Por Carlos Sena (*)
Logo cedo da manhã ouço rádio AM.
Acho essa rádio extremamente “IN” ao contrário do que se pensa e em oposição
aos que nem se lembram de que ela existe por conta da FM. A Rádio Jornal do
Comércio, logo cedinho faz um jornal local completo. Nele, a notícia: “Alex
está internado em estado grave”. Alex é um ícone da crônica brasileira,
especialmente a pernambucana. Sempre esteve com uma coluna em que não faltavam
as coisas que as dondocas gostam – fofocas, “in e out” e outras bobagens, mas
porque isso vendia e ainda vende jornal e ajuda muito manter colunas sociais.
Alex ia além: não deixava o jornal sem vender, mas contrabalanceava sua coluna
com cultura. Suas crônicas faziam parte da sua coluna social e, não raro,
noticiava ações de lançamento de livro, pinturas, arte de modo geral. Também
pintava bem (pinta, pois ainda não morreu) inclusive o “sete”. Por conta do
“sete” corriam a boca miúda histórias hilárias acerca dos seus “pincéis”, mas
que não conseguiam tirar dele a originalidade. Não ficou apenas no jornal.
Segurou a TV jornal um bom tempo sem ganhar salário em dia, no tempo em que a
emissora ainda não era do SBT.
Alex hoje, idoso, está internado
em estado grave. Lembro-me dele em sua casa no bairro da boa vista à noitinha
olhando as pessoas passarem. Falava com todos e, segundo dizem, aproveitava
essas boréstias para continuar pintando o “sete”. Talvez porque sempre teve
essa capacidade de ser e viver e ser feliz é que José de Souza Alencar – o
nosso Alex, certamente marcou a nossa crônica social, especialmente o
jornalismo com qualidade e a cultura com intensidade. Alex é membro da academia
pernambucana de letras – uma das mais respeitadas do pais, mas nunca ficou em
“salto alto”, pois sua simplicidade era comovente.
Solitário, após a morte da sua
mãe, sempre se dedicou a pintura. Sua casa mais parece uma galeria de arte.
Sempre, inclusive, cercados de bons e fiéis amigos; sempre na mesma casa, no
mesmo bairro, na mesma cidade que sempre amou: RECIFE. A noticia do seu
adoecimento nos entristece. A gente fica vendo que a vida não ignora ninguém no
seu trajeto: nem pobre, nem rico, nem famoso, nem... A vida nos mostra e só não
vê quem não quer enxergá-la com o Alex sempre o fez: com simplicidade e vivendo
intensamente. Pintando quadros ou o “sete” ou no “set” da TV, ou dando alma a
personagens via literatura, etc. Por conta do etc., certamente milhões de
outras coisas ele fez e foi feliz com ela. Influenciou inclusive muitos
pretensos escritores e cronistas como eu, graças a Deus. Roubei dele o “flash”
da vida em sua dinâmica real ou surreal. Devo lhe ter roubado a capacidade de
me amar, pois só quem se ama irradia amor; só quem se respeita irradia
respeito; só quem vive feliz irradia vida com felicidade – essa dobradinha que
muitos querem, mas poucos alcançam.
Torço para que ele se recupere.
Mas se não, certamente a vida foi por ele agraciada e venerada até o fim.
Detalhe: com competência, sabedoria e simplicidade.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 17/01/2013
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