“A dialética de
Moro
POR MERVAL
PEREIRA
O debate sobre
os diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e o chefe dos procuradores de
Curitiba Deltan Dallagnol, continua onde sempre esteve desde o início, no campo
político.
Assim como
existem juristas que acreditam que houve exacerbação do papel do juiz, ferindo
a imparcialidade, outros consideram normais os contatos e os comentários.
Sendo assim, a
discussão se limita a aspectos subjetivos da nossa ordem jurídica processual, e
das poucas sugestões práticas que surgiram no debate de ontem no Senado foi a
do senador Cid Gomes, que propôs mudar a legislação para instituir a figura do
juiz de garantias, ou juiz de instrução.
Separação entre
o juiz que pratica determinados atos decisórios durante a fase investigatória e
o juiz que atua na fase da ação penal. Ou seja, juiz que atua no inquérito não
pode ser o mesmo do processo.
As limitações
dessas duas figuras novas no nosso processo penal seriam definidas pelo
Congresso, ouvindo as instituições representativas dos juízes, como a (Associação
dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe); da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), das associações do Ministério
Público.
Esse debate
entre correntes distintas no meio jurídico existe porque há uma proposta para
incluir a figura do juiz de garantias no Código de Processo Penal em tramitação
desde 2010, e não se chega a uma conclusão.
O Instituto dos
Advogados do Brasil defende, com base em parecer do ex-deputado federal e
advogado Miro Teixeira, que juízes, sejam de instrução, sejam os existentes
hoje, têm que evitar toda e qualquer participação na fase investigatória.
Outros juristas consideram que mesmo hoje é função do juiz do processo
coordenar a investigação.
Ontem, na
sabatina a que se submeteu, por decisão própria, na Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, o hoje ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro
desanimou os políticos que o atacaram.
Conseguiu levar
o debate para o campo dialético, e a discussão acabou sendo sobre quem é contra
ou a favor da Lava-Jato, quem quer soltar bandido, o que favorece muito a sua
posição quando juiz da Lava-Jato.
Ficou claro que
o interesse do PT é apenas soltar o ex-presidente Lula, e com isso perde-se a
capacidade de contestar o ministro Sergio Moro. Apesar dos apelos dos partidos
de oposição, os petistas não conseguiram discutir o tema de maneira genérica,
colocando sempre em questão as condenações de Lula.
A oposição, por
sinal, não conseguiu se organizar para fazer com Moro o que fez com o ministro
da Economia Paulo Guedes, que acabou perdendo a paciência em momentos cruciais.
O ministro Moro
garantiu que não fez treinamento formal para a sabatina, mas estava bastante
tranqüilo na argüição, e teve a seu favor uma bancada em defesa da Lava-Jato.
Uma situação
curiosa é que, mesmo os oposicionistas, tentavam a todo custo garantir que não
estavam criticando a Operação Lava-Jato, sabendo que a sessão estava sendo
televisionada pela TV Câmara.
O que ficou
definido na audiência é que o crime cometido foi a invasão de celulares de
autoridades brasileiras. Moro fez bem ao negar que seja o Super-Homem que o representa
no boneco inflável que aparece nas manifestações e ontem foi colocado em frente
ao Congresso.
Mas o fato é que
enquanto contar com a credibilidade que a maioria lhe concede, e a Lava-Jato
for vista como a garantia do combate à corrupção pela população, o ministro
Sérgio Moro estará garantido.
É o que se chama
em linguagem militar Moral high ground. A origem é o conceito de que, para
vencer, há que conquistar os níveis mais altos do campo de batalha. É o que
Moro está fazendo, com sucesso, até o momento.
Inclusive afirmando, quase ao final da
audiência, que se for constatada alguma irregularidade, renunciaria ao cargo de
ministro. Pura retórica, mas eficiente, pois se surgirem irregularidades, ele
estará inviabilizado politicamente.
Moro repetiu com
gosto o título de um artigo de um professor de Harvard que dizia "O
escândalo que encolheu". A não ser que apareçam coisas verdadeiramente
graves, o escândalo, como apresentado pelo site Intercept e pela oposição, está
realmente esvaziado.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário