Por Zezinho de Caetés
Hoje dei graças a Deus não ser um
especialista em juridiquês. Pelo que
leio, em português mesmo, os poderes da república estão em guerra e, agora,
usando os seus maiores canhões.
Já comentei aqui sobre o reinado
do Renan, dado pelo próprio STF. Ontem, o rei cangaceiro das Alagoas, tentou
mais uma vez forçar a barra e aprovar o projeto de lei do “abuso de autoridade”, abusando de sua autoridade, na guerra contra
o Judiciário. Mas, bastou a Simone Tebet para mostrar que o rei estava nu e o
que ela viu não lhe apeteceu. Falou bonito, a jovem senadora.
Não houve outra alternativa ao
rei pelado do que pedir uma toalha e sair pela tangente. Por enquanto, o abuso
de autoridade continua como sempre foi. Ouvi também o Requião, a Tia Véia, que
pelo seu empenho em aprovar o projeto junto com o Jader Barbalho, e, pasmem, o
Humberto Costa, parece que já sabe do próximo vazamento da Lava Jato, e ele não
escapa.
Estas foram algumas das
peripécias do Poder Legislativo na guerra sem fronteiras entre os poderes. O
Temer, coitado, foi citado tantas vezes pela Odebrecht que ontem não conseguiu
entrar na briga.
Foi o ministro Luiz Fux, do STF,
que entrou na guerra, com tudo. Pelo que li, se o que ele fez for à frente, se
entendi bem, ele simplesmente anulou uma decisão autônoma do Legislativo, ou
seja, acertou um canhonaço na testa de Marco Maia, mandando-lhe um recado curto
e grosso: “Faça as coisas direito, cabra!!!”.
Transcrevo o trecho do Reinaldo
Azevedo, lá embaixo, onde ele no título já diz: “Fux cede liminar absurda e,
sem querer, anula lei da Ficha Limpa”. Se ainda sei ler em português e o
jornalista estiver certo, não digo como ele que estamos fritos, mas, que a
Democracia está frita neste país, no
qual, o ranço coronelista é tão forte que até “poder” quer mandar em “poder’.
O que realmente espero, com meu
otimismo pomposo, é que se faça uma trégua de Natal e Ano Novo, para que o
trenó de Papai Noel não evite o Brasil, como os americanos e europeus já estão
fazendo. Se for para visitar “república
bananeira”, eles agora preferem visitar Cuba, que ficou com os ares mais
limpos depois que o Fidel foi-se.
E fico por aqui, porque hoje
ainda os poderes não entraram em recesso. Vamos ver se alguém ainda atira hoje.
“O ministro Luiz Fux, do Supremo,
fez uma barbaridade de tal vulto que, se endossada por seus pares, torna
simplesmente sem efeito a Lei da Ficha Limpa, entre outras coisas. Não que a
dita-cuja seja um exemplo técnico a ser seguido, claro… A ação do ministro não
é deletéria só por isso. O doutor decidiu, agora, ser bedel de deputado. Pior:
ancora sua posição em leis ou regulamentos inexistentes. Mais grave ainda: abre
um novo capítulo da guerra entre o Poder Judiciário e o Poder Legislativo.
Estamos diante de algo inédito.
O que fez o doutor? Vamos lá.
Concedeu liminar numa ação
impetrada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) tornando sem efeito a
votação do tal pacote anticorrupção na Câmara. Isto mesmo. Segundo Fux, nada do
que os deputados votaram tem validade. Ele quer que tudo volte à estaca zero.
Talvez alguns ingênuos comemorem.
Será a comemoração do choque entre Poderes.
Como se sabe, as propostas feitas
pelo Ministério Público, transformadas em emenda de iniciativa popular, foram
substancialmente mudadas pelos deputados. Nem vou agora entrar no mérito.
Pode-se gostar ou não delas, mas se trata de uma das Casas do Legislativo exercendo
as suas prerrogativas.
Em que se ancorou Fux para dar a
sua liminar? Afirmou que o Supremo já considerou inconstitucional a inclusão em
Medida Provisória de matéria estranha ao objeto da dita-cuja. É verdade! Ocorre
que Medida Provisória, cujos efeitos são imediatos, é coisa distinta de projeto
de lei.
E o que seria matéria estranha ao
projeto, segundo o ministro? Ele responde: o “título que dispõe sobre crimes de
abuso de autoridade de magistrados e membros do Ministério Público, além de
dispor sobre a responsabilidade de quem ajuíza ação civil pública com (…)
manifesta intenção de promoção pessoal ou visando perseguição política”.
Como sempre, lá está o tema da
guerra do Judiciário contra o Legislativo.
Até aqui, o ministro já foi longe no absurdo, mas ainda não escancarou a
loucura.
Ele disse também ser sem efeito a prática de
deputados adotarem como sua a emenda de iniciativa popular. Ora, recorre-se a
esse instrumento para tornar viável a tramitação do texto. Do contrário, seria
preciso verificar, por exemplo, a veracidade de todas as assinaturas.
Não foi, assim, então, com a Lei
da Ficha Limpa? Também ela era de “iniciativa popular”. Também ela foi adotada
por parlamentares. Também ela foi emendada.
Aliás, se formos ser rigorosos,
nem a Ficha Limpa nem o Pacote Anticorrupção tiveram origem no povo. O primeiro
surgiu de um movimento liderado pelo advogado Márlon Reis, e o segundo nasceu
no Ministério Público Federal. Nos dois casos, os signatários foram usados,
vamos dizer, como “laranjas do bem”.
O que pretende Fux? Que um
projeto dito de inciativa popular não possa nem ser emendado? Ou é aprovado ou
é rejeitado na íntegra?
Evidentemente, a Mesa da Câmara
entrará com um agravo regimental contra a decisão de Fux, que deve ser
derrubada pelos demais ministros. Se endossada, aí bastará um dos punidos pela
Lei da Ficha Limpa recorrer ao Supremo para tornar sem efeito não aspectos do
texto, mas ele inteiro.
Não custa lembrar que políticos
eleitos já perderam o mandato em razão de tal lei. E aí? Acontece o quê?
Estamos fritos!
Olhem, meus caros, estamos
fritos. As coisas caminham por terrenos muito perigosos. O baguncismo está
chegando também ao Supremo. Daqui a pouco, vou falar de Marco Aurélio…
De resto, digamos que o projeto
fosse aprovado como está e sancionado pelo presidente, tornando-se lei. Havendo
lá aspectos de constitucionalidade duvidosa, aí, sim, recorrer-se-ia, então, ao
Supremo com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, por exemplo.
Rodrigo Maia reagiu com correção:
“Isso significa que, se o ministro Fux tiver razão, a Lei da Ficha Limpa não
tem valor, não vale mais. A assessoria da Câmara está analisando, mas,
infelizmente, me parece uma intromissão indevida do Poder Judiciário na Câmara
dos Deputados”.
Indevida e escandalosa.”
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