Por Carlos Sena (*)
Só se falam na médica que matava
os pacientes na UTI. O Brasil é assim, meio um país de moda, mesmo que a moda
seja a tragédia. Tragédia como a mais recente lá em Santa Maria, como a do
Bateou Mouch, como a do desabamento de um prédio na Cinelândia, outro no
Recife, além de incêndios, enchentes, secas e o cacete a quatro. Agora a “bola
da vez” é essa louca de branco travestida de médica, lá do Paraná. O que nos
encafifa nesse episódio é que essa “escrota”, que pela televisão já nos passa a
imagem de que seja louca não tenha sido assim percebida pelos seus superiores.
Menos mal que isso aconteceu nas terras do povo "sabido; do povo evoluído;
do povo civilizado lá do sul maravilha". Se fosse por aqui nas terras
nordestinas a internet estava cheia de acinte, de sarcasmos, de preconceito. Independente de conceito ou
preconceito, fato é que essa “louca” poderia estar em qualquer outro local,
pois infelizmente boa parte dos nossos médicos ainda se acham “deuses” –
senhores da vida e da morte. Há muitas dessas loucas por aí sob diferentes
formas: incompetência, desumanidade, indiferença com o paciente, remédios
errados, cirurgias sem necessidade, anestesia com doses maioreHas ou menores do
que a recomendada. Como a imprensa mostrou essa louca não estava sozinha, pois
três anestesistas que com ela
trabalhavam foram presos por cumplicidade com as mortes dessa “deusa” da máfia
de branco.
Haverão de nos dizer: “mas há
médicos muito bons” e eu também acho, da mesma forma que acho que é obrigação
ser bom profissional, principalmente quando se trata da vida humana. Em pouco
tempo essa doida será esquecida. Certamente outras tragédias anunciadas virão,
bem como as que não são anunciadas. Com esse episódio fica em xeque o conselho
da categoria e o sindicato. Pra que servem? Pra serem categorias fortes,
organizadas e poderosas – eis pra que servem, porque condenar um dos seus pares
é a coisa mais difícil do mundo. Essa louca do Paraná vai, excepcionalmente,
ser condenada. Até porque já está condenada pela opinião publica e o dolo
comprovado, pois havia um policial federal disfarçado de técnico de enfermagem
lá dentro durante um ano. Ele viu e ouviu tudo e muito mais.
Poderão dizer: mas isso acontece
no mundo inteiro. Verdade. A diferença é que no mundo inteiro a lei funciona,
aqui não. Já estamos cansados de saber que a reforma do código penal não sai do
papel, no conjunto da reforma do judiciário. Aqui pai mata filho, filho mata
pai e mãe e irmão e não vai pra cadeia. Quando vai e é condenado, só cumpre um
terço da pena e fica em regime semiaberto. Pode? Pode. Aqui tudo pode – com “P”
ou com “F”, mas pode. Aqui no nosso país pra matar o outro não precisa ser
médico como essa louca; só precisa ser menor de idade; só precisa estar
drogado. Só precisa ter uma boate ou um negócio funcionando sem segurança
nenhuma e com o beneplácito do poder público. Só precisa nada precisar e você
mata o outro: erro médico, choque elétrico, alimento vencido no supermercado,
motorista alcoolizado, botijão que explode frutas e verduras envenenadas e por
aí vai... Cada um que se cuide, porque esse país tão cheio de leis me lembra do
coronel José Abílio Ávila, lá da minha terra Bom Conselho: em entrevista a
revista Veja, em reposta à pergunta “o que o Senhor Acha das leis brasileiras”,
ele disse: “são como uma cerca: quando são muito altas, o povo passa por baixo
e quando muito baixas, o povo passa por cima”... Se ele de fato disse isso eu
não estava por perto pra ouvir, mas é assim que corre a boca miúda por lá. Como
era um caba valente, certamente disse alto e em bom tom.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 24/02/2013
Esse espantalho que aí está não é muito diferente da grande maioria dos médicos e médicas. Quando eles matam, dizem que é porque tinha de morrer. Aliás, não dizem nada. Os erros médicos que conhecemos são uma insignificância. Porque o que ocorre nos hospitais e clínicas não chega ao conhecimento do público pagante. Médicos são semideuses. Há bons médicos, sim. Uma minoria muito miúda. A regra geral é o mau médico. O médico desatencioso, arrogante, superior a Jesus Cristo. 2. O Cremepe só serve para acobertar os erros deles. O sindicato da classe ajuda ao Cremepe e ao CFM. E ainda faz politicagem. O corporativismo é insano. Tente processar um médico e veja as dificuldades pra colher informações e dados da vítima do médico, quando esta estava sob os "cuidados" dele. 3. Há poucos dias, também no Sul ou Sudeste, um médico salafrário fez cirurgia plástica em várias mulheres e as deixou com inúmeras deformidades físicas. Como os crimes dele ganhou os noticiários das TVs, pode ser que ele receba uma puniçãozinha. Por exemplo: passar um mês atendendo de graça num hospital do SUS, para aleijar mais gente. Essa farsa também pode acontecer com essa louca, com trejeitos de louca. - É assim que funciona esse montão de leis no nosso país. 4. E vale a pena notar que os legisladores (fazedores de leis) são, em grande maioria, criminosos. São criminosos acobertados pelo foro privilegiado. Aí é foda mesmo. É foda sem ph da antiga pharmácia./.
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