“Sul, o
queridinho da vez
Por Eliane
Cantanhêde
As novidades da
eleição de 2018 vêm sendo todas derrubadas, mas eis que surge uma de onde menos
se esperava: os vices não saíram nem do Nordeste nem de Minas Gerais. A turma
deixou de dar murro em ponta de faca para arrancar votos nordestinos do PT, e o
PSDB avalia que os votos mineiros estão em boas mãos com o tucano Antonio
Anastasia disputando o governo.
Se há algum
vice nordestino no primeiro pelotão é Eduardo Jorge (PV), na chapa de Marina
Silva (Rede), mas ele só nasceu na Bahia e fez toda sua vida política em São
Paulo, que tem 33 milhões de eleitores.
Prevaleceu a
corrida pelo forte e desconfiado voto feminino, que soma 52% do eleitorado e a
tentativa de evitar a dispersão dos 21,4 milhões de votos do Sul entre os
presidenciáveis. Nada menos que quatro candidatos a vice são do Rio Grande do
Sul: Ana Amélia (PP), de Alckmin; Manuela d’Ávila (PCdoB), de Fernando Haddad,
ops!, de Lula; Germano Rigotto, de Meirelles; Hamilton Mourão, de Bolsonaro.
A lógica da
escolha da senadora Ana Amélia é clara, porque ela tem o objetivo de segurar as
traições do PP, recuperar os 4% de intenções votos de Alvaro Dias (Podemos) no
Sul para o PSDB e evitar que a tropa sulista marche para Bolsonaro. Três dos
ex-presidentes do regime militar eram gaúchos: Costa e Silva, Emílio Médici e
Ernesto Geisel.
Aliás,
Bolsonaro teve de tudo para vice, de príncipe a astronauta, de pastor a
general, de socialite rica à advogada Janaína Paschoal, mas ele acabou chovendo
no molhado. O que o general Mourão acrescenta à chapa do capitão Bolsonaro? E
quem bate continência para quem? A chapa miliar “puro-sangue” pode até segurar
as intenções de votos recolhidas até aqui, mas dificilmente amplia o seu
horizonte.
Do outro lado
do espectro político, o PCdoB jurou que iria com candidata própria para a
Presidência pela primeira vez, depois de ficar sempre a reboque do PT, e chegou
até a fazer convenção em Brasília para lançar Manuela Dávila. Acreditou quem
quis.
Mais esta
“novidade” foi por água abaixo quando o PCdoB desistiu da gaúcha para continuar
sendo satélite do PT. Criou, assim, uma figura interessante: a vice do vice.
Como assim? Manuela deixou de ser candidata a presidente para ser vice do
ex-presidente Lula, que, como todos sabemos, está tecnicamente impedido de
disputar. Então, Manuela é vice de Haddad, que é “vice de Lula”. O teatro
continua.
Ciro Gomes,
jogado às traças por Lula, pelo PT, pelo PSB e pelo DEM, teve de se contentar
com uma chapa puro-sangue, mas só em se tratando de partido, não exatamente de
ideologia. Ciro é do PDT, sua vice Kátia Abreu também. Mas Ciro jura que é de
esquerda e tudo que Kátia Abreu não é, e nunca foi, é de esquerda. Trata-se de
uma líder ruralista competente e determinada, que se elegeu para o Senado e já
presidiu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Sua única e
fugaz incursão pela “esquerda” foi o voto passional contra o impeachment da
amiga Dilma Rousseff, o que jogou Kátia num limbo ideológico: perdeu toda a
força política que realmente tinha na CNA e no mundo do agronegócio e nem por
isso ganhou apoio, simpatia e cumplicidade nas esquerdas, nem mesmo no PT.
É assim que,
depois de tanto se falar em Joaquim Barbosa, João Doria, Luciano Huck, Flávio
Rocha e Paulo Rabello de Castro, a eleição afunila para políticos experientes e
tradicionais. E não me venham dizer que Bolsonaro não é político, depois de um
quarto de século na Câmara dos Deputados e com três filhos na política.
Com esse fim
das “novidades”, já não é mais impossível o velho e conhecido Fla-Flu entre PT
e PSDB. Ainda tem muito jogo, mas parece até cada vez mais provável.”
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AGD
comenta:
Já
fazia um tempo que o Nordeste não era esquecido no jogo presidencial. Mesmo
quando não havia ninguém na chapa presidencial, de forma pura, havia de Minas
Gerais que é ainda uma parte da nossa região, esquecida por Deus e seca por
natureza. Lembrem que Dilma é mineira.
O
Nordeste agora briga entre si para ganhar o seu quinhão nas eleições, mas, apenas
para o Congresso e Governadores. A moda agora, como diz o texto acima, é o Sul
do país. Isto em parte é bom. Deixamos, pelo menos oficialmente, de ser comprado
por uma chapa só. Hoje nos vendemos a quem der mais. Será?
Penso
que, no final, vai dar outra vez PT versus PSDB, pois ainda são os únicos que
ainda tem candidatos suficientes, não presos ou pegados pela Lava Jato, que
podem fazer a diferença. O jogo está totalmente aberto, mas, pelo jeito, a
ameaça da volta da SUDENE ainda paira sobre nós. O NOVO ainda estará longe de
chegar para nós.
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