MACHO PEGADOR

Por Carlos Sena (*)

A palavra da moda agora é “PEGADOR”. Os machos todos estão com a boca cheia dizendo que fulano é pegador, que sicrano pegador é. Acho um horror essa nova moda vocabular chula e própria de uma sociedade que só sabe estimular o macho como se a mulher fosse uma fêmea. Certo que há machos para certas fêmeas, considerando que certos ditos homens não passam de machos e certas ditas mulheres não passam de fêmeas. Até meu cunhado veio me dizer que meu sobrinho e afilhado é PEGADOR. Meu sobrinho é apenas de um jovem adolescente que namora e respeita a namorada como muitos da sua idade. Talvez ele nem conheça essa jocosa palavra, mais que jocosa é preconceituosa porque remete a mulher a ser presa fácil. Ora, se o homem é PEGADOR é porque alguém está sendo pego, no caso, a mulher.

Prefiro o refrão popular da canção: “O homem que diz dou não dá. O homem que diz sou não é”... Há muitos homens por aí dando sem dizer e dizendo que são sem ser. O armário está cheio deles e o que é pior, continuam casados com mulheres e cheios de filhos, mas com fama de PEGADORES. E pegam mesmo: nos banheiros públicos, nas saunas gays, nas boates, etc. Nada contra serem PEGADORES, mas são ao mesmo tempo PECADORES, pois que vivem se escondendo sob sete véus e, em se dizendo PEGADORES de mulheres, cometem vários pecados. Um deles é a redução delas a “sulfato de pó de peido” e com o beneplácito de muitas “brasas” (O pegador pega brasas). Outro pecado é o da mistificação, da máscara de bofe, de homem, quando uma boa parte deles vive por aí imitando Crô.

Na verdade homem que ama mulher ou mesmo que não ame, mas apenas fique, deve evitar colocar as mulheres na condição de BRASAS. Homem ama mulher; macho ama fêmea; pegador pega brasa. Será que não está na hora das mulheres deixarem de ser “de cama e mesa” como nos tempos da vovó? Começa por aí, ou seja, amando homens que as respeitem e tenham pelo menos um vocabulário saudável. Não se trata de falso moralismo, porque se na hora do babado houver palavrão e todo tipo de putaria, desde que seja bom pros dois, vale a pena. O que defendemos é que o nosso homem vire homem e acabe com essa insegurança de não bastar ser macho, mas ter que provar. Quer ser macho seja, mas se dê a prova a si mesmo. Procure saber o que está por cima de você, macho (se for o seu caso), ou por trás. De repente você descobre que o que está por cima é um “tacape” e o que está por trás é o Piauí ou o “Maranhão”...

Portanto, brasas, tenham juízo e deixem de ser divã para macho que não te respeita e só quer fazer de ti instrumento não de paz, mas das  próprias guerras interiores geradoras das suas inseguranças afetivas.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 17/01/2012