“Percepções do
novo
POR DENIS
LERRER ROSENFIELD
O novo é
percebido de diversas maneiras. Não há um sentido unívoco que seja compreendido
pela opinião pública e pelos diferentes atores políticos. Cada um veicula a sua
própria noção ao sabor das conveniências e das circunstâncias.
Nos últimos
anos e, sobretudo, nos últimos meses fomos tomados pela ideia de que a
sociedade brasileira estaria em busca do “novo” na política, sem que haja uma
maior precisão a respeito. O que disso mais se aproxima é o desejo generalizado
pela moralidade pública. É como se a vida do País se reduzisse à luta contra a
corrupção, relegando a segundo plano as questões relativas às reformas de que o
Brasil tanto precisa.
Até
recentemente, o “novo” foi também identificado à entrada de outsiders na
política, como se estivéssemos diante de uma novidade que poderia alterar o
rumo das coisas. Alguns saíram, inclusive, com uma boa popularidade inicial em
pesquisas de opinião, porém logo abandonaram a seara pública. A política tem
agruras, violências e obstáculos que fazem com que mesmo os mais
bem-intencionados não resistam ao seu teste inicial.
A questão
reside em que medida o anseio social pelo novo se traduz por intenções de voto.
Uma coisa é o desejo generalizado por mudanças, outra muito distinta é a sua
concretização em escolhas propriamente eleitorais.
Haveria um
descompasso entre a demanda de renovação política, assumida teoricamente pela
sociedade, e as escolhas que se apresentam do ponto de vista
político-partidário. A Lava Jato tornou-se um símbolo por encarnar a luta
contra a corrupção, mas as intenções de voto, em boa parte, estão dirigidas à
perpetuação de personagens políticos e partidos que são símbolos desta mesma
corrupção.
A política é
percebida por um setor importante da opinião pública como um lugar de tráfico
de influências e de negociatas dos mais diferentes tipos, relegando o bem comum
a uma posição subalterna. Identifica-se a velha política à atual classe
dirigente, responsável por desvios e apropriação privada de recursos públicos.
Portanto, a nova política deveria ser uma espécie de redenção da velha,
salientando-se os aspectos de moralidade pública como sendo os mais relevantes.
Ocorre,
contudo, que os problemas nacionais não se reduzem a uma visão que se esgotaria
no combate pela moralidade pública, mas colocam na ordem do dia a urgência de
reformas, cuja ausência pode conduzir o País a uma situação de insolvência.
Entretanto, a necessidade de reformas não é percebida por um setor importante
da sociedade como sendo algo indispensável. Ela mais bem representaria uma
forma da “velha política”, e não da “nova”.
Vejamos
sucintamente como se articulam estas relações entre a percepção do “novo” e do
“velho” nas intenções de voto para a Presidência da República em algumas das
candidaturas com maiores chances eleitorais.
O deputado Jair
Bolsonaro está sendo o desaguadouro de boa parte da insatisfação da sociedade,
por encarnar o “novo” na luta contra a corrupção e contra a atual classe
política. Não importa, para esse efeito, que ele não seja um outsider, mas
alguém com uma longa trajetória parlamentar. Ele conseguiu consolidar a imagem
de que não guarda nenhuma relação com a atual classe política, recusando-se a
qualquer aliança política que possa denegrir essa percepção. Seja dito a seu
favor que o seu passado parlamentar é limpo do ponto de vista de atos de
corrupção. Encarna, nesse sentido, na perspectiva da moralidade pública, o “novo”
e o descompromisso com a atual classe política. Ademais, no contexto de
descalabro nacional da segurança pública, sua luta contra a criminalidade
aparece também como algo “novo”, tendo em vista a desatenção a este problema
por todos os governos desde a redemocratização. Do ponto de vista econômico,
não tem apresentado o seu programa de governo, embora venha sinalizando pela
escolha de seu ministro da Fazenda, caso eleito, para posições de tipo liberal.
Estaria, hoje, mais para o governo Castelo Branco do que para o governo Geisel.
O poste de
Lula, seja quem for o(a) ungido(a), tem boas chances de estar presente no
segundo turno, dada a forma empregada pelo PT para instrumentalizar as
orientações do ex-presidente. Ocorre, aqui, um fenômeno particularmente interessante,
pois são Lula, Dilma e o PT os principais responsáveis do descalabro fiscal,
dos graves problemas econômicos e sociais do País, além de serem os principais
atores dos crimes de corrupção. Isto é, a escolha pelo preposto de Lula seria
uma opção pela “velha política”, apesar de ser apresentada como ideologicamente
palatável graças a uma suposta luta por “direitos sociais”. Do ponto de vista
econômico, o PT posicionou-se contra qualquer agenda reformista, contentando-se
com a repetição dos velhos chavões de outrora.
O candidato
tucano está, por sua vez, atravessado por contradições importantes. Para ganhar
tempo de televisão, optou por uma composição partidária que em tudo reproduz à
do atual governo, cuja impopularidade em boa parte reside nestas mesmas
alianças. Geraldo Alckmin teria, então, feito uma escolha pela “velha
política”, distanciando-se de um eleitorado que clama pela “nova política”.
Aliás, foi este mesmo o discurso utilizado pelos tucanos para se distanciarem
do atual governo. Perdeu, nesse sentido, o discurso da “nova política”, além de
ter em seu partido vários ex-dirigentes envolvidos em investigações e
condenações. Do ponto de vista econômico, sua agenda apresenta-se como
reformista. Ocorre, porém, que os tucanos nos últimos meses se posicionaram
frequentemente contra a agenda reformista do atual governo, vindo, inclusive,
em vários momentos a torpedeá-la. E o fizeram dizendo que não aceitavam os
métodos utilizados, isto é, os mesmos que estão sendo escolhidos atualmente nas
novas alianças partidárias.
Qual é, então,
o sentido das mudanças exigidas pela sociedade? Vão para “algo novo” ou visam
ao restabelecimento do “velho”?”
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AGD
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