Por Zezinho de Caetés
Neste domingo passado estava vendo o Fantástico, esperando
uma reportagem anunciada sobre a situação da educação brasileira, e que incluiu
até Jaboatão, mostrando escolas que devem ter feito corar os governantes do
Estado pela ausência de infraestrutura básica, mostrando os alunos, sedentos de
conhecimento, enfiando o pé na lama para obtê-lo, e, nem assim conseguindo.
Antes de chegar a hora da reportagem o programa dominical da
Rede Globo mostrou outra reportagem sobre o vice-presidente de Lula, José
Alencar, já falecido, mas, que deixou para trás, segundo ela própria, uma filha
bastarda, que hoje quer apenas provar que é realmente filha do grande
industrial e político, prometendo que não quer toda a herança, e sim uma vida
digna.
Na hora em que terminou a reportagem, e diante da descoberta
que hoje, os herdeiros do vice-presidente ainda não querem reconhecer sua
parente, eu apenas pensei: bem, como gosto de política e neste campo “águas passadas movem moinhos”, mesmo
quando o dono já morreu, eu conclui que se José Alencar, depois do que fez
fosse apresentado como candidato a alguma cargo público, teria muitas
dificuldades de se eleger. Pasmem, ele se recusou a fazer o exame de DNA, e
neste caso, por lei, “quem cala, consente”.
Eu, que nunca votei nele, continuaria não votando. Aliás, já não votaria em
Lula por outros motivos, mas, com sua recusa em enfrentar o problema da
Rosemary, mesmo que ele prometesse que colocaria o Jair Bolsonaro como Ministro
da Justiça eu incorreria no erro de ter votado nele no tempo que o PT ainda era
um partido político e não um ajuntamento de corruptos (não é quadrilha, segundo
o STF).
Eu não iria nem mais pensar na reportagem, quando na
segunda-feira pela manhã li um texto do Ricardo Noblat que é de 09/08/2010 e
que ele reproduz em seu blog. O título é horroroso: “Flucht nach vorne”, que, como ele explica no texto é uma expressão
alemã que significa “fuga para frente”.
Coisa de alemão mesmo. Em resumo quer dizer que, sob ameaça, não corra, vá em
frente e lute. E no texto eu soube que o processo vem se arrastando há anos, e
até agora, a família recorre, tentando negar a paternidade.
Eu concordo totalmente com o texto do Noblat, abaixo
reproduzido, ainda hoje, aplicando sua conclusão à família do vice-presidente. Como
político ele teve bons momentos, mesmo que, como vice do Lula, apenas fazia
contraponto para tentar mostrar que meu conterrâneo não agia como um “neoliberal” autêntico, pelo menos, nos
primeiros anos de seu longo governo, seguindo toda a cartilha do FHC. Mas, com
o não reconhecimento de sua filha, fica mais esta mancha em sua carreira que o
Noblat resume de forma magistral em sua frase final que eu reproduzo aqui apenas
mudando o tempo do verbo, pois agora ele está morto: “Alencar não [era] bronco. Mas esse episódio fez emergir uma face dele
até aqui desconhecida. Uma face rude, cruel e mesquinha. Muito diferente da
outra que comove o país há anos.”.
Mas fiquem com o texto, que mostra além disto a história de
muitos pais por acaso que resolveram de maneira melhor o problema do que o
Alencar e sem expressões de ignorância e grossura como ele fez, e a família
continua ajudando a deixá-lo mal na foto da história. Vejam que o vice atual, o
Michel Temer, também teve filho bastardo. Pela briga entre o PT e o PMDB agora,
a Dilma pode até alegar que ele tem outros para provocar mais o partido. Tudo
isto já é campanha, mas, fica para depois...
“A expressão alemã acima significa “fuga para frente”. Cercado, você
ataca – e seja o que Deus quiser. Pisa fundo no acelerador do carro como fez
diante do abismo a dupla do filme Thelma e Louise.
Ou então “enfia o pé na jaca” como parece preferir o vice-presidente
José Alencar no caso da suposta filha de 55 anos que teve fora do casamento.
Alencar responde desde 2001 a processo de investigação de paternidade
na Vara Civil de Caratinga, Minas Gerais. Ali quando era rapaz conheceu
Francisca Nicolino de Morais, de apelido Tita, uma enfermeira de 26 anos, e com
ela manteve um relacionamento amoroso entre 1953 e 1955.
Segundo testemunhas ouvidas pelo juiz José Antônio Cordeiro, os dois se
viram pela primeira vez nas dependências do Clube Municipal da cidade. Passaram
então a se encontrar em média três vezes por semana. E às quartas-feiras
dormiam juntos na casa de Tita. O namoro era público.
Aos sábados, o casal podia ser encontrado no clube ou no Bar do Geraldo
Pereira. Aos domingos, dançando no Bar da Zica.
Alencar chegou a pagar o aluguel da casa de Tita e ajudou-a com outras
despesas. Até que Tita engravidou e deu à luz a Rosemary em 1955. O
relacionamento acabou. Ao completar 42 anos, Rosemary soube por Tita quem seria
seu pai.
Ela aproveitou uma visita de Alencar a Caratinga em 1998 para dizer-lhe
que era sua filha. Na ocasião, Alencar teria comentado que resolveria tudo. Não
o fez.
Rosemary foi à Justiça e pediu para ser reconhecida como filha dele.
Uma vez aberto o processo, os advogados de Alencar tentaram extingui-lo por
meio de sucessivos recursos.
Ouvido em juízo, Alencar negou ter tido qualquer relacionamento com
Tita e acusou-a de freqüentar “a zona do meretrício” de Caratinga. “Como
profissional, oferecia-se a quem a pagasse por seus préstimos”, disse.
Ao comentar o caso em “Programa do Jô” da semana passada, insistiu
Alencar: “Todo mundo que foi à zona pode ser pai”.
Por duas vezes, o juiz Antônio Cordeiro marcou dia, hora e local para
que Alencar se submetesse a exame de DNA. Em vão. Os advogados dele conseguiram
suspender o exame.
A Jô, Alencar insinuou que está sendo vítima de chantagem econômica e
garantiu que o exame de DNA “não é 100% seguro”. De fato, não é. A margem de
acerto do exame é de apenas 99%.
Diz o artigo 2 da Lei 8.560/90: “Na ação de investigação de
paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão
hábeis para provar a verdade dos fatos. A recusa do réu em se submeter ao exame
de código genético – DNA – gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada
em conjunto com o contexto probatório”.
Com base na recusa de Alencar em fazer o exame de DNA, no conjunto de
provas recolhidas e em jurisprudência consolidada do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, o juiz decidiu em 21 de julho passado que “a investigante” passe
a se chamar Rosemary de Morais Gomes da Silva, filha de Francisca Nicolino de
Morais, a Tita, e de José Alencar Gomes da Silva.
Somente uma pessoa, a pedido de Alencar, apresentou-se à Justiça para
dizer que Tita era prostituta.
O delicado estado de saúde de Alencar, que luta há 13 anos contra um
câncer, não lhe confere imunidade para agredir grosseiramente o bom senso.
Se permanece apto a assumir a presidência da República na ausência do
seu titular era de se imaginar que conservasse intacta sua capacidade de
avaliar bem os fatos.
Fernando Collor, Orestes Quércia e Michel Temer, por exemplo, são
políticos que reconheceram filhos de relações extraconjugais.
Paulo Maluf fez questão de se submeter a exame de DNA para provar que
não era pai de uma menina de nove anos. E provou. Fernando Henrique Cardoso é
um caso à parte.
Teve um filho com a jornalista Miriam Dutra pouco antes de se eleger
presidente. Havia se relacionado com ela por anos.
Procurados por jornalistas, os dois sempre negaram que Tomas fosse
filho de quem é. "Nem o pai dele tem certeza que é o pai",
confidenciou Míriam a um amigo certa vez.
Mas Fernando Henrique ajudou a sustentar o filho, recebeu-o várias
vezes discretamente no Palácio do Planalto, visitou-o na Europa e o reconheceu
em cartório de Madri logo depois da morte de dona Ruth Cardoso, sua mulher.
Alencar não é bronco. Mas esse episódio fez emergir uma face dele até
aqui desconhecida. Uma face rude, cruel e mesquinha. Muito diferente da outra
que comove o país há anos.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário