Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
O mês de junho é repleto de “crendices” e “simpatias” demonstrado aos longos dos anos por pessoas do meio rural do nosso Brasil. O Nordeste é o principal seleiro para estas “coisas” que acontecem durante todo o mês dedicado ao Santo Antônio, São João e São Pedro, onde os fieis buscam soluções para os seus problemas a fim de que possa ser feliz e recompensado por algum milagre destes três Santos. Os mais velhos de nossa cidade de Bom Conselho, meu berço natal, contava em suas conversas nas calçadas, nas bodegas, nos bares, nas praças e no pátio da Igreja Matriz sobre esta estranha personagem, o Papa Figo, que existia e comprovaria, pois “fulano de tal” ou “sicrano de tal” lhe afirmava que em certas cidades, vilas e povoados desapareciam “crianças” que eram vitimas deste macabro trabalho de retirar o “fígado de crianças” para sanar temporariamente uma “doença”, que nossos pais não gostavam de falar “morféia”
Muitas discussões acaloradas eram aconteceram entre aqueles que “acreditavam” e outros que não “acreditavam” e isto às vezes saiam até brigas e intrigas, por que no final muitos eram xingados e taxados como “doidos”.
Com o intuito de perseverar a nossa segurança, as recomendações de nossos pais eram ditos a todos sentados na “sala de visitas” em sofá de couro forrado com uma colcha vermelha de fustão com grandes flores amarelas e azuis.
Dizia, olhando para cada um de nós, sem pestanejar,
Olhem e preste atenção tenha cuidado com quem vocês falam, não falem com estranhos, principalmente, com velhos com “saco” ou “mochila” nas costa. Não andem na “garupa’ de nenhum cavalo ou burro. Não aceite nenhum “brinquedo”, “confeito”, “mariola”, “cocada preta”, “bolacha”, “tapioca” ou “beju”. Não aceite nenhuma moedinha. Não entre em casa de estranhos, de jeito nenhum, ouviram? Não vá para nenhum lugar que lhe chamar e nem faça mandado de ninguém, ouviu?
Não saiam de perto de casa, brinque aqui na frente. Só saiam lá para o “quadro” ou para a casa de suas tias Maria Eugenia, Joana e Maria Belo, na Rua das Águas Belas acompanhada do seu pai. Nunca vão sozinhos, entenderam? E na casa de Comadre Olindina e Dandô nem pensar, ouviram, que desobedecer apanha quando chegar a casa.
A gente ouvia em silencio as recomendações, sentadinhos e com medo, pois, em caso de desobediência levava três “bolos” de “palmatória” nas mãos, que se encontravam penduradas no corredor da casa, em duas cores uma “branca” e a outra “preta”, e para apanhar escolhia com qual delas recebia o castigo. E para completar o castigo, não tinha direito de ir assistir a matinê no Cine Rex.
Veja o que se conta sobre o Papa Figo, se papai e mamãe não tinha razão, será? Bem obedecíamos e nada mais.
- O papa-figo é personagem folclórico muito comum no meio rural do país, e seu aparecimento no cenário de nossas crenças e superstições provavelmente tem relação com a preocupação demonstrada pelas mães quando alerta filhos e filhas contra a presença de estranhos nas proximidades de suas casas, procurando impedir dessa forma um possível contato entre pequenos inocentes e criaturas que às vezes se aproximam deles cheio de segundas intenções.
Diz a lenda popular que essa figura não tem aparência extraordinária, conforme costuma acontecer com outros seres fantásticos conhecidos no folclore brasileiro, aparecendo algumas vezes como uma pessoa comum, igual a qualquer outra, mas que conforme as circunstâncias do momento ele pode adquirir a aparência de um velho maltrapilho, mas simpático, carregando um saco nas costas e procurando atrair crianças com o oferecimento de doces, dinheiro, brinquedos e até mesmo comida.
Papa figo é uma figura lendária do folclore brasileiro, conhecida principalmente na Bahia. Há relatos em que ele se parece com uma pessoa normal; para outros, teria unhas de ave de rapina, e orelhas e dentes de vampiro. Ele matava meninos e meninas mentirosos para chupar-lhes o sangue e comer-lhes o fígado (daí o nome, corruptela de papa-fígado). Isso porque ele sofria de uma doença rara (para alguns, o mal de Hansen, o que explicaria sua aparência grotesca), e acreditava que sangue e fígado de crianças o curariam. O mal de Hansen (também chamado de lepra) foi uma doença que matou muita gente no início do século 20, talvez daí venha a lenda. Outros relatos dão conta de que pessoas acometidas do mal de Chagas eram confundidas com o papa-figo, por causa do inchaço em algumas partes do corpo e no fígado[2].
Depois de atrair as vítimas, estas são levadas para o verdadeiro Papa-Figo, um sujeito estranho, que sofre de uma doença rara e sem cura. Um sintoma dessa doença seria o crescimento anormal de suas orelhas.
Diz a lenda, que para aliviar os sintomas dessa terrível doença ou maldição, o Papa-Figo, precisa se alimentar do Fígado de uma criança. Feito a extração do fígado, eles costumam deixar junto com a vítima, uma grande quantia em dinheiro, que é para o enterro e também para compensar a família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário