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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

HISTÓRIA DE CABARÉ

Bom Conselho
 Empresa onde trabalhavam algumas mulheres citadas no texto
(Foto do acervo da CIT Ltda, hoje da AGD)


Por Carlos Sena (*)

A conversa estava boa. Falávamos de tudo, mas eu não conseguia saber com quem estava proseando. Pensei comigo que no decorrer da conversa, sem que eu lhe perguntasse o nome, pudesse saber, mas não. Nenhum traço de fisionomia me era familiar, mas o diálogo estava tão instigante que achei de somenos importância ficar tentando me lembrar de uma pessoa que, certamente estava distante da minha convivência por pelo menos vinte anos. De repente ele começou a falar de Caçolinha, de Pixuta, Maria Quatro Cabelos, Conseta, Lusitana e Gonga de Loriê. Aí então eu me interessei todo, pois ele acabara de falar das nossas putas de infância; das nossas “professoras” de iniciação sexual! Quando ele, enfaticamente, falou o nome de MARIA QUATRO CABELOS não me contive em risos. A imaginação fez um ângulo de 360 graus me remetendo a uma época que a gente era feliz e sabia disto. Gonga Loriê era a nossa professora decana e de cama. A gente fazia fila para fornicar com ela, embora nem tivéssemos a noção exata do perigo, pois estávamos em plena assimilação do sentimento de macho que geralmente nós, nordestinos somos estimulados desde crianças. Hoje não mudou muito não, o que mudou hoje foi o cabaré. Não existe mais na forma de antigamente como a “casa da luz vermelha” ou o baixo meretrício, a zona mesma como existia no Cais do Porto no Recife Antigo. A “zona” era o nome que alternava com cabaré para referência ao local em que a prostituição corria solta. Aqui, em Bom Conselho, ficava no alto do colégio, nas imediações do Café Sertanejo. Hoje é zona nobre, digo, área nobre cheia de especulação imobiliária. Mas o que mudou mesmo? Mudaram o cabaré que se modernizou e se chama boate, casa de massagem, etc., e os clientes que, no geral são homens casados que procuram as menininhas novas para dar fôlego aos casamentos fracassados. As quengas de hoje não são mais as iniciadoras da vida sexual dos nossos jovens. A “instituição” FICAR assumiu esse papel com muita competência. Dito diferente, as namoradas de hoje assumiram o papel das putas de ontem nesse quesito. No interior, tenho a impressão que as putas sumiram como sumiram os cinemas. Os cinemas foram substituídos pela TV em casa e as putas, pelas casas com TV.

Ainda no viés da imaginação, lembro-me do dia (da noite) em que nos disseram que no cabaré tinha uma tal de LUZ NEGRA. Fomos imediatamente pra lá pra ver que “bobônica” era aquilo que a cidade inteira comentava. Lá chegando, ficamos ababacados. Uma luz cheia de mirabolancia tomava conta do ambiente. Os nossos dentes ficavam bem a mostra. Onde houvesse a cor branca, o contraste se interpunha e tudo ficava em clima de mistério. Logo num cabaré, era o máximo. Imagine só ver as putas dançando com um show de imagem que dificultava ver o rosto das pessoas, mas facilitava os gestos fornicantes com as raparigas.

A conversa tava boa, mas a gente precisava ir pra casa. Eu ainda não tinha me lembrado da fisionomia daquele senhor simpático que, tudo fazia crer, me conhecia muito. Ele falava o nome de todos da minha família, recordava fatos interessantes da nossa infância, mas eu não recobrava sua fisionomia (o tempo lhe judiara um pouco) na memória. Finalmente, ao me despedir dele, perguntei seu nome. – Antônio Coquita, respondeu. Discretamente fiz um riso amarelo e saí, de novo, com a imaginação em 360 graus. Antonio Coquita era meu colega de infância e muito ligado aos meus irmãos. Estudávamos juntos, jogamos muito futebol e conversa fora. Mas Tonho Coquita foi logo ser soldado de polícia, casou, teve filhos e... Perdemo-nos pela vida... Fomos pra casa dormir, mas eu não deixei de recordar os velhos tempos de Gonga, Caçolinha, Lusitana, Conseta, Pixuta e Maria Quatro Cabelos... No momento das despedidas, Tonho Coquita nos deu a ultima informação: as “meninas” morreram todas. Certamente deixaram “alunos” excelentes, mas confesso que nesse quesito fui muito ruim. 

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 (*) Publicado no Recanto de Letras em 14/01/2012. A AGD, por ser administrada por alguém que conheceu quase todas as pessoas citadas no texto do Carlos Sena teve a ousadia de corrigir o autor quando, numa passagem ele colocava "MARIA SETE CABELOS" e não "MARIA QUATRO CABELOS". Depois de um amplo debate nas Redes Sociais, parece ter se chegado à conclusão que o número era mesmo QUATRO e não SETE, se quisermos manter a verdade histórica, sobre pessoa tão importante para nossa juventude.

Administração da AGD.

Um comentário:

  1. QUE MATÉRIA, CARLOS SENA! VOLTEI AO PASSADO, LEMBRO-ME DAS GAROTAS CITADAS, DO CABARÉ DE SABINO,AONDE DANSAVAMOS E CASA DE QUITERINHA?NO ENCONTRO DOS BONCONSELHENSES, O JOSÉ MILTON CORRENTÃO ENTRE UMA MELODIA E OUTRA LEMBROU DAS MESMAS,COM ALTOS E BAIXOS ERAM BONS TEMPOS, E CONFESSO SINTO SAUDADES.PARABENS PELA RECORDAÇÃO.UM FRATERNO ABRAÇO.

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