Por Zé Carlos
Não consegui terminar a outra parte da série sobre os Blogs de Bom Conselho. Far-lo-ei outro dia. Hoje me deu vontade de apresentar umas fotos que vi no SBC, mostrando os dois primeiros dias do Forróbom. Elas entremeiam este texto.
Penso que já são mais de 10 anos que não apareço por lá durante estes festejos. O que lembro mais é de minha época de infância. Dizem, e é verdade comigo, que nossa memória antiga é melhor do que a memória recente. No tempo, a primeira lembrança que tenho do São João, eu ainda morava na casa onde nasci. Onde hoje, ou muito recentemente, era o forno de uma padaria, na Praça Lívio Machado, que nem sei se chama-se ainda assim.
Eu estava passeando de velocípede e alguém soltou, o que na época se chamava de cobrinha elétrica. Pois esta cobrinha veio direta e se alojou no meu calcanhar. Eu não me lembro se doeu muito. Temos a capacidade de esquecermos a dor que um dia sentimos, mesmo que a cena esteja nítida em nossa cabeça. Mas, deve ter doído sim, pois me lembro chorando e sendo levado por minha mãe que olha para alguém com cara de poucos amigos.
Depois disto, a memória dar um salto, e eu já me vejo na frente da casa de D. Júlia (que chamávamos “pimenta”, mas, não em sua frente) mãe de Naduca e avó de Niedja. Lembro manipulando umas caixas de “estalo de bebê” que eram umas bombinhas em forma de palito um pouco grosso, tendo em uma das pontas a pólvora, na qual colocávamos fogo e a jogávamos no chão e ficávamos esperando o estampido.
Uma das brincadeiras mais queridas, mas, também perigosas, era ao acender a bombinha, a jogarmos no chão e cobri-la com um objeto, que podia ser uma lata, ou uma quenga de coco, e vê-la subir alguns metros. O perigo era o tempo ser curto e a bombinha estourar quando estávamos colocando o objeto em cima.
Havia outro tipo de bomba, esta mais potente, que, se não estou enganado, chamva-se "beijo de moça". Era em forma de triângulo, onde numa das pontinhas ficava a pólvora para a primeira combustão. Ela era usada da mesma forma do estalo de bebê, mas, era mais potente.
Havia umas bombinhas redondinhas feitas de papelão, e que eram de vários tamanhos, como também existiam as bombas, menos elaboradas, feitas com cordões e vendidas na feira lá no quadro. Havia ainda os fogos, que na época eram mais dirigidos às meninas, que eram as chuvinhas e ainda as chamadas estrelinhas.
Estes não eram artefatos só para o dia do santo, ou véspera quando se dão todos os festejos maiores. Era para a semana inteira. Antes e depois do dia. No dia mesmo o que tinha de diferente era a fogueira. E a lá de casa não falhava um ano. Não me lembro se todos os anos foi assim, mas em sua maioria era ela feita de tocos, que eram as raízes das árvores que um tio meu trazia todo ano em uma carroceria de trator, deixando nosso quinhão em frente lá de casa.
Eu nem imaginava a conseqüência disto para o desmatamento de Bom Conselho e portanto, do Planeta, já que estamos nele. De fato, a festa de São João sempre contribuiu, com suas fogueiras maravilhosos para o desequilíbrio ecológico. Talvez, se fôssemos americanos já teríamos uma pesquisa que medisse os efeitos das fogueiras de São João na camada de ozônio.
E era a noite toda poluindo. A fumaça fazia parte da festa junina. E seus efeitos atmosféricos ainda estão para serem contabilizados como nosso participação alegre no processo de desertificação. Pois as queimadas de nossas roças, processo que ainda fiz parte em minha curta trajetória de fazendeiro, nada mais são do que a de nossas fogueiras juninas elevada a alguma potência.
Mesmo em idade já avançada, mas não menos criança, eu ainda me lembro de comprar bombas enormes e sair soltando com o Almir Frederico pelas nossas ruas. Era já o São João etílico. Terminado na ressaca do dia seguinte, depois de dançar em alguma casa ao som de um sanfoneiro, não tão bom quanto Basto Peroba, mas com o mesmo efeito.
Eu sempre gostei do forró. Ritmo alegre e fácil de dançar, pelo menos quando não tínhamos que rebolar tanto. Era só arrastando os pés. E parando quando a dona da festa vinha cobrar seu quinhão, para que ela continuasse. Havia um nome para isto, mas também não me lembro. Era a sanfona, triângulo e zabumba, que um dia vi, lá no Auditório Rui Barbosa do Ginásio São Geraldo, o Luis Gonzaga tocar.
Hoje, dançar forró, dizem os dançarinos da dança do Faustão, é tão difícil que dançar lambada. Eu não saberia dançar nem um nem outro. E o Cláudio André me convidou para ser jurado de um concurso de lambada. Eu vou, se na banca de jurados estiverem também o Luís Clério, a Lucinha Peixoto, o Jodeval, o José Fernandes, e o Zé Oião, na presidência.
Ah, sim!!! As fotos são do Forrobóm. Qualquer semelhança com o meu São João, terá sido mera coincidência. Se no dia 22 estivesse lá em Bom Conselho, eu, certamente, iria para o FORROBECO.
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(*) Fotos são do SBC, do fotógrafo Zé Maria (parabéns, boas fotos).
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