Por Carlos Sena (*)
Sempre que vejo a juventude toda
paramentada de tecnologia, fico pensando que os menos jovens – aqueles para
quem quando a tecnologia chegou já estavam “na vida”, dando duro pelo pão de
cada dia, ficamos achando que o mundo não nos pertence mais. Algo como: o mundo
é dos jovens que dominam a informática!
Tomo por base a escola. Aquela
escola que outrora só tinha o professor e aluno como centro do processo
educativo. Poucos equipamentos audiovisuais como o mimeógrafo, o flanelógrafo,
retroprojetor, etc. E isso já era tido como modernos e avançados, pois o
computador e a internet ainda não tinham se “apossados” do mundo. Lembro-me dos
cadernos de caligrafia. Da lição de casa que hoje se chama tarefa. Dos
recadinhos que os alunos levavam para os pais em casa. Geralmente era para
falar dos seus filhos e dos seus mal criares. Lembro-me dos rigores do
fardamento: tudo limpo e combinando. Unhas cortadas, banho tomado, cabelos
cortadinhos à JACDEME (é assim que se escreve?). Uma meia de cor diferente e o
aluno não tinha acesso à escola. Havia tolerância mínima para quem chegasse
atrasado e, dificilmente, se largava mais cedo. Cantava-se o hino nacional,
fazia-se educação física às cinco da manhã para as sete da matina estar na
porta da escola. Até aula de canto orfeônico se fazia. Ah, rezava-se antes das
aulas. Os alunos sabiam de cor o hino nacional, de Pernambuco, da cidade e da
escola. Quando entrava alguém na sala de aula (um visitante, por exemplo),
todos se levantavam e só sentavam depois que a professora mandasse. A gente
errava uma palavra e a professora mandava a gente copiá-la centenas de vezes em
casa. E a gente fazia e a gente jamais a esquecia. Isso, evidentemente, foi no
pós-palmatória, pós-milho no chão pros alunos se ajoelharem – práticas
condenáveis e condenadas... O grande detalhe daquela época: os professores
sabiam ensinar. Não tinham notebook, nem facebook, nem tabletes, nem celulares,
nem circuito interno de TV, nem computador, nem internet, nem... Sequer ar
condicionado tinha. As bancas eram coletivas feitas em madeira. Sentavam-se
três em cada banca. Mas havia bancas individuais, principalmente nos colégios
pagos. – Conhecimento? – Tinha. Respeito dos alunos pelos professores? – Tinha.
– O professor sabia escrever? – Sabia.
Essa escola do passado que tantos
escritores, tantos médicos, tantos intelectuais formaram, são hoje de certa
forma, recriminada pela pedagogia dita moderna. Foi essa escola que só dispunha
de Professor, aluno, lápis, caderno, disciplina, respeito aos mestres e
professor valorizado pela sociedade, que construiu as bases científicas do
mundo moderno. Escola simples e sem tecnologia de ponta. Escola com mestres
sabidos que ensinavam a pensar, não a repetir. E agora José?
Saudosismo a parte, mas hoje as
salas são equipadas com tudo e, de lambujem, as escolas tem piscina, quadra
poliesportiva, luxo, tudo de bom e do melhor. Boa parte dos alunos são um lixo
e outra boa parte dos professores ainda fica devendo ao lixo em matéria de
conhecimentos. Professor era sacerdócio, hoje é negócio. Mau negócio é verdade,
mas termina sendo bom para os donos dos monopólios educacionais, considerando
que o ensino público entrou em falência faz tempo.
O que mais dói no quesito
“professores” não é tanto saber que boa parte deles é pior do que os alunos; é
saber que eles são mal resolvidos enquanto pessoa, não tem consciência política
estruturada e a visão de mundo é ditada pelas novelas e pela “rede bobo de
televisão”, SBesteira, etc. Pode ter exagero, mas não mais do que o exagero que
representa “deseducar” crianças e adolescentes. Nesses casos, pouco ou nada
adiantam as estruturas luxuosas das escolas, nem os tabletes, nem os
computadores, nem os celulares, nem a internet, nem... Se for verdade que um
país de constrói com homens e com livros, mais verdade ainda é que os homens
são os professores e os livros são escritos por homens de reconhecido saber,
senão não seriam... Por isso critico essa tal de “pé da gogia” moderna. Se não
no grosso, mas no varejo eu a condeno. Onde mora essa “gogia” (?) que eu quero
lhe dar um pé na bunda? Como quero dar um pé na bunda dessas faculdades fuleiras
de pedagogia que formam professores como um fábrica fabrica fubá de milho ou
outro produto qualquer. Pelo menos o fubá de milho passa por um controle de
qualidade, os professores não.
Não falta em meu redor
professores escrevendo errado. Se fosse um errinho de concordância, até seria
menos mal. Mas são erros grosseiros, próprios de quem merecia estar num banco
de feira vendendo mangaio, como todo respeito aos feirantes profissionais. “Há
exceções”, ora direis! Graças a Deus que isto é verdade. Como é verdade que
existem alunos ótimos e que pensam e que elaboram... O mal maior não está aqui.
Porque o resto que não se enquadra como na excepcionalidade vai sair por aí
derrubando prédio se for engenheiro, matando gente se for médico e deseducando
se forem professores ou assemelhados. Distante de querer ser dono da verdade
acerca de educação, defendemos uma educação libertadora em que os indivíduos
são preparados pra vida e, nesse contexto, saberão respeitar seus pais e
professores e os mais velhos, amar a Pátria, e os valores de dignidade humana
como as minorias... Esses conceitos não dependem de tabletes, nem da
informática, nem dos computadores, nem da internet, nem dos celulares, nem do
“professor” Google**... Assim, concluo pela assertiva de que os processos
educacionais tem que ser compartilhados, adequados, renovados, por que não
dizer? Nesse aspecto, o Pedagogismo tão em moda cai por terra e merece ser
enterrado pelos pais bem intencionados e pelos professores que, mesmo
“sofressores”, acreditam na construção de um mundo melhor e mais justo, via
educação...
** O"Google" de
antigamente era a NOVA SELETA, a CRESTOMATIA, a BIBLIOTECA, A ATENÇÃO ÀS AULAS,
As Anotações no papel rascunho pra depois serem passadas a limpo, A BARSA -
esta pra quem era rico e podia comprá-la a peso de ouro. Existem mais outros
que você pode completar.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 11/03/2013
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