Por Carlos Sena (*)
Adoro a cama. Dos móveis de uma
casa, uma boa cama dever ser comprada sem pirangagem. Porque ela, no fundo, é
quem nos redime de nós; é quem nós suprime de nós; é quem de nós mais se
aproxima, inclusive sendo palco dos nossos sonhos e pesadelos. Fazer sexo na
cama talvez seja o que menos seja a função da cama. Porque na hora da paixão,
do rala e rola ou do rola mas não rala, tudo acontece igual ao gatinho tico:
ticomia no sofá, ticomia no tapete, ticomia na cozinha, no banheiro, etc., e
também, ticomia na cama. Não necessariamente é na cama que se inicia um
romance. Mas, não raro, é nela ou por conta dela, que se acabam as relações.
A cama, como se não bastasse ser
o local que a gente guarda nosso cheirinho particular, também nos serve como
abrigo para as dores da alma. Afinal, nada que uma noite bem dormida não ajude,
pois o travesseiro ainda continua sendo um bom conselheiro. Podemos até dizer
que o travesseiro é um componente da cama que teria tudo para ser “metido,
atravessado”, mas não é. Ele guarda o nosso cheiro mais legítimo, aquele
cheirinho que nos faz querer voltar pra casa quando, por exemplo, a gente faz
uma viagem longa.
No seu papel de divã – eis o
grande dilema. A gente conhece uma pessoa e engata com ela uma relação, ou uma
ralação. Na hora dos amassos a cama tá lá, como mais uma opção. Quando a crise
se instala, então a cama começa a ser mais definitiva desse papel psicanalítico
subliminar. “Presencia” as crises de afeto e de sexo; caladinha, serve de
suporte a solidão a dois que, gradativamente se instala. Noites sem dormir,
choros, decepções, desesperos dos casais, também no amor, a cama está ali, sem
saber que cumpre esse papel. Tudo de um casal ou mesmo de um solteiro, a cama
presencia pela sua capacidade de ser “abrigo” do nosso sono; de ser o canto da
casa em que somos mais íntimos de nós mesmos com ou sem alguém do nosso lado.
Se eu fosse cama, o que mais me deixaria triste talvez fosse ver as pessoas que
nela dormem (principalmente casais) se digladiando, dizendo sim em vez de não e
não quando nem fosse mais preciso diante de uma convivência cheia de “talvez”.
Se eu fosse cama eu talvez gostasse mais das pessoas dormindo, entregues ao
sono libertador da mente!
O clichê de “ir pra cama com
alguém” é mesmo um clichê. Um script para nos elevar nas conversas auto
afirmativas, principalmente entre os homens é mesmo para essa serventia. Porque
a rigor, a gente só deve levar pra cama quem a gente ama. Pena que isso tem
perdurado tão pouco nas relações moderna, mas é o caminho. Quem sabe não
chegaremos lá?
Pra concluir: não comprem uma
cama barata. Ela precisa ser boa para aguentar o rojão da vida que bole toda
hora e se revisita a cada minuto.
------------
(*) Publicado no Recanto de
Letras em 31/01/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário