Por Carlos Sena (*)
Se você tem dúvidas sobre certas
coisas continue tendo. Melhor ter sempre dúvidas acerca de certas certezas que
a gente prefere não acreditar nelas. Uma dessas certezas está no peido. Na
bufa. No pum, pra ser mais discreto e dar uma sonoridade à palavra que tanto
fede. Ora, já não basta feder, tem que ter pelo menos um sustenidozinho para o
alivio do processo. Mas, afinal, que certeza será essa, ora direis! A certeza
de que nós somos, enquanto humanos, totalmente falso moralista. Quer tirar a
dúvida? Solte um peido num local em que todos tenham certeza que foi você.
Certamente alguém vai dizer: “vai mijar, porque você acabou de cagar”. Ou
então: “vai pro banheiro que lá é o local de cagar”... Outro cenário: Belo dia,
você está no banheiro dando uma mijadinha e, inesperadamente, sai um Pum
atrevido e você fica todo sem jeito, exceto se você estiver sozinho. Estou
falando, evidentemente, de uma pessoa do sexo masculino. Pois bem: mesmo
sozinho na hora do pum sair, se entrar alguém e sentir o “vudu” (mau cheiro), a
catinga, você fica escabreado e logo tenta disfarçar. Pegando um gancho nessa
história, lembrei-me de um cara que estava cagando e alguém entrou no banheiro.
O fedor era tamanho que a pessoa fez xixi e saiu correndo. Só que antes de
deixar o banheiro gritou para o cagão: “chama o bombeiro com um lança chama
para evitar que haja incêndio”! O cagão
ficou arretado, mas não soube quem foi o autor da peça vernacular bufenta. Qual
seria então a moral dessa história. Ora, cagar é tão natural como comer, mas a
gente sempre acha que quem caga
fedorento é o outro, nós não. Entrar no banheiro e sentir cheiro de merda azeda,
a vapor, gaseificada, empacotada, certamente não será de se estranhar. Mas nós
estranhamos. O detalhe disso é que mesmo se comêssemos flores não cagaríamos
perfume. Pelo visto e sentido, a gente nem no banheiro pode soltar pum nem
cagar como se deve. Ou “arriar o barro”, como se diz na linguagem dos
caminhoneiros, principalmente se for banheiro coletivo como se shopping ou do
local de trabalho.
Escatologias a parte, somos mesmo
falso moralista até pra cagar. Certo que não é um assunto tão digno de notas,
mas há momento em que a gente precisa denunciar à merda o que o peido faz e ao
peido o que a merda executa. Difícil é não querer entender que quando a gente
não caga ou não peida é só porque não chegou o momento deles – da merda e dos
gases. Pegando carona no jargão popular que sempre quer saber “qual é o órgão
mais importante” do corpo humano, certamente a gente fica tentado a dizer que é
o fiofó. No dia em que o “franzido” se revoltar e fizer uma insurreição, a
gente tá lascado. Se ele se fechar por mais de dois dias a gente começa a ter febre
e frio e dor de cabeça... Então ele poderá nos perguntar: “afinal, quem é o
órgão mais importante do corpo humano”? Ora, nesse caso termos que nos curvar
às evidências e dizer que é o “C”... O fiofó que fica mais sonoro e tranquilo
para os ouvidos.
Assim, se você tem dúvidas sobre
certas coisas continue tendo. Mesmo que dentro de você haja certezas absolutas.
Lembre: para certezas absolutas há mentiras relativas. Fui.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 23/01/2013
BOM DEMAIS!!! tratado do peido...
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