Por Zé Carlos (*)
Hoje desencarno do Vovô Zé. Volto a ser o eu tristonho de
sempre. A tristeza vai embora nas primeiras tecladas, da mesma forma que
antigamente, e põe antigamente nisto, acontecia, quando eu pegava na pena para
escrever, e conseguia que um bom assunto me chegasse à cabeça.
Procuro assuntos e encontro fácil, fácil. Quaresma, Semana
Santa, Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Penso que, com a vida
católica que tive, que chegou ao ponto de ganhar a predileção de minha avó,
pelo seu desejo de que eu fosse o padre da família, este é um bom assunto, e
penso também de outros meus contemporâneos e conterrâneos que tiveram avós como
eu.
Eu também fui apóstolo.
Muitos o foram. Já li vários relatos de ex-apóstolos no Blog da CIT.
Mas, esta não é minha principal recordação da semana santa em Bom Conselho. O
que gostava mesmo era do sábado de aleluia. Eu quase sempre ficava na Praça
Pedro II até sair a procissão do Jesus Ressuscitado, com aquela bandeirinha que
tinha uma cruz vermelha num fundo branco. Em minha mundanidade, já naquela
época pensava serem as cores de minha preferência, já era torcedor do Náutico.
Nestas noites de sábado, também entrava na Igreja, até
descobrir que não era uma atitude das mais prudentes, devido ao alto nível de
ingestão de comida de coco nos dias anteriores. Muitas vezes era insuportável.
Outras vezes, simplesmente, terrível, como naquele fatídico dia em que levei
minha primeira namorada á igreja. Descobri que não há nada mais asqueroso, pérfido
e quase mortal, do que gases impertinentes, diante de sua amada. Desistia e
ficava na praça.
Antes de namorar pela primeira vez, e confesso que fui um
namorador tardio, eu gostava mesmo era de ficar de olho nas meninas, não só em
uma, mas em muitas, que rodavam, rodavam e rodavam e eram olhadas, olhadas e
olhadas. Ivan Crespo dizia que eu era um “brocha”,
porque só olhava e não fazia nada. Fingia não gostar, mas no fundo ele tinha um
pouco de razão, se dermos um significado gentil à palavra “brocha”. Meu companheiro eterno das aleluias era o Zé Nunes, meu
grande amigo até hoje, o Ponta Baixa. Foram boas noites de aleluia. Sentados
naqueles canteiros praticávamos, a noite toda, o grande esporte municipal,
ainda hoje campeão, que era Falar da Vida Alheia. Olhando e falando, olhando e
falando.
Tempos antes, eu ainda acreditava na velha estória que dizia,
se não achassem a aleluia, o mundo ia se acabar. Ainda não tinha idade
suficiente para ficar amedrontado, e mesmo porque via meu pai dizer: “Deixem de besteira, o mundo só acaba para
quem morre!” Ele não sabia, dentro
do seu catolicismo genético, que estava contradizendo o que nos prevê a Igreja,
de que um dia prestaremos conta a Deus, ressurgindo dos mortos. Agora lembrei
do Fernando Henrique Cardoso. Não sei porquê.
Vi algumas discussões do ateu Cleómenes Oliveira, com o
agnóstico Roberto Lira, certa época no blog da CIT. Confesso que acompanhava
aquela discussão toda, certamente, sem a
capacidade de ambos e muitas vezes sem entender muita coisa. Lembro de algo a
respeito de genética, que um deles dizia, não me lembro quem, que nossas
atitudes, mesmo em relação a Deus, são geneticamente produzidas. Se isto é
verdade ou não, não tenho condições técnicas de julgar. No entanto, certas
horas, eu me sinto como um católico geneticamente produzido, ou um católico genético. Quase que escrevia “genérico”, como os remédios que não têm
marca de “grife”, e também não
estaria muito longe da verdade.
Penso que hoje, nem mais católico genético ou “genérico” eu sou. Pensando bem, não sei
o que sou, e não tenho a paciência e o brilhantismo do Roberto Lira e de outros
para sair procurando por aí. Atualmente, em termos religiosos, o que mais me
preocupa é quantos candidatos a prefeito haverá em Bom Conselho em 2012 e se
haverá algum que não seja católico. Eu duvido muito. Mas devo parar por aqui,
pois já estou misturando religião com política, o que é difícil de evitar, pois
todos dizem que “se Deus quiser”, em
2012 estarão lotados no Palácio do Coronel.
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(*) Sabendo de minha viagem de encontro aos netos, onde
voltarei a ser o Vovô Zé, republico este artigo que publiquei nesta AGD em 21
de abril de 2011. Eu sei que reler o Zé Carlos é sofrer duas vezes, mas, se
alguém já chegou aqui, desculpe pelo sofrimento. Boa Páscoa.
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