Por Carlos Sena (*)
A imprensa no geral e a de
Pernambuco no particular ainda não venceram o "verbo" do estigma e da
discriminação. Isso para o lado ruim e para o bom. Para o ruim quando, numa
matéria policial em que a vítima ou o algoz é um homossexual, logo vira
manchete: "homossexual" morto pelo amante ou "homossexual"
mata e rouba um cidadão em tal ou qual lugar! Ora, se o homossexual é homem ou
mulher , por que quando isso acontece com um hetero não se anuncia do mesmo
jeito? Assim: "heterossexual mata amante", etc. Perece mesmo que a
sexualidade ortodoxa é definidora de condutas. Quando a conduta é
"boa", politicamente correta é do bem e só os heteros a praticam. O
contrário só aos homossexuais se lhe tributam o deboche e o achincalhe e uma
mídia discriminatória e violenta. Se o homossexual delinquente for rico e
frequentar as altas rodas sociais, tudo fica na surdina, mas mesmo assim se
debocham da situação e a mídia faz vista grossa nesse aspecto.
Outro aspecto da mídia nem sempre
politicamente correta, é associar o status de EVANGÉLICO a algumas pessoas que
tem o infortúnio e a falta de dinheiro para sair num "Bandeira dois da
vida". Pra quem não conhece, o Bandeira dois é líder de audiência em
Pernambuco e é useiro e vezeiro dessas expressões. Nessa questão dos
"evangélicos" ela é duplamente explorada. Pelas vítimas ou pelos
algozes que, no afã de se defenderem de uma acusação exaltam logo que "sou
evangélico". Como se, em sendo evangélico, estivessem acima do bem e do
mal. De fato, quem frequenta cultos evangélicos sabe que eles se consideram
SALVOS. Não sei se da língua do povo. Não sei se da língua de satanás. Não sei
se salvos pelo gongo ou mesmo se Jesus os salvou antes do julgamento final...
Mas é comuníssimo ouvir no rádio um bandido se defendendo de uma acusação se
dizendo "evangélico". Também é muito frequente ouvir uma manchete
mostrando uma cena de crime em que um evangélico foi protagonista. Resumindo:
tanto o locutor de rádio exalta essa expressão, quando a própria vítima ou o
algoz, quando lhe aprouver também.
Independente de julgar, vale
refletir acerca de uma imprensa menos sanguinolenta, principalmente no rádio AM
e nas TVS que mantêm esse formato "Mundo Cão" de programa. Fato é que
a audiência ganha picos quando a miséria, a violência, a morte, o escárnio,
etc., são por demais de mais. Nesse caso, entra o povo. O Povo na TV? Pode ser
e tudo leva a crer. Mas pode ser isso rompido se a vida um dia vier a valer
algum tostão a mais do que não vale hoje? Ou será que os humanos adoram ver seu
semelhante na lona, no cacete, para ele se divertir mais solenemente? Afinal,
no Coliseu romano, os leões devoravam pessoas para as outras se divertirem a
cântaros! E nós que estamos na civilização do amor, no terceiro milênio, estamos
fazendo diferente disso? Difícil dar uma resposta objetiva neste sentido. Mas,
não é difícil compreender que uma sociedade que tripudia em cima das pessoas
por conta das suas escolhas sexuais, não fica muito distante disso. Da mesma
forma não fica distante na medida em que se dizer evangélico serve de manto
para se praticar violência, pautaria, sodomia, enquanto a noite não chega para
transformar todos os gatos de diversas cores em pardos... Todas as uvas verdes
em maduras para satisfazer às serelepes e espertas raposas de plantão... Todos
os cajus rançosos em cajuina cristalina em Teresina. Todos os afagos dos
tamanduás em abraços lúdicos de prazer, enquanto a noite não vem trazendo
consigo a esperança de que "quando mais negra seja a noite mais permaneça
sendo madrugada para que o canto dos galos rufe noites nos quintais
silenciosos...
A paz do senhor, irmão. Ou
Glória!
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 09/01/2014
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