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quinta-feira, 14 de março de 2013

Proteja-se, leve o do ladrão...





Por Zezinho de Caetés

Hoje estava lendo um blog onde havia um conjunto de recomendações da polícia para garantir a segurança de cidadãos, como eu, que pagamos impostos escorchantes para que o Estado nos proteja, naquilo que é sua obrigação constitucional.

Lá estava escrito como reagir durante um assalto. Ora assaltos existem em todo mundo e é prudente que a polícia nos oriente como reagir em um caso onde tenhamos sidos sorteados por um ladrão. A única diferença dos países onde a polícia funciona, e nós, onde seu funcionamento é mais do que precário é a frequência com que eles ocorrem. Não recorrerei a estatísticas, pois apenas teria que alongar este nariz de cera, para constatar o óbvio: a insegurança campeia em nossas cidades, e quando comparada com países com um nível mínimo de civilização, estamos na rabeira.

O que me chamou atenção foi uma das instruções que constam de panfleto distribuído pela Secretaria de Segurança da Bahia, que pedimos para colocar uma imagem parcial dele ilustrando esta postagem. A instrução que se encontra enfatizada na imagem diz:

“Carregue um pouco de dinheiro (para satisfazer o ladrão) mas poucos cartões.”

Eu fiquei me perguntando, como cidadão que sou, embora não baiano, quanto deveria levar de dinheiro, aqui no Recife. Eu não sei se há instruções mais detalhadas da polícia baiana sobre a quantia certa, tipo de moeda, forma de carregar etc. Mas, como a situação de segurança ao andar pelas nossas ruas aqui em Recife não deve diferir muito, eu me questiono, como cidadão se não deveríamos ter instruções detalhadas.

Por exemplo:

“Não carregue moedas e sim notas, pois o ladrão pode mandar você engolir as moedas se elas forem de baixo valor.”

“Não leve apenas notas de R$ 2,00 reais pois o ladrão pode não gostar e enfiar as notas em algum lugar do seu corpo.”

“De preferência leve notas de dólar, se estiver perto do aeroporto. Se estiver longe, nunca faça isto, pois o ladrão pode pensar que o Lincoln é o Lula na nota de $ 20 e pensar que é falsa.”

“Se estiver num bairro rico, como Boa Viagem, nunca leve menos do que R$ 10,00, porque se o ladrão quiser tomar uma água de côco e o dinheiro não der, você está frito.”

E por aí iriam novas e detalhadas dicas para que o cidadão se comportasse bem, satisfazendo inteiramente o ladrão. Se você seguir todas você poderá ter até seu dinheiro de volta.

No último dia 09/03/2013 eu li no Globo um texto da Míriam Leitão, que, à primeira vista não tem nada a ver com o que escrevi até agora. No entanto, as dicas para o ladrão me surgiram quando reli o texto hoje, pois tudo é roubo, embora de espécie diferente.

Ela fala do caos em que se encontra nosso setor público no provimento de serviços para nossa população, que hoje se encontra totalmente desvirtuado, pela coalizão que se implantou no governo nos últimos 10 anos.

Eu sei que aqui no Recife vivemos aquela situação que se falava no interior, até muitas vezes da minha cidade, da qual se dizia que “...de dia falta água e de noite falta luz, e na casa que não tem ... é milagre de Jesus”. Aqui no Recife eu substituiria os pontinhos por bobos, idiotas, babacas, pois é o que somos diante de tanto descaso com o cidadão por parte das concessionárias de serviços público.

Hoje andamos fedendo pelo racionamento d’água por causa da seca e quando chove não temos luz porque os transformadores estouram e ficamos horas e horas até sem informação sobre o mundo. Os serviços de reclamação, nestas horas, não funcionam, ou se funcionam são através de mensagem gravadas dizendo já saber do problema.

E disto, de uma forma mais geral em termos de geografia brasileira é de que trata o texto que abaixo reproduzimos. Leiam-no enquanto eu vou tomar um banho quente pois, quase milagre, hoje aqui em casa tem água e luz. Amanhã eu não sei. Além disto, já reservei o do ladrão, pois hoje vou sair de ônibus.

“É preciso reconhecer: o Brasil está vivendo o caos na prestação dos serviços públicos e um colapso regulatório. Isso é resultado direto da falta de compreensão do que faz o Estado no seu papel de regulador. O governo desprezou as agências como se fosse “terceirização” dos seus poderes, tirou delas autonomia, nomeou apadrinhados, desvirtuou processos.

Hoje, as agências, seja em que área for — água, transporte aéreo de passageiro, energia elétrica, petróleo, telecomunicação —, alternam períodos longos de inação e omissão com fases de fúria arrecadatória. Multam as empresas e ameaçam. Mas o dinheiro acaba virando um novo imposto, que enche os cofres do governo e não resolve o problema de quem consome os serviços.

No domingo à noite, dia 24 de fevereiro, o aeroporto de Brasília viveu uma situação bizarra. Todo o sistema caiu. Os cartões de embarque foram preenchidos à mão. As televisões estavam apagadas e ninguém sabia onde era seu portão. Na sala de embarque, os passageiros tinham que conferir em cartazes pregados em cada portão os números dos voos. Nos dias seguintes, houve mais três quedas de energia no mesmo aeroporto.

No começo, era só equívoco ideológico. O PT achava que o PSDB quando criou novos marcos regulatórios para setores privatizados queria acabar com o Estado. O Estado moderno precisa ter agências que regulem setores. A não regulação é perigosa porque entrega às empresas o mercado como sesmaria. A regulação só governamental já criou muita distorção no passado.

As agências precisam ser independentes, não podem ter diretores nomeados pela chefe da regional paulista do gabinete da Presidência, com poderes que exorbitavam as suas funções. Há empresas privadas dividindo mercado com empresas públicas, autonomia e neutralidade das agências é fundamental.

Há momentos que a gente sente é que o país parou de funcionar. Falo de casos reais: uma conversa precisou de cinco ligações e mesmo assim terminou inconclusa. Uma empresa provedora de internet não consegue há dias explicar aos usuários — que pagam o maior preço para terem a maior velocidade — porque não entrega a mínima estabilidade de conexão. A luz acaba a qualquer chuva e demora tempo inexplicável para voltar. Quem nunca viveu situação kafkiana com as prestadoras de serviço tem muita sorte. A sucursal do GLOBO em São Paulo, ontem, antecipou fechamento porque corria risco de ficar sem luz depois do temporal que caiu à tarde. Só seria possível trabalhar enquanto houvesse diesel nos geradores do prédio. À noite, ainda não chegava energia da concessionária.

As empresas aéreas estão extorquindo viajantes. Trocar passagem mesmo que seja para voo em data futura tem custo tão alto quanto um novo bilhete. O passageiro é induzido a comprar outra passagem e pedir reembolso. As companhias só devolvem quando querem. Pode chegar a 90 dias. Pode levar um ano. Como se chama ficar com o dinheiro alheio sem autorização e sem remunerá-lo? Minha sugestão é que seja usada a palavra furto. Vende-se tarifa a um preço altíssimo para quem tem uma emergência, mas o consumidor pode ser surpreendido com o cancelamento do seu voo.

O Rio — mais de 40 graus — sofreu dias com falta de água em alguns bairros porque a estatal de água culpou a empresa de energia pelos picos de falta de luz que desorganizaram o fornecimento. E não apareceu governo que avisasse às duas litigantes que concessionário tem que prestar o serviço. E ponto final.

A nós consumidores cabe pagar as contas, e isso temos feito. Mas estamos todos fartos dos maus serviços e da completa omissão das agências reguladoras aparelhadas que viraram caixa registradoras do governo. Ou coisa pior. Esqueçamos Copa e Olimpíada, o problema é urgente: a incompetência está se espalhando como metástase pelos serviços públicos.”

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