“O capitão bate
na mesa
Por Eliane
Cantanhêde
Enquanto novas
pesquisas de popularidade não vêm, o presidente Jair Bolsonaro bateu na mesa,
mostrou aos generais quem manda, manteve seus filhos nomeando pessoas-chave e,
engrenando uma segunda, na contramão do que dissera na campanha, deixou claro
que vai disputar a reeleição.
Os ambientes e a
oportunidade do lançamento à reeleição foram escolhidos a dedo: na cidade onde
cresceu, a pequena Eldorado (SP), e na Marcha para Jesus, na capital paulista.
Dos 57 milhões de votos que Bolsonaro teve, em torno de 22 milhões são
atribuídos aos evangélicos. As imagens só poderiam ser o que foram: festa,
aplausos, apoio emocionado.
Quanto à
oportunidade: quando o governador João Doria começa a botar as manguinhas de
fora, o ministro Sérgio Moro está na palma da mão do presidente e o vice
Hamilton Mourão anda quieto como nunca. Detalhe: Bolsonaro falou em reeleição
dele, não da chapa dele. Assim, demarcou território, botou os potenciais
adversários nos devidos lugares e jogou a isca para seus eleitores e seu
rebanho.
Demite um
general daqui, outro dali, o capitão presidente está preocupado mesmo é com sua
base eleitoral, incluídas as tropas, não os chefes militares. Quando o general
Santos Cruz (defenestrado da Secretaria de Governo) acusou o governo de ser “um
show de besteiras”, muitos concordaram plenamente, mas Bolsonaro deu de ombros.
Personagem
central já na campanha, o também general Augusto Heleno tinha a missão de dar
conselhos, segurar os excessos e corrigir erros do presidente como a tal base
militar dos EUA. Era assim. Agora, Bolsonaro manda, Heleno escuta. Para
completar, Bolsonaro empurrou o general Floriano Peixoto para os Correios e pôs
no seu lugar na Secretaria-Geral da Presidência o major PM Jorge Oliveira, amigão
da família e ex-assessor do gabinete do “03”, deputado Eduardo Bolsonaro.
Trocar um general do Exército por um major da PM na mesma função é esquisito,
mas o presidente deu o seu recado: o governo é dele, ele faz o quer.
Outra mudança
curiosa foi na articulação política: sai o deputado e chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, entra o general de quatro estrelas da ativa Luiz Eduardo Ramos,
outro amigão do presidente. Ninguém aposta um tostão furado na permanência de
Onyx por muito tempo no Planalto.
O ministro,
porém, não tem do que reclamar. Diferentemente do general Juarez Cunha e do
economista Joaquim Levy, ele não foi demitido pela imprensa. E, diferentemente
dos generais Santos Cruz e Franklimberg de Freitas, ex-Funai, nem mesmo foi
demitido. Vai ficando, comemorando a troca da articulação política pelo PPI, o
programa de parceria de investimentos, bem estruturado, com cronograma definido
e bilhões de reais à mão. A troca foi boa? Há controvérsias.
De toda forma,
Onyx se livrou de um abacaxi, porque, seja um deputado, seja um general da
reserva, seja um da ativa, não adianta. O problema da articulação política não
é do titular, mas no presidente, que passou 28 anos na Câmara, mas se recusa a
fazer política, a boa política.
No Congresso, a
pergunta que não quer calar é: por que o presidente descarta o “banco de
talentos” indicado por parlamentares, mas um só deputado, o “03”, já nomeou o
chanceler, o primeiro e o segundo ministro da Educação, o presidente do BNDES
e, agora, o secretário-geral da Presidência?
Câmara e Senado
trabalham a pleno vapor, como, justiça seja feita, algumas áreas técnicas do
governo. Enquanto isso, o presidente está no palanque, com criancinhas no colo,
fazendo flexões, envolto por multidões e metido em camisas do Flamengo. Se a
economia se recuperar, pode até dar certo. Se não, parece pouco para garantir a
reeleição.”
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