Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Vou à cidade. Deixo o carro em casa e apanho o
ônibus de Jardim Atlântico. É mais pratico e econômico. É uma viagem tranquila.
Trinta e cinco minutos observando as ruas e as pessoas que entram no ônibus. Outros
descem. Duas senhoras sentadas na poltrona atrás de mim, começaram a conversar.
- Marinha, tu não sabes o que aconteceu ontem à noite! Seu Antonio sabe quem é?
Seu Antonio que é vendedor de alpercatas. Pois é! Este meu vizinho bateu na filha Rosália. Foi aquela
confusão ontem à noite. Ninguém dormiu. O barulho foi tão grande que acordou
todos os moradores do prédio. Era por volta da meia noite. As tapas e os gritos por socorro ecoam pela
noite. Os gritos de um e de outro, do pai e da filha. Acalmaram-se. Nesta manhã
todos comentavam - viu o que Seu Antonio fez com Rosália? Uma boa surra. Uns diziam bem pregado filha sem vergonha deve levar um corretivo, Outros, não devia
fazer aquilo, bater numa filha daquele jeito nem pensar. Era bem pregado, que
ela também desse parte na Delegacia e ai tu ia ver a porca torcer o rabo.
Pois é minha filha nada escutei -
disse Margarida. Moro no prédio vizinho
e o barulho com gritos no meio da noite já estou acostumada. Me conta então
porque o Seu Antonio deu uns bofetes na filha?
É minha filha, toda noite a Rosália saia do
trabalho, sabe trabalha em uma loja no centro da cidade, e somente chega por
volta das nove e meia da noite. Passou a chegar mais tarde, dizendo que a loja
estendia o horário para arrumar as mercadorias que os clientes deixavam. Nada
disso, mulher, diz as más línguas, que ela esta fazendo programa. O pai nunca
soube deste fato, era inocente de pai e mãe. A dona Sofia também estranhava este comportamento mais nada
dizia ao marido. Assim a Rosália vinha enganando a todos. A minha vizinha, a Lourinha,
que sempre dorme tarde da noite e, de sua janela do segundo andar espreita
todos os moradores. Ai daquele que cair na língua desta mulher, nem Jesus
escapa da boca do povo. Mas tu sabes ela via sempre a Rosália chegar de carro, descendo
e acenando para o motorista. Uma noite seu Antonio estava tomando uma cerveja
num botequim na cidade. Nunca bebia, mas nesta noite resolveu tomar algum
aperitivo com alguns colegas. Sentado e conversando animadamente, viu de
relance a filha entrando num carro preto e saindo em direção a Dantas Barreto.
Era mais ou menos dez e meia da noite. Não aguentou aquela cena degradante.
Criara a filha com o maior respeito e, depois da prá “quenga”, era demais. O
que to te falando, já foi gente que me contou. Pois é! Dizem que Seu Antonio
pegou um taxi que ia passando e seguiu a filha, poltrona, isto é o que dizem no
prédio. Foi até Afogados. O carro entrou num motel na estrada dos Remédios e ai
ele ficou louco. Não sabia o que fazer se entrava no Motel que por certo o
vigilante não deixaria, ou se esperaria no lado de fora, para dar uns safanões
na filha “quenga”. Achou melhor ir para casa. Dispensou o taxi e pegou um
ônibus, ia possesso. Somente pensava qual a atitude tomaria. Tomou mais uma cerveja perto de casa, na
barraca de Bio e aguardou a chegada da filha. Lá pra meia noite, lá chega a
filha no carro preto. Era muito para um coração de um pai que sempre levou a
serio a vida na família e, ter uma filha “quenga” não engolia. Subiu a escada
em dois tempos e o tempo fechou. Foi aquela surra como eu já te contei. Sua “quenga”
gritava como louco, foi isto que lhe ensinei você sair com macho entrando em
motel e, não venha dizer que não que eu segui e você entrou no motel lá em
Afogados. Vai me apanhar muito e sei que isto não vai consertar o dano que você
fez a família e na vizinhança que vão dizer – A filha de Antonio é puta. Criada
com tanto mimo deu prá puta. Você vai arrumar sua trouxa e se mande vá viver
como “quenga” de cabaré. E eu? E sua mãe? E os seus irmãos? Vamos andar de
cabeça baixa pela rua por tua causa. E tu o que vai fazer de tua vida? Andar a
procura de homem pelas esquinas? É isso que tu queres? Ouvia tudo pelo silêncio da noite. A tapa e
as lapada de cinturão ecoavam noite
adentro. Uma olhava para outra contando mais detalhes. E tu sabe as mulheres de
hoje dia não tem mais vergonha. Saem pela noite pelos bares da vida, que
antigamente era somente os homens que frequentavam hoje a mulheres querem ser
igual a homem, eu não concordo!
Eu também não! Disse a outra
moradora do prédio vizinho.
E ai no que ficou toda esta
confusão? Indagou
Estão todos calados, ninguém ousa
dizer nada. A Rosália sai muito cedo e volta muito tarde. Continua no mesmo.
Dizia Luiz Gonzaga, em uma da sua melodia – pau que nasce torto, morre torto – Dizem
que ela esta morando em uma quitinete em Boa Viagem. E o resto somente Deus
sabe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário