Por Zezinho de Caetés
Hoje estava lendo um blog onde havia um conjunto de
recomendações da polícia para garantir a segurança de cidadãos, como eu, que
pagamos impostos escorchantes para que o Estado nos proteja, naquilo que é sua
obrigação constitucional.
Lá estava escrito como reagir durante um assalto. Ora
assaltos existem em todo mundo e é prudente que a polícia nos oriente como
reagir em um caso onde tenhamos sidos sorteados por um ladrão. A única
diferença dos países onde a polícia funciona, e nós, onde seu funcionamento é
mais do que precário é a frequência com que eles ocorrem. Não recorrerei a estatísticas,
pois apenas teria que alongar este nariz de cera, para constatar o óbvio: a
insegurança campeia em nossas cidades, e quando comparada com países com um
nível mínimo de civilização, estamos na rabeira.
O que me chamou atenção foi uma das instruções que constam
de panfleto distribuído pela Secretaria de Segurança da Bahia, que pedimos para
colocar uma imagem parcial dele ilustrando esta postagem. A instrução que se
encontra enfatizada na imagem diz:
“Carregue um pouco de
dinheiro (para satisfazer o ladrão) mas poucos cartões.”
Eu fiquei me perguntando, como cidadão que sou, embora não
baiano, quanto deveria levar de dinheiro, aqui no Recife. Eu não sei se há
instruções mais detalhadas da polícia baiana sobre a quantia certa, tipo de
moeda, forma de carregar etc. Mas, como a situação de segurança ao andar pelas
nossas ruas aqui em Recife não deve diferir muito, eu me questiono, como
cidadão se não deveríamos ter instruções detalhadas.
Por exemplo:
“Não carregue moedas e
sim notas, pois o ladrão pode mandar você engolir as moedas se elas forem de
baixo valor.”
“Não leve apenas notas
de R$ 2,00 reais pois o ladrão pode não gostar e enfiar as notas em algum lugar
do seu corpo.”
“De preferência leve
notas de dólar, se estiver perto do aeroporto. Se estiver longe, nunca faça
isto, pois o ladrão pode pensar que o Lincoln é o Lula na nota de $ 20 e pensar
que é falsa.”
“Se estiver num bairro
rico, como Boa Viagem, nunca leve menos do que R$ 10,00, porque se o ladrão
quiser tomar uma água de côco e o dinheiro não der, você está frito.”
E por aí iriam novas e detalhadas dicas para que o cidadão
se comportasse bem, satisfazendo inteiramente o ladrão. Se você seguir todas
você poderá ter até seu dinheiro de volta.
No último dia 09/03/2013 eu li no Globo um texto da Míriam
Leitão, que, à primeira vista não tem nada a ver com o que escrevi até agora.
No entanto, as dicas para o ladrão me surgiram quando reli o texto hoje, pois
tudo é roubo, embora de espécie diferente.
Ela fala do caos em que se encontra nosso setor público no
provimento de serviços para nossa população, que hoje se encontra totalmente
desvirtuado, pela coalizão que se implantou no governo nos últimos 10 anos.
Eu sei que aqui no Recife vivemos aquela situação que se
falava no interior, até muitas vezes da minha cidade, da qual se dizia que “...de dia falta água e de noite falta luz, e na
casa que não tem ... é milagre de Jesus”. Aqui no Recife eu substituiria os
pontinhos por bobos, idiotas, babacas, pois é o que somos diante de tanto
descaso com o cidadão por parte das concessionárias de serviços público.
Hoje andamos fedendo pelo racionamento d’água por causa da
seca e quando chove não temos luz porque os transformadores estouram e ficamos
horas e horas até sem informação sobre o mundo. Os serviços de reclamação,
nestas horas, não funcionam, ou se funcionam são através de mensagem gravadas
dizendo já saber do problema.
E disto, de uma forma mais geral em termos de geografia
brasileira é de que trata o texto que abaixo reproduzimos. Leiam-no enquanto eu
vou tomar um banho quente pois, quase milagre, hoje aqui em casa tem água e
luz. Amanhã eu não sei. Além disto, já reservei o do ladrão, pois hoje vou sair
de ônibus.
“É preciso reconhecer: o Brasil está vivendo o caos na prestação dos
serviços públicos e um colapso regulatório. Isso é resultado direto da falta de
compreensão do que faz o Estado no seu papel de regulador. O governo desprezou
as agências como se fosse “terceirização” dos seus poderes, tirou delas
autonomia, nomeou apadrinhados, desvirtuou processos.
Hoje, as agências, seja em que área for — água, transporte aéreo de
passageiro, energia elétrica, petróleo, telecomunicação —, alternam períodos
longos de inação e omissão com fases de fúria arrecadatória. Multam as empresas
e ameaçam. Mas o dinheiro acaba virando um novo imposto, que enche os cofres do
governo e não resolve o problema de quem consome os serviços.
No domingo à noite, dia 24 de fevereiro, o aeroporto de Brasília viveu
uma situação bizarra. Todo o sistema caiu. Os cartões de embarque foram
preenchidos à mão. As televisões estavam apagadas e ninguém sabia onde era seu
portão. Na sala de embarque, os passageiros tinham que conferir em cartazes pregados
em cada portão os números dos voos. Nos dias seguintes, houve mais três quedas
de energia no mesmo aeroporto.
No começo, era só equívoco ideológico. O PT achava que o PSDB quando
criou novos marcos regulatórios para setores privatizados queria acabar com o
Estado. O Estado moderno precisa ter agências que regulem setores. A não
regulação é perigosa porque entrega às empresas o mercado como sesmaria. A
regulação só governamental já criou muita distorção no passado.
As agências precisam ser independentes, não podem ter diretores
nomeados pela chefe da regional paulista do gabinete da Presidência, com
poderes que exorbitavam as suas funções. Há empresas privadas dividindo mercado
com empresas públicas, autonomia e neutralidade das agências é fundamental.
Há momentos que a gente sente é que o país parou de funcionar. Falo de
casos reais: uma conversa precisou de cinco ligações e mesmo assim terminou
inconclusa. Uma empresa provedora de internet não consegue há dias explicar aos
usuários — que pagam o maior preço para terem a maior velocidade — porque não
entrega a mínima estabilidade de conexão. A luz acaba a qualquer chuva e demora
tempo inexplicável para voltar. Quem nunca viveu situação kafkiana com as
prestadoras de serviço tem muita sorte. A sucursal do GLOBO em São Paulo,
ontem, antecipou fechamento porque corria risco de ficar sem luz depois do
temporal que caiu à tarde. Só seria possível trabalhar enquanto houvesse diesel
nos geradores do prédio. À noite, ainda não chegava energia da concessionária.
As empresas aéreas estão extorquindo viajantes. Trocar passagem mesmo
que seja para voo em data futura tem custo tão alto quanto um novo bilhete. O
passageiro é induzido a comprar outra passagem e pedir reembolso. As companhias
só devolvem quando querem. Pode chegar a 90 dias. Pode levar um ano. Como se
chama ficar com o dinheiro alheio sem autorização e sem remunerá-lo? Minha
sugestão é que seja usada a palavra furto. Vende-se tarifa a um preço altíssimo
para quem tem uma emergência, mas o consumidor pode ser surpreendido com o
cancelamento do seu voo.
O Rio — mais de 40 graus — sofreu dias com falta de água em alguns
bairros porque a estatal de água culpou a empresa de energia pelos picos de
falta de luz que desorganizaram o fornecimento. E não apareceu governo que
avisasse às duas litigantes que concessionário tem que prestar o serviço. E
ponto final.
A nós consumidores cabe pagar as contas, e isso temos feito. Mas
estamos todos fartos dos maus serviços e da completa omissão das agências
reguladoras aparelhadas que viraram caixa registradoras do governo. Ou coisa
pior. Esqueçamos Copa e Olimpíada, o problema é urgente: a incompetência está
se espalhando como metástase pelos serviços públicos.”
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