Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
A festa de São João não pode dissociar do sanfoneiro e Rei do Baião o Luiz Gonzaga. Aqui na terra enquanto viveu foi para animar o seu povo tão carente de alegria. Suas musicas, seus xotes, baiões e toadas eram cantadas com emoção. Cantou por todos os lugares, seguindo o que pensava, “minha vida é andar por este país prá ver se encontro...” e assim era a sua vida no dia a dia.
Lembro que em Bom Conselho na metade do século passado na década de cinqüenta o Luis Gonzaga esteve cantando em nossa terra, em uma sala improvisada no Ginásio São Geraldo, numa bonita tarde de verão com a sua grande sanfona vermelha e trajado de “vaqueiro”. Foi uma festa muito bonita com centenas de pessoas o aplaudindo euforicamente, que eu acredito que muita gente desta época se lembra deste encontro com o Rei do Baião. Encerrava a sua cantoria com a musica “Vem linda brejeira por sertão, vem pró rancho a te esperar... sob palmas da platéia. Eu trepado na janela via tudo, o que me valeu uma “surra” por ter desobedecido ao meu pai.
Em todos lugares do Brasil, principalmente, em nosso querido Nordeste, as musicas de Luiz Gonzaga são ouvidas no radio e na televisão, e cada vez que ouvimos as lembranças dos festejos de São João no interior vem a nossa mente. As fogueiras com suas labaredas e fumaça, fazendo todos chorar, a mesa farta de canjica, pamonha, pé de moleque, e milho cozido. O milho assado na beira da fogueira com o radio tocando as mais lindas musicam que hoje é recordada e cantada por vários interpretes do nosso País. As brincadeiras ao redor da fogueira, do “compadre e comadre de São João”, das simpatias com a bacia de água límpida na noite onde as moças se deleitavam ou ficavam nervosas quando não via seu rosto aparecer na água, do anel de mão em mão tudo isso e muito mais acontecia na noite de São João.
Lembro muito bem dos traques que soltávamos estalando na calçada, das chuvinhas e estrelinha acendida em um tição fumegante retirado da fogueira rodopiando com a mão ao alto, com faíscas branquinhas caídas para nossa alegria na minha querida Rua do Caborje. Das pessoas sentadas nas calçadas ou visitando os seus vizinhos. Os namorados flertando com olhares marotos e a musica que encantava a ele e a todos “olha pró céu meu amor, veja como ele está lindo, olha o balão lá céu vai subindo...” de mãos dadas. Os homens se aglomeravam na calçada a comentar sobre o tempo e agricultura, a safra de milho verde, feijão e a mandioca tomando o seu “quentão”, ou algumas doses da Aguardente Galo Preto, ou o conhaque São João da Barra ou mesmo o Vermute Cinzano, enquanto as senhoras sentadas conversavam alegremente, sobre a religiosidade, o enfeite da rua com bandeirolas amarela, vermelha, azul e verde de um lado para outro ladeado por galhos de palmeiras. De quando em vez olhavam para traquinagem das crianças que corriam pela rua, com admoestação das mamães “cuidado para não cair”, “cuidado para não se queimar na fogueira, passe longe”. Era uma alegria sem fim. Luiz Gonzaga lá estava animando todos com as suas canções.
Hoje, se encontra no céu ao lado de São João, sorrindo com o seu traje de vaqueiro, seu gibão de couro, seu chapéu com várias estrelas brilhando e a sua sanfona branca de 120 baixos tocando para animar a rapaziada no céu e São João sorrindo ao seu lado e, quem sabe tocando o “triangulo” e São Pedro” na zabumba”. Juntos Luiz Gonzaga começa a cantar em homenagem ao São João que se encontra ao seu lado e que foi tão venerado pelo sanfoneiro. Puxa o fole e dá as suas primeiras notas. Afina a goela e dispara “Ai São João / São João do carneirinho / você é tão bonzinho / fale lá com São José / Prá que milho der vinte e cinco espigas em cada pé... sorri para São João que mostra São José lá no fundo sentado e assentido com a cabeça o pedido para o seu Nordeste. Depois, cantam mais outras em homenagem a São João, pois é hoje é seu dia na terra e no céu. E, começa assim “Ai que saudades que eu tenho / das noites de São João / das noites tão brasileiras, na fogueira / sob o do luar do sertão / Meninos brincando de roda (crianças na relva brincando) velhos soltando balão / (alguns balões coloridos, soltavam alegremente) Moços em volta da fogueira (que fogueira esta acessa e quantos moços ao seu redor dançando) brincando com o coração / Eita São João dos meus sonhos / Eita, saudoso sertão.
Para animar mais a festa do seu amigo São João, falou para todos que o estava escutando, vou cantar todas minha musicas em sua homenagem, olhando para São João.
Começou a cantar “São João na Roça”, Fogueira de São João, Festa no Céu (Estava acontecendo) “Olha pro céu”, “Noites Brasileiras”, “São João Antigo”, São João no Arraia”, “O Passo da Rancheira”, “A Dança da Moda”, “Lenda de São João”, “São João do Carneirinho”
Batendo no ombro de São João, com o sorriso largo o Luiz Gonzaga, disse, viste como eu te homenageei na terra e todos “terrenos” ainda vão entoar estas músicas por muitos e muitos anos. E assim deu por encerrada a festa.
(São João na Roça; 1962 RCA Victor – Relançado em CD, em 2000 pela Gravadora BMG)
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