“O novo
programa do PT
Por Celso Ming
O principal
problema dos esboços de política econômica para um eventual governo PT é a
existência de importantes “não problemas”. Ou, se não isso, a existência de importantes
“quase não problemas”.
Não existe, por
exemplo, problema fiscal relevante, o mesmo que levou a presidente Dilma a
apelar para as pedaladas e, para daí, precipitar-se para o impeachment. A ideia
é queimar cerca de US$ 40 bilhões das reservas e financiar obras de
infraestrutura.
Não há problema
grave na Previdência Social. “Não é emergencial” – declarou nesta quinta-feira
à Folha de S. Paulo um dos formuladores
da agenda do PT, o economista Márcio Pochmann.
Também não
existe premência de profunda reforma tributária. Há, apenas, mudanças a fazer,
como reduzir a carga tributária do consumidor e aumentar a da propriedade e a
da renda, formulações por enquanto vagas. Não mencionam o problema do
desemprego nem como enfrentá-lo.
Principal
articulador do programa, o ex-prefeito de São Paulo e possível candidato à
Presidência Fernando Haddad resume a plataforma em três reformas: a da Justiça,
a bancária e a das regras dos meios de comunicação.
O objetivo da
reforma da Justiça é criar outros mecanismos para o preenchimento das vagas nos
principais tribunais. Pretende dar fim à prisão após julgamento em segunda
instância e, aparentemente, exercer controle externo sobre o Judiciário e o
Ministério Público. Na prática, percebe-se manobra para bloquear a Operação
Lava Jato e a luta contra a corrupção.
A reforma
bancária também está eivada de um “não problema”. Os formuladores do PT só têm
olhos para os altíssimos spreads praticados nas operações de crédito pelos
bancos. E sugerem que a aberração (que não pode mesmo ser ignorada) seja
combatida com dosagens tributárias, que estimulem os financiamentos mais
acessíveis. Não conseguem ver o problema de fundo, que é o comportamento
oligopolista, que concentra 78,5% do crédito em apenas quatro bancos, dois dos
quais estatais. Tampouco mencionam a escalada das tarifas dos serviços
bancários cobrados dos clientes, também consequência do oligopólio.
A ideia da
reforma da mídia repete mantra do PT, que tenta controlar a Rede Globo,
supostamente para dar “choque liberal antipatrimonialista” que garanta o
pluralismo. O objetivo claro é tutelar a informação e, assim, derrubar um dos
pilares da Constituição, que é a liberdade de imprensa. No mais, se é para
desfazer a concentração, melhor ir além e conter a oligopolização de Google e
Facebook, que caminham para controlar a maior parte das verbas publicitárias e,
portanto, da capacidade de financiamento dos meios de comunicação.
A proposta de
usar as reservas pode ser um tiro no pé. Se for para usá-las, seria preciso
vendê-las e isso implicaria enfrentar aumento da oferta do dólar internamente
(valorização do real); se for para gastar os dólares no exterior, é preciso
explicar como investi-los na economia interna. Dizer, simplesmente, que a
Petrobrás poderia usá-las para importar equipamentos desconsidera as reais
condições de endividamento da empresa.
A plataforma
completa do PT deverá ser divulgada nas próximas semanas. Mas o que já foi
divulgado ignora duas coisas: primeira, como os graves erros da política
econômica do governo Dilma serão reconhecidos e definitivamente afastados; e,
segunda, como evitar que esse novo projeto deixe de ser dirigista.”
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