Por Carlos Sena (*)
A GENTE sempre acha que os outros são complicados. Que são materialistas, que são calculistas, que são...
A GENTE sempre acha que nos outros tudo acontece. Que em nossa família não pode ter um gay, que não pode ter uma prostituta, que...
A GENTE sempre acha que os outros são preconceituosos. Que não toleram os negros, os judeus, os diferentes, os...
A GENTE sempre acha que nos outros residem as maldades. Que nos outros está a violência, a corrupção, a chantagem, a...
A GENTE sempre acha que os outros não têm fé. Que os outros não têm paciência, não têm compaixão, não têm amor, não...
A GENTE sempre acha que a vida alheia é melhor. Que o carro do outro é melhor, que a casa do outro é melhor, que...
A GENTE sempre acha que os outros é que são feios. Que são gordos, que são démodé, que não sabem se divertir, que...
A GENTE sempre acha os outros devem ser pacientes conosco. Que devem respeitar nossos gostos, nossas vontades, nossa forma de ser, nossa...
A GENTE
Sempre está achando e, por achar tanto, nunca se perde em si mesmo para se encontrar depois numa proposta de vida maior, cheia de virtudes superiores. Nesse hábito equivocado de a tudo achar, um dia talvez não haja tempo para se perder no infinito das ilusões que a vida concede como forma de ser feliz.
A GENTE
Sempre está achando a complexidade da vida que é facílima em sua constituição. Melhor se perder para encontrar a certeza de que a simplicidade da vida está ao alcance das nossas mãos; ao trajeto dos nossos pés; na direção do nosso olhar; na definição do nosso querer bem.
A GENTE
Sempre está achando sem conhecer a importância da dúvida, do risco, do atirar-se na vida como forma de oração. Precisamos nos achar na oração, posto que só quem a desconhece ignora o seu poder de libertação.
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 29/12/2011
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