uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
A escassez de mercadorias nos supermercados e a falta de energia
elétrica e de água ora são atribuídas a um boicote das oligarquias, ora a
atentados terroristas, quando não surge uma visão cor de rosa que “culpa” o
aumento do poder aquisitivo dos mais pobres. Na verdade, trata-se de uma
economia disfuncional.
Como a base de sua pregação política é não fazer acordos com a
oligarquia, seguindo os passos de seu chefe, Nicolás Maduro vai ter dificuldade
de montar um governo eficiente, ainda mais que enfrentará dissidências dentro
da própria aliança chavista.
Ele queria vencer por uma diferença maior que a que Chávez conseguiu na
última eleição para se impor a seus adversários internos, mas obteve nas urnas
uma derrota moral que o prejudicará tanto em relação à oposição, que sai
fortalecida do confronto, quanto a seu próprio grupo político.
Assim como aconteceu entre a ausência de Chávez e o anúncio oficial de
sua morte, Maduro governará sendo tutelado por um conjunto de forças no qual se
destacam os militares. E a derrota moral do chavismo terá repercussões em toda
a América Latina, onde o socialismo bolivariano estava deitando raízes. Não é à
toa que foram esses os primeiros governos a acatar os resultados oficiais da
Venezuela, inclusive o brasileiro.”
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