“Toffoli ainda não é a Constituição
Por Fernão Lara Mesquita
O Brasil, apesar de tudo, vai decolar. Porque quer, porque
precisa e porque agora pode, com ou sem a anuência dos analistas que, ou porque
ainda não entenderam ou porque já entenderam perfeitamente o que depende de
quê, dão preferência absoluta ao Bolsonaro de sempre sobre o Paulo Guedes de
nunca antes na História deste país ... que é o Bolsonaro que proporciona.
Vai decolar não só porque a necessidade tem muita força, mas
porque vem aí o choque da energia industrial a gás, o mesmo tipo de impulso de
raiz que, há um par de anos, teve força para virar o jogo nos EUA, está
determinado a sair do seu isolamento e reintegrar-se às correntes financeiras e
de comércio do mundo, retirou-se definitivamente do túmulo da bandalheira
sindical getulista onde jazia ao lado da Argentina e quer mais...
Lula já entendeu que assim é e que se assim for o sonho
acabou. Ele morre falando sozinho. Por isso anda azedo feito limão. A conferir
se o Brasil fará dele mais uma dose de limonada purgativa ou, como prenunciam
os primeiros ensaios, apenas uma omelete.
Por baixo da gordura retórica de que se costumam cercar as
análises do drama brasileiro jaz, frio e muito básico, um país assaltado à mão
armada de lei onde os roubados são roubados na primeira instância e os ladrões
não são presos nem depois da quarta. Como consequência, o orçamento público foi
apropriado praticamente inteiro pela privilegiatura que o lulismo tornou morbidamente
obesa e o investimento público desapareceu. Não são mais que a amputação desses
quase 40% do PIB e, principalmente, que a ressaca da sistematização da
empulhação que se requer para tornar possível a convivência com uma iniquidade
tão repulsiva essa miséria e essa violência crônicas em que o País anda
mergulhado.
Não há argumento tragável contra a reforma radical disso
tudo. Certamente não será apontando a Venezuela de Maduro e a Cuba dos Castros,
defendendo a privilegiatura ou mantendo estatais nas mãos dos mais notórios
barões da bandidocracia que “o homem mais honesto do Brasil” vai seduzir os
brasileiros e expandir para muito além das fronteiras do Baixo Leblon o que
resta da esquerda antidemocrática. PSOL, PCdoB e PCO, mais o MST, foi tudo o que
ele conseguiu incluir na sua lista de agradecimentos na porta da cadeia.
A batalha final do lulismo, para além das incursões de praxe
no território do crime, vai se ater, portanto, à tentativa de atribuir aos
outros o “direito autoral” do PT sobre a miséria do Brasil. Jogar pobres contra
ricos pra valer seria, aliás, a esta altura, o meio mais contundente de
denunciar a privilegiatura. O IBGE pôs em R$ 27.213 o limite acima do qual está
o 1% mais rico da população. Considerando 220 milhões de brasileiros, é de 2,2
milhões de pessoas que estamos falando. Desconte-se daí a dezena de milhares de
“super-ricos” mais o que resta do Brasil meritocrático ainda não reduzido a
viver de bico e o que sobra é um número muito parecido com o dos funcionários
federais dos três Poderes ativos ou aposentados para os quais esses R$ 27 mil
para cima são o mínimo que vem escrito no holerite, aquele documento feito para
esconder o grosso do que recebem sob mil disfarces para sustentar o vidão que
levam. 36,1 vezes, considerado só o valor nominal, os R$ 754 por mês de que
tira o seu sustento a metade mais pobre dos brasileiros; 67% a mais do que
ganham trabalhadores em funções idênticas na economia privada, a que cria e não
apenas consome riquezas. No mesmo estudo o IBGE põe em R$ 5.214 o limite acima
do qual estão os 10% mais ricos do País (haja miséria!). O salário de início
das carreiras federais está, em média nos R$ 9 mil. E mesmo nos Estados e nos
municípios cujo funcionalismo compõe a pequena nobreza do Império da Privilegiatura
será difícil encontrar quem esteja abaixo desse nível. Tudo pago com o dinheiro
que “não há” para investir nos requisitos mínimos para que os miseráveis saiam
da miséria: educação, saúde e segurança públicas.
Seria moleza, portanto, ganhar uma discussão sobre pobres
contra ricos e o papel do Estado como o “mais justo distribuidor da riqueza
nacional”, não fosse o acesso à política um privilégio exclusivo da
privilegiatura sem distinção de ideologia alegada, o que certamente inibirá uma
clara exposição de quem são os ricos do Brasil pelas partes envolvidas nessa
disputa. Sem povo na rua não vai...
Desde pelo menos 1956, quando o 20.º Congresso do Partido
Comunista Soviético confirmou oficialmente ao mundo que “o sonho” não passara
de um pesadelo afogado em sangue, a violência física, a corrupção e a violência
semântica, vulgo mentira, têm sido os únicos argumentos dos inimigos da
democracia. A conquista do sindicato dos bancários e do controle dos fundos de
pensão das estatais, rezava o Plano Gushiken que o companheiro Dirceu, sob as
ordens de Lula, executou à risca, seriam o “Abre-te Sésamo” da caverna do poder
para o PT. Nasce aí o “jornalismo de acesso” aos pecadilhos financeiros dos
adversários mais incômodos oferecidos pela “PT-POL”, como eram chamadas nas
redações dos anos 90 as “fontes” sob o comando do companheiro Berzoini. Uma vez
lá, “Ésley & Ésley Lavanderias Planetárias” fariam do dinheiro para sempre
um não problema para os autores do “maior assalto a um Tesouro Nacional da
história da humanidade”.
Mas no meio do caminho tinha um Sergio Moro. Tinha um Sergio
Moro no meio do caminho. O Brasil nunca se esquecerá desse acontecimento na
vida de suas retinas tão fatigadas…
Para que o excelentíssimo “amigo do amigo” do pai do Marcelo
Odebrecht quer agora, depois da dos hackers da Lava Jato, a pacoteira de
informações do Coaf sobre as “movimentações atípicas” de dinheiro da mulher
dele e da daquele outro ministro de súbitas convicções jurídicas adquiridas e
de mais 599.998 brasileiros, entre os quais se incluem todos os elementos-chave
do jogo do poder, eu não faço a mais vaga ideia. Mas o certo é que ele não tem
esse direito. Nenhuma lei, nenhuma norma constitucional lhe dá o poder de
requerê-la. “C’est pas lui la Constitution”, ainda...”
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