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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A BALA QUE NÃO MATOU A PROFESSORA




Por Carlos Sena (*)

O menino deu um tiro na professora. A professora está se recuperando no hospital – menos mal, pois não bastava o salário de fome? Não lhe bastava a baixa auto-estima de ser professora num país de corruptos que roubam verbas da educação? Não lhe bastava as prováveis humilhações de alguns alunos sem educação doméstica contra ela?  Não lhe bastava a agonia de conviver com crianças, em sua maioria, falando internetês, colecionando cantores famosos nas capas dos cadernos, mandando os mestres tomarem no “C”, praticando bulling, mascando chicletes incessantemente, pendurados nos celulares durante toda aula? Não lhe bastava sempre chamar os pais para conversar sobre seus filhos e ter “NÃO” como resposta? Não lhe bastava estar viva, teria que estar morta?

O menino deu um tiro na professora. Pobre Sofressora! Pobre menino malino! Pobre país rico – mendigo de educação, prodígio de concessão: concessão de rico não é a mesma de pobre; de negro não é a mesma de branco; prisão de rico não é a mesma de pobre, tampouco a lei pra um não é a mesma pro outro. Concede pouco pra educação e muito pra corrupção. O menino deu um tiro na professora, mas não soube que a professora salvou-se. O menino se escafedeu, lascou-se. Pobre “erê”, pobre “piá”. O pai dele chorou, à bala vai reclamar. Reclama o pai do menino a quem? À fábrica de armas? Ao governo que não entrou na sua casa e o obrigou a entregar a arma quando do desarmamento oficial? À violência. Ou à demência de ser pai achando que filho é bobo? Ou à abstração de entender que bala de revolver é doce? Doce era a vida da criança. Mas a vida da sofressora é também doce. Entre as duas vidas, talvez eu opte pela da sofressora. O menino é vitima do sistema, da frouxidão dos limites que, certamente, seus pais foram mestres nisto. O menino é vitima da chamada modernidade onde na escola os professores têm que se adequar ao “tudo pode” da pedagogia dita MODERNA.

As elucubrações acerca dos reais motivos que teriam levado o menino a atirar na sofressora,  são muitas. Mas de pouca valia. “Inês” é morta, no caso, o menino. Esse “TIRO” foi, antes de ser na sofressora, no governo. Nessa pedagogia equivocada, nas famílias que entregam as obrigações educacionais apenas à escola. Esquecem, as famílias, de fazerem o dever de casa. Mas educar filhos com limites dá trabalho, então, deixa que apenas a escola tenha esse trabalho, pois os professores ganham pra isto – é o que muitos pensam.

A bala que matou o menino não é a mesma que matou GETÚLIO. Certamente matou nossa esperança numa educação em que os alunos, de fato, vão a escola em busca de conhecimento. E os professores, de fato, vão a escola transmitir seus conhecimentos em prol de uma educação libertadora, questionadora, rigorosa... E feliz.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em  02/10/2011

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