Em manutenção!!!

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Escolinha do Professor Mercadante





Por Zezinho de Caetés

Na última terça-feira vi, no Jornal Nacional, que redações do ENEM, que tiraram a nota máxima, e isto significa, pela nossa lógica de ex-professor da matéria, a nota que daríamos a uma redação do Machado de Assis, incluíam termos como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”.

Eu já havia visto alguns textos sobre estes disparates, e escolhi um deles, como representativo das opiniões, pelo menos daqueles que estão de fora do MEC e da responsabilidade pela correção da prova, pertencentes segundo ele: “A Escolinha do Professor Mercadante”, que reproduzo lá em embaixo, para suas apreciações.

Eu até cheguei a discutir alguma coisa sobre o uso de nossa língua pátria, inclusive com o José Fernandes que escreveu um bom texto esta semana aqui na AGD. Eu sempre fui a favor da Reforma Ortográfica e ele contra. Hoje, já temos que ser todos a favor, eu me volto para o problema do uso da norma culta da língua, que é uma instituição que temos e que é de muita importância para a existência, como nação, do nosso povo.

Eu sempre fui liberal em termos de escrever e falar a nossa língua, achando que ela é dinâmica e merece incluir as transformações por que passa o mundo moderno em termos de informação e comunicação. Quando proponho usar “imeio”  e o uso certas vezes, ao invés de “e-mail”, é apenas uma forma de criar palavras para o futuro, e não como um erro grosseiro como aqueles que vieram nas redações “nota mil” do ENEN. Tal qual “deletar” que já se encontra dicionarizada, em futuro breve, talvez “imeio” também o esteja.

Mas jamais aconselhei que alguém usasse (sem as devidas explicações) termos como “linque”, “internete”, “blogue”, etc. numa redação do ENEM, muito menos em documentos importantes, e que exigem o uso de nossas normas de escrita. O que defendo é a flexibilidade destas normas, para incluir os avanços da própria língua. Tanto acho errado hoje escrever “Pharmacia”, quanto “linque”, para efeitos do uso da linguagem escrita, principalmente, em instituições como o MEC, que deveria zelar pela norma culta e não ficar “pegando os peixe”, orientados por ideologias malucas que nos querem transformar a todos em Jecas Tatus.

Alguns perguntarão, e qual a diferença entre escrever “enchergar” e “linque”? Eu diria que, em princípio, nenhuma. Desde que se explique no contexto porque se está usando um e outro. O estudante poderia está imitando alguém que assim escrevesse, como estou fazendo agora. Por exemplo, o que li ontem no Blog Chumbo Grosso, a que eu daria nota mil:


PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO: - COMO DIZ GENTE DECENTE, “EU SE DIVIRTO”... É "RASOAVEL" PARA ELE "ENCHERGAR" O QUE VOCÊ "TROUSSE". POIS BEM, MERCADANTE, O ECONOMISTA DE BOTEQUIM, É O CHEFÃO DA EDUCAÇÃO NO GOVERNO DA BÚLGARA TRESLOUCADA. QUANDO SE PENSA QUE A COISA PODE PIORAR, NOS ENGANAMOS. ELAS PODEM FICAR PÉSSIMAS. HADDAD, AQUELA COISA HORROROSA ESCOLHIDO PELOS PAULISTANOS COMO PREFEITO, SUBMETEU O ENEN AOS MAIORES VEXAMES EDUCACIONAIS DE TODOS OS TEMPOS. NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTEPAÍZ, SE FEZ TANTAS CAGADAS EDUCACIONAIS. MESMO ASSIM, CONTINUO ACHANDO O LULA O “MÁSSIMO” E A DILMA “EXPETACULAR”... AGORA, QUANTO AO PT É O PARTIDO DA “IGUINORANSA”, DO  “ATRAZO” E DOS SEM “EDUCASSÃO”. PAPA FRANCISCO, PAPA FRANCISCO!!! QUANDO VAMOS NOS LIVRAR DESSA PRAGA?!?!?!


Sem isto é um erro crasso, e sua redação não mereceria a nota máxima de um professor de português sensato.

Tenho certeza quando meu público leitor encontra um “linque” no meu texto, já sabe que isto é coisa do Zezinho, e não o repete na escola. Embora eu o ache melhor do que “link” ou “conexão” ou outra coisa qualquer que nem sei se existe, em português, com o mesmo significado. E eu aconselho, esperem pela sua dicionarização, em breve ele sairá.

Antes de partir, tenho que dizer apenas uma coisa: Estudem português, usem os dicionários e a gramática, leiam muito e nunca deixem de se expressar, seja escrita ou oralmente, porque possam cometer erros de português. Eu cometo às pencas, e olhem que já estudei isto bastante. No entanto, quando forem fazer as provas, concursos, escrever em blogs, nunca queiram “enchergar” muito longe, enxerguem mais perto e sigam o linque da AGD.

Fiquem com o texto do Reinaldo Azevedo inclusive com o título, que me inspirou para intitular o meu. É só para vocês não dizerem que nunca “trousse” nada para vocês. Eu trouxe sim.


“Na “Escolinha do Professor Mercadante”, redações como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar” merecem nota máxima!

É espantoso!

O jornal “O Globo” pediu que redações que receberam a nota máxima no Enem — 1.000 — fossem enviadas à redação para servir de exemplo e coisa e tal.  Chegaram algumas. E lá havia maravilhas como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”. Parece pouco? Havia erros em penca de concordância verbal, de concordância nominal, de conjugação verbal, de acentuação. Não obstante, esses candidatos mereceram a nota máxima — é bem provável que os corretores também não soubessem o certo, não é?

O Globo entrou em contato com o MEC. Recebeu uma resposta burocrática e cretina. Em nota, o ministério afirma que “um texto pode apresentar eventuais erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um excelente domínio das estruturas da língua portuguesa”.

É enrolação. Ninguém está sustentando o contrário. Até pode acontecer. Ocorre que “nota mil” caracteriza a redação que conseguiu eficiência máxima em todos os quesitos. E um deles é justamente a fidelidade à normal culta da língua. De resto, “trousse”, “enchergar” e “rasoavel” não são variantes linguísticas nem segundo as considerações dos aloprados do “nós pega os peixe”. Vai bem a escolinha do professor Mercadante. Leiam trecho da reportagem de Lauro Neto.
*
“Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio 2012 (Enem). Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal, acentuação e pontuação. Apesar de seguirem a proposta do tema “A imigração para o Brasil no século XXI”, os textos não respeitavam a primeira das cinco competências avaliadas pelos corretores: “demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita”. Cada competência tem a pontuação máxima de 200 pontos.

Segundo o “Guia do participante: a redação no Enem 2012”, produzido pelo MEC, os 200 pontos na competência 1 são atingidos apenas se “o participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando ou apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita. (…) Desvios mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem a redação da pontuação mais alta”. O manual aponta, entre os desvios mais graves, erros de grafia, acentuação e pontuação. Na mesma redação em que figura a grafia “rasoavel”, palavras como “indivíduos”, “saúde”, “geográfica” e “necessário” aparecem sem acento. E ao menos dois períodos terminam sem o ponto final.

Em outro texto recebido pelo GLOBO, aparecem problemas de concordância verbal, como nos trechos “Essas providências, no entanto, não deve (sic) ser expulsão” e “os movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)”. O mesmo candidato, equivocadamente, conjuga no plural o verbo haver no sentido de existir em duas ocasiões: “É fundamental que hajam (sic) debates” e “de modo que não hajam (sic) diferenças”. Uma terceira redação nota 1.000 apresenta a grafia “enchergar”, além de problema de concordância nominal no trecho “o movimento migratório para o Brasil advém de necessidades básicas de alguns cidadãos, e, portanto, deve ser compreendida (sic)”. Em outro texto, além da palavra “trousse”, há ausência de acento circunflexo em “recebê-los” e uso impróprio da forma “porque” na pergunta “Porém, porque (sic) essa população escolheu o Brasil?”. Pós-doutor em Linguística Aplicada e professor da UFRJ e da Uerj, Jerônimo Rodrigues de Moraes Neto diz que essas redações não deveriam receber a pontuação máxima.

“A atribuição injusta do conceito máximo a quem não teve o mérito estimula a popularização do uso da língua portuguesa, impedindo nossos alunos de falar, ler e escrever reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso, provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua portuguesa”, aponta Moraes Neto.

Claudio Cezar Henriques, professor titular de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da Uerj, reitera que, ao ingressar na universidade, esses alunos terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico se quiserem se tornar profissionais capacitados. Ele observa que a banca corretora não usa o termo “erro”, mas “desvio”, algo que, segundo ele, é “eufemismo da moda”.

“A demagogia política anda de braço dado com a demagogia linguística. É preciso lembrar que as avaliações oficiais julgam os alunos, mas também julgam o sistema de ensino. Na vida real, redações como essas jamais tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal, pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem esses desvios/erros colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e jornalistas, não é?”, ele indaga.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário