Por Zezinho de Caetés
Eu já estou saindo da política e
entrando no clima de Natal. E estou cada vez mais a reboque dos outros para
publicar aqui no Blog. Li hoje no O Globo um texto do Hubert Alquéres, com o
título: “A caserna e a crise”, e o
transcrevo lá embaixo, sem acrescentar muito neste nariz de cera, por
desnecessidade.
O meu espanto aqui é que, fora
alguns “tresloucados”, durante esta
crise toda não está em pauta intervenção militar, a não ser da polícia para
conter a fúria de petistas em extinção. Nossas Forças Armadas, estão nos
quartéis, e, provavelmente, também já curtindo os festejos natalinos.
Para quem viveu ou estudou
história do Brasil, que é, praticamente, uma sucessão de golpes militares, é
até estranho. Mas, só nos resta festejar nossa entrada no mundo civilizado pelo
menos neste aspecto.
Já diziam antigamente que se pode
construir um trono com baionetas mas não se pode sentar sobre elas. E aqui no
Brasil, muitos tentaram e, felizmente, furaram a bunda. E hoje, como é citado
abaixo, o comandante do Exército também chegou a esta conclusão dizendo:
“Aprendemos a lição (referindo-se aos 21 anos de ditadura). Estamos
escaldados!”
Isto porque é um homem educado e
não quis falar dos buracos que as baionetas fizeram na própria instituição
militar. Como vimos durante todo este tempo que se seguiu ao pós anistia,
nossas instituições militares foram vistas como uma inimiga, quando na realidade
estavam apenas se reciclando para assumir ser verdadeiro papel que é o que está
na Constituição.
Fiquem com o Hubert e salve os
novos tempos brasileiros, apesar da crise! E que venha o Natal.
“Fosse em outras eras, a recente
entrevista do Comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, teria sido
noticiada de forma bombástica pelo noticiário televisivo. Certamente os jornais
estampariam manchetes com letras garrafais, do tipo “Comandante do Exército
repele incursão de vivandeiras”.
Felizmente os tempos são outros.
O país não fica mais em suspense quando um chefe militar se pronuncia, jornalistas
não consomem mais o seu tempo para interpretar o almanaque do exército. O termo vivandeiras entrou em desuso, saiu de
moda.
A grande notícia da entrevista do
general é que não há notícia.
A maior crise da nossa história
passa ao largo dos quartéis, a despeito de, nas palavras de Villas Bôas, uns
“tresloucados, esses malucos” que “vem aqui e perguntam: ‘Até quando as Forças
Armadas vão deixar o país afundando. Cadê a responsabilidade das Forças
Armadas?”
Como ontem, ainda há quem ronde
os quarteis. Diferentemente do passado, as vivandeiras contemporâneas pregam no
deserto e obtém dos chefes militares negativas como a do comandante do
Exército: “eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto.”
Não é pouco para um país de histórico
de intervenção militar na vida nacional.
Por quase um século, de 1886 -
quando teve início a chamada questão militar com uma série de atritos entre o
exército e o governo imperial – até a transição democrática de 1985, as Forças
Armadas foram parte da crise (quando não a própria crise), quer por vontade
própria, quer por serem arrastadas para elas.
Os episódios se sucederam aos
borbotões: advento da República, eleição de Hermes da Fonseca, 1922, a Coluna
Prestes, Revolução de 30, Levante de 1935, derrubada de Getúlio Vargas no
pós-guerra, candidaturas de Juarez Távora, Eduardo Gomes, Marechal Lott,
novembrada 1955, Aragarças, Jacareacanga e, finalmente, a mais traumática das
intervenções, em 1964.
As Forças Armadas amadureceram,
aprenderam com sua própria experiência.
Tomaram um caminho sem volta em
1985, quando recuaram organizadamente para os quartéis e passaram a se pautar
exclusivamente pelo exercício de suas funções profissionais e de suas
obrigações constitucionais definidas no famoso artigo 142, citado pelo general:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Por isso elas passam ao largo da
crise, se reencontraram com o povo e são hoje as instituições com maior
credibilidade entre os brasileiros. Mais importante: não parecem ter sido
contaminadas pelo cupim da corrupção, assim como não foram outras instituições
permanentes de Estado, a exemplo do Itamaraty, universidades públicas, Polícia
Federal, Banco Central e outras blindadas do loteamento político, da ação
nefasta do patrimonialismo.
A tranquilidade não se dá apenas
nas tropas. A reserva, normalmente, mais afoita no envolvimento com a política,
vive um momento de calmaria. Também entrou em desuso o termo “general de pijama”,
designação de militares sem tropas, eternamente envolvidos em conspiratas
armadas.
Apesar da disciplina e
observância de suas obrigações constitucionais, a relação das Forças Armadas
com os governos petistas teve seus momentos de desconfianças recíprocas,
principalmente porque setores do lulopetismo e do governo nunca engoliram sua
derrota política e militar durante o regime ditatorial e sempre sonharam com um
“acerto de contas” com as FFAA por meio de uma reinterpretação da história.
Felizmente, hoje estamos em outro
patamar. Nas palavras do comandante do Exército, “o presidente Michel Temer
demonstra um respeito às instituições de Estado que os governos anteriores não
tinham”.
Nesse campo, o presidente parece
ter acertado na escolha de Raul Jungmann para ministro da Defesa. É o ministro
quem se pronuncia até mesmo em relação a aspirações legítimas da tropa, como na
questão previdenciária dos militares- um vespeiro que a prudência recomenda não
se mexer.
Até aí há uma cadeia de comando.
Não há a balbúrdia, não há anarquia militar, não há indisciplina.
Tresloucados haverá sempre. Não
faltarão malucos rondando a caserna. Mas
as palavras do general são tranquilizadoras: “Aprendemos a lição (referindo-se
aos 21 anos de ditadura). Estamos escaldados!”
Feliz Natal a todos!”
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