Por Jose Antonio Taveira Belo / Zetinho
Sexta feira. Dia da boêmia. Levanto-me cedo e ao ligar o
rádio ouço canções que me levaram ao mundo de outrora. Enquanto águo as plantas
ouço Aguinaldo Timóteo, recordando as suas belas canções de roeduras das
radiolas de ficha dos bares da vida, principalmente quando viajava para
Garanhuns para visitar as minha namorada que morava na Rua da Linha quase em
frente da Estação Ferroviária “Quero encontrar a sorrir para mim / o meu
amor na estação a me esperar / pegarei novamente em sua mão / e seguiremos como
emoção / pros verdes campos do lugar. Logo depois Silvinho canta - “Enquanto
existir lá no céu uma estrela brilhando / e o sol no infinito teu rosto
queimando / tu serás a luz a iluminar o meu caminho / tu serás o maior amor da
minha vida. Às dez horas coloquei uma dose de uísque com bastante gelo.
Sento-me em uma cadeira espaçosa com o Diário de Pernambuco para ler as noticias
na maioria de suborno, corrupção, crimes e tantos outros males que fazem a
sociedade ficar de boquiaberta. A musica começa e eu não me concentro na
leitura. Coloco de lado e tomo um gole da bebida. Recosto a cabeça e começo a
recordar os tempos passados que não voltam, mas que aquecem a nossa mente das boas
coisas que passaram pela vida. As canções trazem recordações que sentimos no
coração triste. As melodias e as letras de cada canção faz com que voltemos ao
tempo em algum lugar. Tenho muitas
recordações. Sou sentimental e nostálgico. – Recordei, neste momento, quando estava no pensionato no querido bairro
da Boa Vista, da namorada amada, longe do meu olhar e do seu sorriso. O carinho
nos encontros intercalados de quinze e quinze dias, quando morava no Recife e
ai ia Garanhuns. Os beijos escondidos, longe do olhar dos seus pais. As mãos
juntas tremendo e os olhos fechados, sonhando com o tempo para realizar o amor
verdadeiro. O frio, nas noites frias de Garanhuns, a garoa fina e o nevoeiro
dava neste momento de aconchego no terraço da sua casa. Coisas boas são as
recordações de um tempo passado e realizado no tempo presente. Dos amigos e da
alegria dos reencontros. Das conversas fiadas sentados nas mesas dos bares
entre goles de cerveja geladíssima ou de doses de Rum Montila com limão e Coca
Cola no bar Sayonara ou no Cid Bar, dos jogos de sinuca no salão de Jorjão; A
alegria das tardes de domingo das matinês nos clubes, Sete de Setembro e AGA que
hoje já não mais existem; dos assustados, em casa de amigos nas noites de
sábados saindo muitos namoros; das serestas pelas ruas frias sob o luar e as
estrelas cintilantes no azul cinza da noite ao som do violão com vozes desafinadas
a ecoar pela madrugada olhando as janelas fechadas, mas sabendo que alguém do
outro lado ouvia. O beija- flor me visitava neste momento. Suas asas
multicolores, brilhando sob o sol da manhã tocando nas flores vermelhas. Uma
borboleta amarela pousou suavemente em uma flor beijando levemente. Silvinho continuava a cantar. Tu és a criatura mais linda que os meus
olhos já viram / tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou /são meus os
teus lábios este lábios que os meus desejos mataram / são minhas tuas mãos
estas mãos que as minhas mãos afagaram / Sou louco por ti / eu morro por ti /
te amo em segredo / adoro teu porte divino que as mãos do destino a mim tu
vieste / tenho ciúme do sol do luar e do mar / tenho ciúme de tudo / tenho
ciúme até da roupa que tu veste. Ai, neste momento meu pensamento voltou
para excursão que fizemos para Maceió por ocasião da formatura do 4º Ano Ginasial
no Colégio Diocesano de Garanhuns. Era a musica do momento. Fazia muito sucesso
entre os jovens enamorados do inicio da década dos anos 60. No devaneio não via
as horas passar. Olhando o relógio marcava dez e meia da manhã. Tomei o último
gole e fui à praia com a garotada, em dia de semana, somente aposentado ou
estando de férias.
Sentei-me em uma
cadeira de plástico embaixo de um guarda sol multicolorido. O garçom se
aproximou já trazendo uma cerveja bem gelada. Para a garotada Coca Cola e
guaraná. Ao passar do tempo trouxe um pratinho com batatas fritas, que foi a
festa dos netos, molhados e tremendo de frio em sol quente e abrasador. De
repente ouço a voz do Aguinaldo Timóteo, no rádio no calçadão, parecia me
perseguir nesta manhã de recordações com a musica – A Galeria do Amor – “Numa noite de insônia sai / procurando emoções
diferentes / E depois de algum tempo parei / Curioso por certo ambiente / Onde
muitos tentaram encontrar / O amor numa troca de olhar – Na galeria do amor é
assim / muita gente a procura de gente.... voei para o bairro da Boa Vista,
aqui em Recife, nas noites de pensionatos pelas Rua Velha, Barão de São Borja, Alecrim,
Dom Bosco, Leão Coroado, Santa Cruz, que saiamos para os bares da vida a
procura de gente diferente nas noites quentes enluarada. Andávamos pelas ruas
desertas da Boa Vista até o Bairro do Recife saboreando o ar da noite
principalmente quando atravessávamos as Ponte de Ferro e Mauricio de Nassau.
Sentava nas cadeiras do Bar Astória, ou no Gambrinus a tomar Rum Montilla.
Subíamos as escadas do Chanteclair para olhar as moças que ali estavam sentadas
nas cadeiras com as pernas a mostra. O som sempre de dor-de-cotovelo. Quando
voltávamos alta madrugada ao pensionato subíamos a escadas de madeira
devagarzinho para não acordar os pensionistas. Muitas das vezes, ou quase todas
às vezes, sentava no Bar Santa Cruz no Largo do mesmo nome, olhando para a
Igreja onde as senhoras iam rezar ou para participar da Santa Missa, nos
domingos pela manhã, enquanto nós ouvíamos musicas, ignorávamos aquele gesto. Foram
bons tempos que devem ser recordados, principalmente, pelos companheiros que
fizeram parte desta estória.
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(*) A AGD oferece o vídeo a seguir, para ajudar nas recordações. Não encontramos o Silvinho. O video não faz parte do texto do excelente texto do Zetinho.
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(*) A AGD oferece o vídeo a seguir, para ajudar nas recordações. Não encontramos o Silvinho. O video não faz parte do texto do excelente texto do Zetinho.
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