Por Zezinho de Caetés
Na última terça-feira vi, no Jornal Nacional, que redações
do ENEM, que tiraram a nota máxima, e isto significa, pela nossa lógica de
ex-professor da matéria, a nota que daríamos a uma redação do Machado de Assis,
incluíam termos como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”.
Eu já havia visto alguns textos sobre estes disparates, e
escolhi um deles, como representativo das opiniões, pelo menos daqueles que
estão de fora do MEC e da responsabilidade pela correção da prova, pertencentes
segundo ele: “A Escolinha do Professor
Mercadante”, que reproduzo lá em embaixo, para suas apreciações.
Eu até cheguei a discutir alguma coisa sobre o uso de nossa
língua pátria, inclusive com o José Fernandes que escreveu um bom texto esta
semana aqui na AGD. Eu sempre fui a favor da Reforma Ortográfica e ele contra.
Hoje, já temos que ser todos a favor, eu me volto para o problema do uso da
norma culta da língua, que é uma instituição que temos e que é de muita importância
para a existência, como nação, do nosso povo.
Eu sempre fui liberal em termos de escrever e falar a nossa
língua, achando que ela é dinâmica e merece incluir as transformações por que
passa o mundo moderno em termos de informação e comunicação. Quando proponho
usar “imeio” e o uso certas vezes, ao invés de “e-mail”, é apenas uma forma de criar
palavras para o futuro, e não como um erro grosseiro como aqueles que vieram
nas redações “nota mil” do ENEN. Tal
qual “deletar” que já se encontra
dicionarizada, em futuro breve, talvez “imeio”
também o esteja.
Mas jamais aconselhei que alguém usasse (sem as devidas
explicações) termos como “linque”, “internete”, “blogue”, etc. numa redação do ENEM, muito menos em documentos
importantes, e que exigem o uso de nossas normas de escrita. O que defendo é a
flexibilidade destas normas, para incluir os avanços da própria língua. Tanto
acho errado hoje escrever “Pharmacia”,
quanto “linque”, para efeitos do uso
da linguagem escrita, principalmente, em instituições como o MEC, que deveria
zelar pela norma culta e não ficar “pegando
os peixe”, orientados por ideologias malucas que nos querem transformar a
todos em Jecas Tatus.
Alguns perguntarão, e qual a diferença entre escrever “enchergar” e “linque”? Eu diria que, em princípio, nenhuma. Desde que se explique
no contexto porque se está usando um e outro. O estudante poderia está imitando
alguém que assim escrevesse, como estou fazendo agora. Por exemplo, o que li ontem no Blog Chumbo Grosso, a que eu daria nota mil:
Sem isto é um erro crasso, e sua redação não mereceria a nota máxima de um professor de português sensato.
PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO: - COMO DIZ GENTE DECENTE, “EU
SE DIVIRTO”... É "RASOAVEL" PARA ELE "ENCHERGAR" O QUE VOCÊ
"TROUSSE". POIS BEM, MERCADANTE, O ECONOMISTA DE BOTEQUIM, É O CHEFÃO
DA EDUCAÇÃO NO GOVERNO DA BÚLGARA TRESLOUCADA. QUANDO SE PENSA QUE A COISA PODE
PIORAR, NOS ENGANAMOS. ELAS PODEM FICAR PÉSSIMAS. HADDAD, AQUELA COISA
HORROROSA ESCOLHIDO PELOS PAULISTANOS COMO PREFEITO, SUBMETEU O ENEN AOS
MAIORES VEXAMES EDUCACIONAIS DE TODOS OS TEMPOS. NUNCA ANTES NA HISTÓRIA
DESTEPAÍZ, SE FEZ TANTAS CAGADAS EDUCACIONAIS. MESMO ASSIM, CONTINUO ACHANDO O
LULA O “MÁSSIMO” E A DILMA “EXPETACULAR”... AGORA, QUANTO AO PT É O PARTIDO DA
“IGUINORANSA”, DO “ATRAZO” E DOS SEM
“EDUCASSÃO”. PAPA FRANCISCO, PAPA FRANCISCO!!! QUANDO VAMOS NOS LIVRAR DESSA
PRAGA?!?!?!
Sem isto é um erro crasso, e sua redação não mereceria a nota máxima de um professor de português sensato.
Tenho certeza quando meu público leitor encontra um “linque” no meu texto, já sabe que isto é
coisa do Zezinho, e não o repete na escola. Embora eu o ache melhor do que “link” ou “conexão” ou outra coisa qualquer que nem sei se existe, em português,
com o mesmo significado. E eu aconselho, esperem pela sua dicionarização, em
breve ele sairá.
Antes de partir, tenho que dizer apenas uma coisa: Estudem
português, usem os dicionários e a gramática, leiam muito e nunca deixem de se
expressar, seja escrita ou oralmente, porque possam cometer erros de português.
Eu cometo às pencas, e olhem que já estudei isto bastante. No entanto, quando
forem fazer as provas, concursos, escrever em blogs, nunca queiram “enchergar” muito longe, enxerguem mais
perto e sigam o linque da AGD.
Fiquem com o texto do Reinaldo Azevedo inclusive com o
título, que me inspirou para intitular o meu. É só para vocês não dizerem que
nunca “trousse” nada para vocês. Eu
trouxe sim.
“Na “Escolinha do Professor Mercadante”,
redações como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar” merecem nota máxima!
É espantoso!
O jornal “O Globo” pediu que redações que receberam a nota máxima no
Enem — 1.000 — fossem enviadas à redação para servir de exemplo e coisa e
tal. Chegaram algumas. E lá havia
maravilhas como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”. Parece pouco? Havia erros
em penca de concordância verbal, de concordância nominal, de conjugação verbal,
de acentuação. Não obstante, esses candidatos mereceram a nota máxima — é bem
provável que os corretores também não soubessem o certo, não é?
O Globo entrou em contato com o MEC. Recebeu uma resposta burocrática e
cretina. Em nota, o ministério afirma que “um texto pode apresentar eventuais
erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um
excelente domínio das estruturas da língua portuguesa”.
É enrolação. Ninguém está sustentando o contrário. Até pode acontecer. Ocorre
que “nota mil” caracteriza a redação que conseguiu eficiência máxima em todos
os quesitos. E um deles é justamente a fidelidade à normal culta da língua. De
resto, “trousse”, “enchergar” e “rasoavel” não são variantes linguísticas nem
segundo as considerações dos aloprados do “nós pega os peixe”. Vai bem a
escolinha do professor Mercadante. Leiam trecho da reportagem de Lauro Neto.
*
“Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de
grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de
Ensino Médio 2012 (Enem). Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos
enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das
notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades
federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua
portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal,
acentuação e pontuação. Apesar de seguirem a proposta do tema “A imigração para
o Brasil no século XXI”, os textos não respeitavam a primeira das cinco
competências avaliadas pelos corretores: “demonstrar domínio da norma padrão da
língua escrita”. Cada competência tem a pontuação máxima de 200 pontos.
Segundo o “Guia do participante: a redação no Enem 2012”, produzido
pelo MEC, os 200 pontos na competência 1 são atingidos apenas se “o
participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando ou
apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita.
(…) Desvios mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem a
redação da pontuação mais alta”. O manual aponta, entre os desvios mais graves,
erros de grafia, acentuação e pontuação. Na mesma redação em que figura a
grafia “rasoavel”, palavras como “indivíduos”, “saúde”, “geográfica” e
“necessário” aparecem sem acento. E ao menos dois períodos terminam sem o ponto
final.
Em outro texto recebido pelo GLOBO, aparecem problemas de concordância
verbal, como nos trechos “Essas providências, no entanto, não deve (sic) ser
expulsão” e “os movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)”. O
mesmo candidato, equivocadamente, conjuga no plural o verbo haver no sentido de
existir em duas ocasiões: “É fundamental que hajam (sic) debates” e “de modo
que não hajam (sic) diferenças”. Uma terceira redação nota 1.000 apresenta a
grafia “enchergar”, além de problema de concordância nominal no trecho “o
movimento migratório para o Brasil advém de necessidades básicas de alguns
cidadãos, e, portanto, deve ser compreendida (sic)”. Em outro texto, além da
palavra “trousse”, há ausência de acento circunflexo em “recebê-los” e uso
impróprio da forma “porque” na pergunta “Porém, porque (sic) essa população
escolheu o Brasil?”. Pós-doutor em Linguística Aplicada e professor da UFRJ e
da Uerj, Jerônimo Rodrigues de Moraes Neto diz que essas redações não deveriam
receber a pontuação máxima.
“A atribuição injusta do conceito máximo a quem não teve o mérito
estimula a popularização do uso da língua portuguesa, impedindo nossos alunos
de falar, ler e escrever reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso,
provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis
profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua
portuguesa”, aponta Moraes Neto.
Claudio Cezar Henriques, professor titular de Língua Portuguesa do
Instituto de Letras da Uerj, reitera que, ao ingressar na universidade, esses
alunos terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico se
quiserem se tornar profissionais capacitados. Ele observa que a banca corretora
não usa o termo “erro”, mas “desvio”, algo que, segundo ele, é “eufemismo da
moda”.
“A demagogia política anda de braço dado com a demagogia linguística. É
preciso lembrar que as avaliações oficiais julgam os alunos, mas também julgam
o sistema de ensino. Na vida real, redações como essas jamais tirariam nota
máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal, pareceres,
relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem
esses desvios/erros colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e
jornalistas, não é?”, ele indaga.”
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