Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Estava assistindo o pronunciamento do papa Bento XVI,
a hora do Ângelus, pela manhã neste domingo 24 de fevereiro, quando o telefone
toca. Atendo e recebo a noticia triste do falecimento do amigo e companheiro
Clovis Henrique de Carvalho que acabava de falecer, pela sua filha
Virginia. A tristeza tomou conta do meu
coração. As palavras ouvidas compassadamente pela sua filha – meu pai acaba de morrer neste momento
– me emocionou. Fiquei por alguns instantes em silencio. O que fazer nesta hora?
Rezar para que seja bem acolhido por Deus Pai. O sol brilhava no firmamento e o
céu azul, desta manhã, escureceu de repente. Os olhos marejaram. A voz
embargada e rouca comunicando este doloroso acontecimento aos meus familiares,
que ficaram tristes, na mesa do café. Sentei-me e ali fiquei alguns momentos
recordando deste velho amigo e companheiro.
Recordações de alegria. Companheiro leal e brincalhão. Gostava de contar
estórias sobre os seus amigos, principalmente, daqueles amigos de sua cidade
natal, Garanhuns. Tinha um gênio expansivo nas conversas que mantinha com todas
as pessoas, podia ser pobre, rico, negro, branco nunca ridicularizou e nem
tampouco discriminou. Era um amigo para todas as horas. Era um grande boêmio de
mesa de bar. Não era de noitadas, pelo contrario, sempre estava em casa nas
primeiras horas da noite com a família, para tomar o seu prato de “sopa” que
ele gostava após tomar algumas cervejinhas com os amigos. Era um apaixonado
pelas musicas antigas. Tinha predileção pelos cantores que sempre recordassem os
momentos felizes de sua vida nas rodadas dos bares. Vicente Celestino, Altemar
Dutra, Anísio Silva, Carlos Galhardo, Francisco Petrônio, Isaurinha Batista,
Elizete Cardoso, Núbia Lafaiete, Nelson Gonçalves, e tantos outros da época de
ouro do radio. Sabiam as suas musicas de cor. Cantava esplendidamente estas
canções principalmente lembrando-se dos amigos de Garanhuns, das noites frias e
da garoa que tomava conta da cidade serrana e das flores, quando saia do
expediente do Banco do Nordeste no qual trabalhou exaustivamente durante muitos
anos, se aposentando. Frequentava o Cid Bar na esquina da Avenida de Santo
Antonio com a Rua Treze de Maio, o Sayonara na Rua Floriano Peixoto dos amigos
Zé Capucho e Cabo Chico com os amigos bancários. Visitava também, a boquinha da
noite o Pilão de Ouro e depois Pilão de Prata dos amigos Tati e Wilson. Todos
os sábados nos encontravam para bebericar e falar dos acontecimentos do
momento. O nosso reduto por vários anos, ate encerrar as suas atividades era o
BAR SAVOY. Dali saia para o bar da Portuguesa, na Rua Diário de Pernambuco e muitas
das vezes estendendo-se para bar La Salete, no bairro da Encruzilhada. Outras
vezes íamos o Mercado da Encruzilhada para encontrar o nosso amigo Carlos Pessoa
de Melo administrador do Mercado. Sentávamos
em tamboretes toscos em frente ao Box de Galego para ouvir o toque violão de
Severino. Ali ele cantava algumas musicas e por incrível que pareça era
aplaudido. Lembrava sempre dos amigos que já partiram para o Reino de Deus,
principalmente daqueles que haviam participado de sua vida em Garanhuns e
reencontrados aqui no Recife, Edson Apolinário, João Mosquinha, Marcio Bessa,
Aloísio da Paraguaçu, Nilo, Maia, e outros e outros que não os esqueciam. Do
Carnaval era adepto, não brincava, mas assistia tudo no Bar Savoy,
principalmente, o Galo da Madrugada, que saia cedo, e nós estávamos já
prontidão com talco Cinta Azul e batons vermelho para melar os que chegassem às
mesas na calçada. Dali saia para outros bares cantando o vira. Vira, olha a virada e assim por diante os quatros dias. Nas
outras ocasiões quando sentávamos a conversa girava sobre a política, o esporte
era um apaixonado pelo grandioso SPORT
CLUBE DO RECIFE, que no velório foi lido uma mensagem dos filhos ausentes
que moram no exterior, que mencionou esta paixão do seu pai pelo SPORT. Para ele a sua família
estava em primeiro lugar. Amava a esposa e seus filhos. Considerava os amigos.
Durante a sua doença inesperada há anos atrás, não o levou para o desespero
depois que o médico diagnosticou um “câncer” na garganta. Reagiu, dizendo, “que seja feita a vontade de Deus”.
Começou a tomar a quimioterapia no Hospital Português, durante vários meses,
sem reclamar. Não deixou de ir ao encontro dos amigos, no barzinho da Rua
Princesa Isabel, sentado em uma das mesas na calçada, mesmo sem poder compartilhar nas cervejinhas
que os outros tomavam. Tomava água ou suco. Curou-se deste mal,
provisoriamente, durante alguns anos. De repente a doença lhe chegou novamente,
agora, o “câncer” chegava-lhe ao pulmão. Com a mesma serenidade que tinha
recebido a noticia da primeira doença, reagiu repetindo as mesmas palavras – Tudo está nas mãos de Deus. Seja feita a
sua vontade – começou novamente tomar mais uma serie de quimioterapia
acrescentada da radioterapia. Foram meses seguidos, mas infelizmente esta
terrível doença que ataca milhares de seres humanos no mundo, não poupa
ninguém. E assim foi o companheiro Clovis. Não o poupou. O sofrimento foi
grande, mas aguentava com paciência esta provação que Deus estava lhe
concedendo. Até os últimos minutos da sua vida não deixou de pronunciar – estou nas mãos de Deus. À tardinha tudo estará terminado -, no
leito palavras esta dita a sua esposa que o acompanhava no Hospital Português.
A fé que depositava em Deus não o livrou da morte, pois todos nós somos
mortais, mas acalentou no espírito das pessoas que o conhecia, a consciência de
um profundo respeito com Deus. Foram 45 anos de convivência e amizade e que
hoje permanece não mais com a presença física, mas no pensamento a sua amizade
permanecerá eternamente. Hoje os seus restos mortais se encontram sepultado no Cemitério Parque das Flores,
no Recife, Quadra 25 – tumulo 395.
Nossos mais sinceros agradecimentos a Zé Antônio por essa homenagem tão bonita ao nosso querido pai e esposo. Nessas palavras emocionadas e cheias de saudade conseguiu descrever muito bem a alma romântica, sonhadora, generosa, fiel e amiga de um homem tão especial que por onde passou só bom exemplo deixou. Que Deus o abençoe, Zé Antônio!
ResponderExcluirJulinha e filhos.
Ze Antonio,obrigado pelos seus sinceros votos a meu pai,gostei muito,que grande historia de vida,bonita cheia de encantos alegrias e perdas.Todos nos sabemos que um dia temos que ir mas nunca aceitamos,mas é a unica certeza que temos nessa vida que vamos morrer um dia de uma forma ou de outra,é a desculpa da morte,a unica coisa que levamos dela sao os bons momentos que passamos e que voce fez parte de grandes momentos felizes da vida dele, obrigado por ter sido um grande amigo do meu grande pai. Ass:Clóvis Henrique.
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