Por Zezinho de Caetés
Ontem, como previsto, passei a
tarde ouvindo “justiça”, ou
procurando-a. Ou, pelo menos, era assim que eu pensava quando sintonizei a TV
Justiça para ouvir os nossos supremos magistrados sobre o que eles achavam do
Renan Calheiros.
Confesso que na maioria das falas
dos doutos juristas eu só entendia o latim, que é de minha área, apesar de não
praticá-lo por muitos anos. Penso até que, hoje, nem padre fala mais latim.
Todavia, ela ainda é a língua do STF. E o que vi e depois recebendo tradução
simultâneo de quem entende de juridiquês,
talvez, esta língua morta faz jus àquele preclaro conselho.
O que mais ouvi foi “periculum in mora”, que literalmente significa
“perigo na demora”. Em juridiquês
profundo que dizer aquela ação que um magistrado tem que tomar para que a
demora não cause dano. No caso, seria, como soube depois, o STF tinha que tomar
providências senão o Renan pisava mais forte nos rabos de muita gente, ou pelo
menos, apertava no nó dos rabos presos.
Outra coisa que falaram o tempo
todo foi “fumus boni iuris”, que
qualquer leigo em latim poderia traduzir para o português como “se brincar levamos fumo”. Mas, o
verdadeiro literal sentido é “fumaça do
bom direito”) o que significava, no caso de ontem, que Renan estava pedindo
o que realmente tinha direito, ou seja, o trono da República. Se ele vai se
tornar fumaça, aí já é outra história.
Eu revivi mentalmente aquele
programa antigo do Jô Soares, em que ele vestido como um anãozinho coroado
perguntava aos súditos: “Quem sou eu?
Quem sou eu? Quem sou eu?” e a turba respondia: “Sois rei! Sois rei! Sois rei!”. (Ver vídeo lá embaixo)
E, depois de ouvir o Procurador
Geral da República dizer que agora em nosso país, de verdade, “o pau que dá em Chico, tem que dá em
Francisco”, e Marco Aurélio dizer que a justiça havia sido conspurcada na
pessoa de um oficial de justiça pelo presidente do Senado, eu não tive dúvida:
agora a coisa vai. O Francisco vai levar uma camada de pau daquelas.
Eis, então, que surge o decano
Celso de Melo, e tome “periculum in mora”
e “fumus boni Iuri”, e Renan começava
a ser ungido como rei. Só faltou ele repetir: “Sois rei!”, como no humorístico supra citado.
E a partir daí os votos dos
outros ministros, com exceção de 2, que talvez não estivessem na hora do
acordo, lá nos camarins, todos seguiram o decano. Dentro de mais 2 longas e
intermináveis horas de latim, salvaram-se todos. Temer vai ter o que quer,
Jorge Viana não teve o que não queria, ou seja, assumir a presidência, o STF
continua no STF falando latim e o Lindberg tem seu discurso de volta: “Abaixo o Brasil!”.
Então, pensando bem, ontem foi um
dia em que a política reinou enquanto a justiça ficou lá, vedada e com a espada
embainhada. Quem não ficou bem fui eu e mais alguns milhares de pessoas que
fomos às ruas pedir a saída do Renan. Mas, não nos intimidemos com isto.
Voltaremos às ruas, até que aprendamos a fazer política como fez nosso Tribunal
maior, ontem.
E, hoje, a vida política seguirá
seu curso, com o rei réu Renan presidindo o Senado, mas, não podendo assumir a
presidência da república, deixando de ser um herdeiro do trono maior de
presidente, como foi decidido ontem pelo STF. Ou seja, temos que proteger a
presidência de um réu, mas, o Senado não. Será que algum senador vai se meter a
besta e pedir para Renan sair, nas sessões que falta para julgar os projetos
que, segundo prometem, salvarão o Brasil?
Eu não creio, e só pelo meu
otimismo contumaz é que acredito que este país um dia será uma grande
Democracia dentro de um Estado de Direito, ou vice-versa. Se eu dissesse
também, liberal na economia, seria a glória, mas, já estaria pedindo demais, no
momento, observando o que se passou ontem.
Só posso terminar estas mal
traçadas linhas falando latim, para expurgar o espírito maligno que o PT deixou
pairando no nosso país: “Vade retro,
satana!”
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