“A arrancada de
Bolsonaro
Por William
Waack
O mundo político
preocupado em encontrar uma ampla saída para a crise desistiu de imaginar que a
relação entre os Poderes possa ser fundamentalmente distinta da atual. O
presidente Jair Bolsonaro oscila entre tapas e beijos no trato com o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, postura difícil de se chamar de “conduta tática” (se é
que existe um objetivo estratégico). É simplesmente ao sabor dos acasos quase
diários da política cotidiana. Portanto, de baixa previsibilidade.
Ocorre que é o
nó político que precisa ser desatado quando se pensa em qualquer questão
fundamental: gastos públicos, reforma tributária, insegurança jurídica.
Goste-se ou não das escolhas consolidadas nas urnas em outubro, é obrigatório
reconhecer que a onda disruptiva tornou ainda mais precário o funcionamento de
um sistema de governo que opõe um chefe do Executivo muito forte a um
Legislativo cheio de prerrogativas, mas fracionado e com partidos políticos
que, em sua maioria, nem merecem esse nome. Receita para um desgaste
permanente, de parte a parte.
Em outras
palavras, a transformação empurrada em boa parte pelo lavajatismo, e seu
esforço em estabelecer um controle externo ao sistema político, agravou o fator
de crise “estrutural” das instâncias que se mostram há muito tempo incapazes de
lidar com questões como a fiscal – para falar apenas do problema mais agudo de
curtíssimo prazo. O fenômeno é de amplo alcance e transcende os nomes de Jair e
Rodrigo (e de Toffoli também). Daí a forte desconfiança (total descrédito
talvez fosse a melhor expressão) com que foi recebido o tal “pacto entre
Poderes”. Fatores de longo e curto prazos combinaram-se para a atual tempestade
perfeita.
Essa tempestade
se caracteriza pela imensa dificuldade percebida em “arrancar” em alguma
direção – e não é por falta de diagnóstico ou de palavras. O ministro da
Economia, Paulo Guedes, foi apenas o último a dizer, na Câmara, na terça-feira,
que a economia está estagnada há muito tempo, que, sem reformas (além da
Previdência), o País não cresce, que a jovem força de trabalho precisa de
emprego e aumento de produtividade. E que ele preferia um novo pacto
federativo, descentralizador.
O problema é a
percepção de que pouco acontece nessa direção. Talvez voluntariamente Guedes
expresse uma noção que se amplia nas elites. O de que o nó político é muito
mais do que o “toma lá, dá cá” nas relações entre Executivo e Legislativo, nas
quais se concentra o já monótono noticiário político de cada dez minutos. Que a
corrupção é um problema importante, mas nem sequer o pior. Que a insegurança
jurídica, além dos problemas velhos do Judiciário, vem também de decisões
políticas do Supremo. E que no público em geral, descrente das instituições
(inclusive imprensa), cresce uma raivosa impaciência em relação a “tudo”.
Jair Bolsonaro
pode achar que essa raiva lhe favorece no ímpeto declarado de romper o nó
político. Por ele entendido até aqui na acepção mais reduzida, a do “toma lá,
da cá”. Conscientemente ou não, é formidável o dilema no qual o presidente se
colocou: respeitar e ao mesmo tempo desprezar as regras do “sistema” político –
que está falido na sua acepção mais ampla. Se ele acha que o dilema tem saída,
ainda não deixou exatamente claro com quais meios, além dos apelos à sua base
fiel. Nesta semana, quando atravessou a Esplanada e foi ao Congresso, foi falar
de pontos na carteira de motorista.
Enquanto a
“arrancada” da estagnação política e econômica sugerida pelos eventos de 2018
está se fazendo esperar.”
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