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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

VOZES DA SECA



Por Zé Carlos

Certas horas me bate o “bicho futucador”, e começo a manusear coisas antigas, principalmente papeis velhos ou livros velhos, o que dá no mesmo, pois é tudo ainda de papel, em minha pequena biblioteca. Nestas “futucações”, quase sempre incentivadas, quando não impostas, por minha mulher, eu encontrei um recorte de jornal (Diário de Pernambuco de 08.10.2006) onde, numa coluna chamada Direito de Família,  eu encontrei algo que me chamou a atenção.

Primeiro, vendo aquele pedaço de papel, já mais para bege do que para branco, pensei, ora, se eu guardei isto é porque ele deve ter alguma importância. Fui lê-lo, então. Compartilho com vocês parte do que li, e o comento em seguida:

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão.

Depois de um certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.

Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos.

A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato, um terceiro foi substituído, e repetiu-se o fato. Um quarto e finalmente, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:

"Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."

O texto ainda diz que foi originalmente apresentado pela doutora em Direito e psicóloga Lídia Reis de Almeida Prado, que ensinava na USP (digo ensinava, porque, naquela época, eu também o fazia e hoje só escrevo bobagens aqui neste blog, podendo ter o mesmo acontecido com ela, sem o blog e sem as bogagens, pois ela não parece maluca), e que ligava o texto ao Direito de Família, para ilustrar o que o ele chama de “paradigma”, citando os exemplos do “pai provedor” (por que o pai e não a mãe é que deve prover o lar dos bens materiais?, da “mulher submissa” (por que a mulher teve que se submeter sempre ao homem, e às vezes até ficam viciadas nisto, pela sua formação? LP que perdoe, o exemplo), ou mesmo a “entidade familiar” formada pelo casamento (por que deva haver uma família e de tal e tal modo?).

Todos este casos são mostrados pelo autor da Coluna para ilustrar como se nasce um “paradigma”. Este termo me soa familiar, mas não vou explicá-lo aqui. Basta o que comecei a escrever sobre amostragem, e que não sei como terminar, tentando colocar “mão-de-pilão em recipiente pequeno”, pois o blog não é para estas coisas. Mesmo assim para continuar eu  tenho que dizer onde vi esta palavra, com mais frequência, e nem vou dizer que ela veio do grego pois me exigiria ir na internet, procurar mais coisas.

Dizem que nossa Ciência, que hoje é o método de conhecimento mais importante e considerado o mais moderno (antes era a Teologia e a Filosofia, e ninguém reclamava) vive destes paradigmas. Por exemplo, mesmo quando se acreditava que o sol girava em torno da terra, ela explicava muito bem porque há um dia atrás do outro e um noite no meio. Hoje, já se sabendo que isto não é verdade ela até explica o fato com mais precisão. E mesmo no tempo mais presente ainda, com a tal de física quântica e os gurus indianos, já se diz é que o universo gira é em torno da gente, de nossa consciência, mas, isto é assunto para o amigo Roberto Lira.

Todos estes eram paradigmas, e que no fundo, não passam do uso da mente humana para explicar fatos que geram novos fatos. E assim caminha a humanidade e a macacada, quando sujeitos ao banho de água fria. Todos nós acabamos aprendendo.

Eu não vou aqui entrar outra vez na seara dos estudiosos do Direito, pois, no caso do anonimato, eu encontrei o brilhante Dr. Renato Curvelo para me salvar no II Encontro de Blogueiros, mas, não sei qual é a opinião dele sobre este tema paradigmático. Digo apenas que são divagações, e se alguém discordar pode me sacudir, pois talvez eu esteja sonhando.

O caso dos macacos banhados com água fria e que passam para as novas gerações seus hábitos, é uma imagem formidável, por ser bastante realista do que se passa com os humanos. Todos nós, no fundo  no fundo, passamos o tempo todo olhando o nosso cacho de bananas, e quase sempre não temos coragem de ir até ele e degustar uma delas. São os costumes, as leis, as religiões, e agora até a imprensa, e por que não? os blogs, a nos dizerem: “Olha, se você pegar uma banana sequer, pode esperar um jato de água fria pela traseira. Não se atreva!”

Até que vem algum macaco esperto, digo um ser humano mais evoluído, e pega uma banana, a come, enquanto os outros, em princípio, ficam-no criticando pelo ato,  enquanto o que está comendo a banana se resfestela-se com o acepipe natural. Quem estará certo, o macaco corajoso, ou o os macacos medrosos, digo, homens medrosos?

E lá vai eu, um homem medroso, digo, macaco evoluído, mas, medroso, subir em cima do muro. Não para comer as bananas pois nunca fui de fazer isto, mas, para estar pronto para pular para o lado certo, se algum dia eu souber qual é. E eu digo que depende da hora e do lugar, se estivermos pensando na humanidade e em sua evolução mais do que no bem estar de indivíduos e grupos particulares e específicos.

Para desenvolver o exemplo dos macacos,  suponha que, ao invés do jato de água fria, quando um macaco subisse para pegar uma banana, os cientistas dariam duas bananas àqueles que não subiram, e deriam um jato de água fria naquele que subiu. É óbvio que o macaco que teve o trabalho de subir a escada para comer uma banana, quando precisasse de mais uma banana não iria mais subir lá. Ele iria esperar as duas bananas que os cientistas deram aos outros, e ainda contar a todos o que sofreu para pegar a banana no topo da escada. Se os macacos fossem substituídos, iriam chegar a um ponto, onde o comportamento seria o mesmo para todos também, pois todos ficariam esperando as bananas dos cientistas. Ninguém subiria mais na escada, e se perguntados por que não, todos diriam:

"Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."

Estaria criado na sociedade dos macacos um novo paradigma de comportamento e deveria ser perpetuado pelo Direito de Família. Talvez, numa lei que dissesse que todos os macacos, quando estivessem com fome, os cientistas deveriam dar-lhe duas bananas.

Talvez tenha sido uma história destas, ou um paradigma destes que levou o Luís Gonzaga e o Zé Dantas a comporem a linda música (que coloco abaixo de brinde, pois agora todos os blogs o dão,  e tenho que manter o paradigma) Vozes da Seca que diz, entre outras coisas:

“Seu dotô os nordestinos
Tem muita gratidão
Pelo auxilio dos sulistas
Nesta seca do Sertão
Mas dotô uma esmola
A um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicia o cidadão.”

Na certa eles estavam pensando nos macacos que talvez se envergonhassem de receber as duas bananas dos cientistas, mas não tinham opção a não ser levar água fria na bunda. Aquele era um paradigma. Agora,  não  sei porque, eu pensei no Bolsa Família.  Já  aviso que o paradigma das ONGs é outro.

Um comentário:

  1. Um artigo excelente, cara Zé Carlos. É uma pena que minha posição não me permita identificar, mas fica o registro. O Bolsa Família é a banana que este governo dá ao nosso povo. Já virou um paradigma da política, todos são a favor e por isso ninguém vê o mal que ele faz ao nosso povo. Parabéns.

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