“Atenção,
escola!
Por Silvio Meira
Estudo sobre uso
de smartphones mostra que as pessoas mudam de atividade na tela a cada 20
segundos, em média, e quase nunca passam mais de 20 minutos fazendo a mesma
coisa. Mesmo que estejam vendo um filme longo. Voltamos à era da atenção
parcial contínua. “Voltamos” porque viemos de lá: pense num caçador, na
floresta. Ao sair para buscar o almoço, ele tem que estar atento, o tempo todo,
ao contexto ao seu redor, para não se tornar, ele próprio, o almoço de alguém.
Se só algumas
pessoas sofressem dessa síndrome da interrupção digital, já seria preocupante.
Mas estamos quase todos conectados. O Brasil tem 150 milhões de pessoas na
internet. Delas, 130 milhões estão nas redes sociais e no WhatsApp. Outro
estudo recente, feito em Israel, mostra que passam 145 mensagens por
usuário/dia. E isso não é nada: 58% das mensagens é respondida ou replicada em
menos de um minuto. Isso cria o efeito de um mundo imediato, onde estamos
“perdendo” alguma coisa a cada minuto longe de uma tela. Para muitos, uma
sensação de perda quase irreparável, que só pode ser resolvida com a entrega de
sua atenção à tela mais próxima, com o engajamento ao dispositivo onde está
“seu” mundo.
Na escola, há o
problema inverso: estudo da Gallup, de 2018, mostra que 47% dos alunos dos
ensinos fundamental II e médio são engajados com a escola. Outros 30% estão
desengajados, enquanto 23% ficam ativamente desengajados, atrapalhando seu
aprendizado e o dos colegas. Talvez não seja surpresa que só 30% dos
professores demonstram alto nível de engajamento com a escola.
Já é difícil
tirar os alunos do universo digital para experiências que primam por
criatividade, interatividade e possibilidade de uso prático. Imagine capturar a
atenção de quem é nativamente digital para uma aula de duas horas, fora do
contexto da vida real, com um professor repetindo lentamente o material que
está no livro. Muito difícil.
A escola e os
sistemas de ensino têm um gigante problema de engajamento. Não é só dos alunos,
mas também, dos professores, como a pesquisa do Gallup mostra. Até porque há
evidências de professores de periferias distantes, privados de condições, que
engajam alunos ao ponto de conseguir resultados mágicos em competições
científicas.
Enquanto o
sistema educacional se comportar como uma fábrica de conteúdos e avaliações
pela qual os alunos são forçados a passarem, rumo a um futuro desconhecido, sem
tempo para reflexão e sem destino... os alunos e, quase certamente, professores
vão achar as distrações digitais muito mais interessantes, senão mais
relevantes. Afinal de contas, tudo e todos estão lá e... para que eu estou
perdendo meu tempo nesta aula chata mesmo?”
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