Por Zezinho de Caetés
Lá na minha terra tem um ditado
que diz: “Em casa de enforcado não se
fala em corda!”. E ontem falaram em “corda”
na casa do Renan. Então, não deu outra. Ele se superou.
Depois que da Câmara Federal
pariu o monstro do “projeto de
intimidação” (segundo os procuradores, que agora estão com medo) durante a
madrugada, o Renan, logo à noite quis pegar carona nele, com aquela cara de bom
moço, e pediu urgência para discutir o projeto monstrengo.
Nada demais se não fosse sua
aleivosia em não dizer aos senadores presentes do que se tratava a urgência.
Mas, alguns senadores que não tem medo de “corda”
nem estão à beira do enforcamento, descobriram a artimanha. Foi um verdadeiro
horror, digno de filmes do Zé do Caixão.
De um lado, o Renan queria
continuar com a pantomima da urgência, e do outro, alguns senadores o
contestavam, mostrando que se fosse aprovada a urgência não haveria cadafalso
para todos. E o presidente do Senado, que já está nela há muito tempo, queria
mesmo era se safar, levando a intimidação do judiciário ao ponto máximo.
Como sabemos, a menina de ouro do
senador alagoano é um tal de “abuso de
autoridade”. Ele quer porque quer enquadrar o Judiciário numa camisa de
força que apenas levará um grande benefício àqueles que praticaram malfeitos e foram
pegos pela Lava Jato. E, continuou usando de sua prerrogativa de presidente
para quase impor a urgência na passagem do “monstro
da intimidação”. E teria conseguido se não fosse o senador Cristovão
Buarque dizer que ele estava abusando de sua autoridade, ao tentar lutar contra
o abuso.
Depois de idas e vindas, “Vossa Excelência é um cachorro” para cá,
“Vossa Excelência é a merda dele”
para lá, foram votar a urgência. E o Renan se deu mal. Perdeu a votação, com
votos a favor da urgência de um monte de gente que está encalacrado na Lava
Jato. O pedido de urgência foi derrotado por um placar de 44 x 14. Com a
abstenção de Kátia Abreu, que está doida para se ver livre do fantasma de Dilma
e ainda não conseguiu.
Dos 14 que votaram a favor, 7
estão na Lava Jato (Valdir Raupp, Benedito de Lira, Ciro Nogueira, Fernando
Coelho, Fernando Collor, Humberto Costa, e, imaginem, o Lindberg Farias).
Pensamos que os outros não estavam sabendo o que estava acontecendo. Com a votação
nominal tudo muda. Os gatos deixam de serem pardos e os ratos se tornam
cintilantes.
E então terminamos mais um dia de
nossa república, o que devemos dar graças a Deus. Hoje já é outro dia e não
posso me estender pois tenho que me preparar para o duelo Renan x Moro no
Senado. Ainda não sei quem será o preparador físico deles, mas, que a luta
promete, promete!
Aliás, não ouvi ainda o
depoimento do meu conterrâneo Lula ao Sérgio Moro, ontem, por vídeo
conferência. Mas, já prevejo as bravatas do pobre inocente. “Me engana que eu gosto!”. Certamente ele
tentará culpar o Moro por não ter ido acompanhar as cinzas do companheiro Fidel,
que estão zanzando pelas estradas cubanas a procura de quem as queiram.
E aproveito mais uma vez as
cinzas de ditador para transcrever um texto do Demétrio Magnoli, no qual ele
mostra a utopia esquerdista totalitária de um forma que merece ser conhecida.
Só para que não deixem de ler, termino com um trechinho do que vem lá embaixo,
com o título de “O copo da utopia”.
“As lições sobre o medo estão à mão, em incontáveis relatos. Um exemplo
é suficiente. O dissidente soviético Natan Sharansky tinha 5 anos quando morreu
Stalin. Seu pai explicou-lhe, então, “que Stalin era uma pessoa horrível, que
matou muitas pessoas”, mas pediu-lhe a maior discrição: “Faça o que todo mundo
fizer”. Natan obedeceu. “Fui para a escola e chorei junto com todas as crianças
e cantei com todas elas as músicas que diziam quão grande foi Stalin”. A
dissociação entre o gesto público e o privado, entre o que se diz e o que se
pensa, é uma marca inconfundível da vida cotidiana nos regimes totalitários.
Sharansky: “Isso é como funciona a mente de um cidadão leal, você faz tudo o
que te mandarem fazer. E, ao mesmo tempo, você sabe que tudo é mentira.””
Quase ficamos leais ao PT e ao
Lula. A Lava a Jato nos salvou, graças a Deus. Fiquem com o Magnoli:
“Visitei Cuba em 1994, no auge do
Período Especial, o termo orwelliano escolhido pelo regime castrista para
batizar a crise trágica derivada da implosão da URSS. Casualmente, encontrei-me
em Havana com uma ex-aluna, que estava furiosa com um motorista de táxi
atrevido o suficiente para queixar-se do governo. A jovem brasileira, encantada
com o mito da Revolução Cubana, pensava em denunciar à gerência do hotel (isto
é, na prática, ao governo) o taxista que “manchava” a “imagem de Cuba”.
Lembrei-me do episódio acompanhando a cobertura da morte de Fidel Castro. Com
honrosas exceções, a imprensa prestou lealdade ao ícone revolucionário, virando
as costas, em indisfarçável desprezo, aos cubanos comuns.
Os jornais encheram-se de
declarações de estadistas, inclusive de nações democráticas, prestando
homenagem a uma figura que, “embora controvertida”, teria desafiado o
imperialismo, promovido a soberania de Cuba e oferecido justiça social a seu
povo. Nas capas e nos textos internos, sobraram palavras épicas, especialmente
“História” e “Revolução”, que costumam ganhar o adorno da inicial maiúscula. Na
TV, de correspondentes brasileiros, ouvi panegíricos a Fidel que seus próprios
aduladores cubanos já têm vergonha de entoar. Tanto quanto os estadistas, os
jornalistas beberam avidamente no copo da utopia, enterrando a realidade
factual sob pilhas espessas de sentenças ideológicas.
Fidel entrou no barco de Caronte,
na derradeira jornada rumo ao submundo, exatos 60 anos depois de embarcar no
iate Granma, na madrugada de 26 de novembro de 1956, para a viagem que conduziu
seu grupo de revolucionários do México à Sierra Maestra. Durante mais de meio
século, os nomes “Cuba” e “Fidel” foram pronunciados juntos, como se a nação
fundada por José Martí não pudesse existir sem seu supremo “Comandante”. Mas,
confundindo os repórteres, o peso incalculável dessa história não produziu
cenas dramáticas, emocionais, nas ruas de Havana.
Queria-se luto fechado, dor
lancinante, declarações de amor incontido. No lugar disso, os estrangeiros
testemunharam um país anestesiado: ruas mais ou menos vazias, uma normalidade
sem buliço ou bebidas alcoólicas, a resistência a conceder entrevistas, parcas
declarações estandardizadas. Os repórteres fingiram não ver o medo — e se
recusaram a espiar dentro dos lares. Na segurança dos espaços privados, longe
dos ouvidos de vizinhos nem sempre confiáveis, pronunciaram-se frases
inconvenientes, abriram-se garrafas de rum, alguns até mesmo brindaram. Os
jornalistas deveriam saber que Cuba, afinal, não é o equivalente de Fidel.
As lições sobre o medo estão à
mão, em incontáveis relatos. Um exemplo é suficiente. O dissidente soviético
Natan Sharansky tinha 5 anos quando morreu Stalin. Seu pai explicou-lhe, então,
“que Stalin era uma pessoa horrível, que matou muitas pessoas”, mas pediu-lhe a
maior discrição: “Faça o que todo mundo fizer”. Natan obedeceu. “Fui para a
escola e chorei junto com todas as crianças e cantei com todas elas as músicas
que diziam quão grande foi Stalin”. A dissociação entre o gesto público e o
privado, entre o que se diz e o que se pensa, é uma marca inconfundível da vida
cotidiana nos regimes totalitários. Sharansky: “Isso é como funciona a mente de
um cidadão leal, você faz tudo o que te mandarem fazer. E, ao mesmo tempo, você
sabe que tudo é mentira.”
Nos dias seguintes à morte de
Fidel, o regime castrista prendeu, uma vez mais, o grafiteiro El Sexto, que
desenhara numa parede a frase “Já se foi”, e proibiu um encontro do Centro de
Estudos Convivência, um grupo apartidário, cuja pauta era discutir perspectivas
sobre a educação e a cultura em Cuba. As duas notícias, tão reveladoras, quase
não apareceram na imprensa internacional, devotada a entrevistar, interminavelmente,
o “cidadão leal” que faz tudo o que os outros fazem. Os jornalistas prestam
homenagem à História, traindo seu compromisso profissional de contar histórias.
O britânico “The Guardian”, um
jornal de referência, publicou uma reportagem convencional, pontilhada de
declarações de praxe de cubanos comuns, geralmente elogiosas ao “Comandante”.
Na nota de rodapé, esclarece-se burocraticamente que os nomes dos entrevistados
foram ficcionalizados. O “cidadão leal” teme ver seu nome reproduzido em páginas
impressas, quando fala de Fidel, mesmo se o elogia — e isso não faz soar um
alerta entre os repórteres, redatores ou editores! No caso singular de Cuba, a
imprensa normalizou as engrenagens do totalitarismo, tratando-as como um relevo
habitual da paisagem.
“A História me absolverá”,
vaticinou Fidel em 1953, da cadeira de réu no julgamento em que foi condenado
pelo ataque ao quartel Moncada. O jovem Fidel invocava a história para
enfatizar a carência de legitimidade dos juízes que serviam à ditadura de Fulgêncio
Batista. Mas a curiosa ideia da História como um tribunal de última instância,
o equivalente comunista do Juízo Final dos cristãos, cumpre a função de uma
assepsia moral. Diante da imponente Senhora Juíza, qual é o valor de nossos
princípios políticos ou de nossa bússola ética? Na sua maioria, os analistas da
imprensa inclinaram-se, respeitosamente, à exigência castrista do julgamento
pela História, um privilégio que, com razão, jamais concederam a tantos outros
ditadores.
A Cuba castrista justificou a
ditadura em nome da proteção de um sistema econômico socialista. Hoje, o
próprio Raúl Castro admite a falência desse sistema e promove reformas de
mercado — mas conserva, a todo custo, o poder ditatorial do Partido Comunista.
O copo da utopia secou antes da morte de Fidel, quando o regime decidiu
substituir o socialismo selvagem por um capitalismo simetricamente selvagem,
que não abrange liberdades políticas, autonomia sindical ou direitos
trabalhistas. Teimosos, porém, os jornalistas continuam reunidos em torno de um
copo vazio.”
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