“Uma decisão
histórica
POR MERVAL
PEREIRA
A decisão do
Tribunal de Contas da União (TCU) de bloquear R$ 1,1 bilhão das contas pessoais
dos controladores da Odebrecht Emilio e Marcelo Odebrecht abre um novo capítulo
na relação institucional entre a Justiça brasileira e empresas envolvidas em
corrupção contra o Estado.
O ministro Bruno
Dantas, autor do voto divergente que acabou majoritário no TCU, colocou em seu
Twitter a seguinte mensagem, logo após a decisão: “Desde o início da Lava-Jato
vozes respeitáveis da imprensa e do mercado defendem que é preciso preservar a
atividade empresarial e os empregos e punir os "donos". Decisão
histórica do @TCUoficial.”.
André Luiz de
Carvalho (ministro substituto) era o relator, mas ficou vencido na decisão de
mandar liberar os bens da Odebrecht bloqueados. O ministro Bruno Dantas abriu a
divergência, mandando respeitar a recuperação judicial, mas desconsiderar a
personalidade jurídica, atingindo os bens dos acionistas controladores,
começando por Emílio e Marcelo.
Foi, de fato,
uma decisão histórica, que pode dar novos rumos
aos acordos de leniência de empresas, e não apenas daquelas envolvidas
na Operação Lava-Jato. Os advogados da empreiteira recorrerão, alegando que o
TCU não tem competência para bloquear bens pessoais. O Tribunal considera que
sim, no caso de empresas que causaram danos à União.
A preservação
das empresas sempre foi um tema sensível ao longo dos anos da Lava-Jato,
responsável pela acusação de que o combate à corrupção foi o causador de grande
parte dos milhões de desempregados no país, ao destruir setores inteiros da
economia, como as empreiteiras.
Na quarta-feira
mesmo, no depoimento do ministro Sérgio Moro no Senado, essa acusação foi feita
por parlamentares da oposição. Ao lado disso, houve também teorias da
conspiração escalafobéticas, como a de que as condenações das empreiteiras
tinham por objetivo desmontar um setor que competia em excelência com as
empresas internacionais, que agora tomariam o mercado brasileiro.
Sabe-se, depois
de cinco anos de investigações da Lava-Jato, que grande parte do sucesso da
Odebrecht no exterior deveu-se, além da sua inegável capacidade técnica, ao
conluio da empreiteira com o governo Lula, que espalhou pelos países da América
Latina governados pela esquerda o mesmo esquema de corrupção que sustentou o PT
por anos a fio.
A recuperação
judicial da Odebrecht foi outra razão para a decisão do TCU. O ministro Bruno
Dantas ressaltou que “essa situação coloca em risco a efetividade dos acordos
de cooperação que as empresas do mencionado grupo econômico celebraram com o
Poder Público”.
A atuação dos
Estados Unidos na crise de 2008, na transição do governo Bush filho para Obama,
é exemplar de como um país capitalista age nessas ocasiões.
O Federal
Reserve (FED), o Banco Central americano, aportou capital nos bancos e ganhou
depois na venda destas ações quando se recuperaram. Os controladores e
administradores é que perderam.
Não só nos
bancos. Obama ganhou muito dinheiro para o Tesouro americano ao revender as
ações da GM, que esteve à beira da bancarrota. O mesmo com a AIG, a maior
seguradora do mundo, que se quebrasse levaria junto todo o setor.
Nossa legislação
também se mostrou inadequada para enfrentar essa avalanche de acordos de
leniência que se agravou com o esquema de corrupção descoberto a partir de
2013.
O caso da
Odebrecht repete o de várias empreiteiras, que tiveram que fazer acordos
separados com diversos órgãos de controle estatal: a empreiteira fez acordos de
leniência com o Ministério Público Federal (MPF), com a Advocacia-Geral da
União (AGU); com a Controladoria-Geral da União (CGU) e com o Conselho de
Defesa Econômica (CADE).
E, mesmo assim,
a retomada de atividades, com a participação em licitações em estatais, quando
houve, demorou muito tempo, pois dirigentes de estatais, depois da Lava-Jato,
temiam que uma empreiteira envolvida em casos de corrupção ganhasse a disputa.
A não
concretização do acordo de leniência deveria, segundo especialistas, gerar
responsabilidades pessoais para os agentes públicos omissos.”
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