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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

As pesquisas eleitorais e o Seminário Real do Bulandi - Os amostrados.




Por Zé Carlos


Semana passada, vendo os resultados de uma pesquisa sobre o processo eleitoral em nossa cidade vizinha de Garanhuns, fiz algo que não costumo fazer muito. Não porque não goste mas porque me falta tempo, que é comentar nos blogs. Para fazer isto, meu cérebro teve que usar algumas peças enferrujadas há muito tempo, desde quando estudei um pouquinho de Estatística, o que tanto usei para ganhar a vida.

É sempre assim quando já usamos algo, paramos, o equipamento enferruja e quando o queremos  usar outra vez, vemos que ele já não tem mais a eficiência de outrora, mesmo que pequena. Isto quando sua vida útil não se acabou ainda e nem tenha o prazo de validade vencido.

Aconteceu que foram publicados e analisados os resultados de uma pesquisa sem falar, no que meu equipamento quando era novo, chamava de outro nome, o que não vem ao caso, mas hoje eles chamam de “margens de erro”. Este nome ficou sempre em nossa mente, pois vemos todos os dias os apresentadores das pesquisas, principalmente nos telejornais dizerem: “A margem de erro é de 2%, para mais ou para menos”.

Nas pesquisas de Garanhuns não apareceram, por esquecimento dos seus apresentadores e não por má fé deles, estas “margens de erro”. Entretanto, esta tal de “margem de erro” é importante, porque, nestas pesquisas, nós entramos no mundo das probabilidades. É um verdadeiro inferno de Dante, onde tem alguém na porta e diz: “Quando entrarem aqui, esqueçam todas as certezas, pois elas não lhes servirão de nada”.

Tudo começa por culpa do próprio homem, depois dele descobrir que, ao deixar o paraíso, tudo tem um custo, ou como um colega meu sempre repete: “Não há mais almoço grátis”. E isto se aplica tanto ao consumo de batatas como ao consumo e produção de informações.

Desde então, vieram os economistas (meus equipamentos cerebrais um dia lidaram com Economia, mas, nesta parte, sua vida útil já acabou há muito tempo) e inventaram, não a roda, mas, disseram que para ter uma roda mais barata era preciso fazer as escolhas certas de como ela deve ser produzida, usando os processos tecnológicos “mais em conta”. Ou seja, você pode construir uma roda, começando de um quadrado colocando-a num carro e, tangendo o boi, fazendo o pobrezinho suar tanto, que com o tempo o quadrado se torne redondo, ou, pode simplesmente usar alguns equipamentos para arredondar o quadrado. Este último processo é muito mais econômico, e passa a ser utilizado. É por isso que não usamos mais máquina de datilografia. Que pena, para quem estudou na Escola Pratt, em Bom Conselho.

Nas pesquisas eleitorais, por exemplo, aconteceu o mesmo. Houve um tempo que para se saber quem iria ganhar as eleições, ficávamos esperando durante 15 ou 20 dias depois delas, esperando seus resultados, quando chegassem as urnas lá dos grotões para serem apuradas. Hoje não acontece mais isto com a tecnologia de votar, nem com a tecnologia de fazer pesquisas eleitorais.

Com estas pesquisas se passa normalmente o mesmo que acontece com qualquer coisa onde se use conhecimento acumulado para melhorar o bem estar das pessoas. Agora só me vem à mente um exemplo do que seja tecnologia usada para este fim. Eu não sei, e poucos sabem como funciona um automóvel por dentro, em suas mais íntimas engrenagens, mas eu já dirijo um, mesmo mal, mas gosto dos resultados. Mas quando vejo um sem portas fico me perguntando o porquê. O mesmo acontece com as pesquisas eleitorais.

Havia um reino democrático, dizem que lá “pras bandas” do Bulandi, região misteriosa de Bom Conselho, cujo Rei era o que chamam de um “déspota esclarecido”, o que seria o ideal para um sistema político, se ele existisse de verdade, pois dizem que ele seria o detentor de poderes que faziam justiça completa ao seu povo.

Numa das suas eleições havia dois candidatos ao cargo de primeiro ministro do reino, que era escolhido por eleições diretas: o Zé Abílio e o Josino Villela. Todo o reino estava envolvido no processo eleitoral. Comício de um lado, comício do outro. Compra de votos de um lado, compra de votos do outro, pois o Rei era esclarecido mas, não era Deus. Carreatas de um lado carreatas de outro, quase igual ao que a acontece hoje em nossa terra. Todo ano de eleição o Rei passava pela amargura de tentar descobrir, antes dos votos serem computados, quem seriam os vencedores da eleição.

Ele, como um homem sábio e esclarecido sabia que seria impossível fazer uma consulta prévia com toda população, pois, nesta época já existiam economistas no seu reino, que o aconselhavam dizendo que havia muito pouco benefício neste ato, para os custos envolvidos no processo do Rei sair perguntando a um por um em quem ele votaria. Ele aprendeu a lição de que certas coisas não devem ser feitas, mesmo que tenham um potencial imenso para agradar a população, pelo simples fato de que são demasiadamente caras. Não sei porque me passou pela mente a Copa do Mundo.

O Rei, inicialmente, aceitou a ideia de fazer consultas a apenas algumas pessoas que tinham grande conhecimento do processo eleitoral. Os seus assessores escolhiam alguns eleitores que eles sabiam bons representantes da comunidade e os perguntavam sobre quem ganharia as eleições. Depois de ouvidos, eles elaboravam um pouquinho os resultados e levavam ao Rei. O Rei chamava estes eleitores espertos de “amostrados”, ou, seja que queriam se amostrar, e num breve curto espaço de tempo o processo de pesquisa já estava se chamando de “amostragem”. Que nada mais é do que um método de se economizar dinheiro para obter informações.

Viu-se que muitas vezes os “amostrados” acertavam e outras erravam. E, “prá encurtar a historia”, o processo foi se sofisticando e foram sendo criados novos métodos enquanto se criavam novos especialistas na matéria, e cada dia os resultados eram melhores. Chegaram até à sofisticação de dividir os “amostrados” por grupos ou cotas, e a enviar-lhes formulários para que eles os preenchessem, por ordem do Rei, etc. etc.

Como sempre ocorre com a raça humana, o livre arbítrio nos leva à sobrevivência e quando ela é conseguida, inventa-se uma sobrevivência num nível mais alto para justificar ficar rico e famoso. A cada dia apareciam novos métodos de “amostragem”, e o Rei, esclarecido, ficava cada dia mais contente, quando, com o conhecimento dos métodos, controlava melhor seus assessores que, de vez em quando, sopravam no ouvido dele resultados falsos. E isto deixava o Rei, que era justo, preocupado.

Até que um dia, chegou um desses caras bem “nerd” mesmo e disse ao Rei que havia uma maneira “científica” de fazer as pesquisas, usando uma tal de teoria das probabilidades que era ao mesmo tempo mais barata e produzia resultados que eram livres da influência de assessores impuros. Ora, para um Rei justo não haveria nada melhor. Se, por um custo adequado ele pudesse saber antes se seria o Zé Abílio ou se seria o Josino Villela que ganharia as eleições, ele estaria com a faca e queijo na mão para evitar que um dos dois fizesse poucas e boas com o povo.

Só havia um problema com o método. Ele era tão complicado que nem o seu próprio criador poderia explicar o seu funcionamento. Mas, para o Rei, isto era um ponto fundamental, pois ele não poderia permitir a aplicação de um método que ele não entenderia. E disse ao criador:

- Tudo bem senhor cientista. Eu permito que o senhor use este método que o senhor fala, mas, se ele der resultados errados, eu corto sua cabeça.

Ora, o cientista, que dizem ter estudado Economia, não quis entrar nessa enrascada e tentou uma forma de explicar ao Rei o seu método de amostragem. Propôs então a realização de um Seminário, que reuniu todos os interessados do reino pela “amostragem”. Chamou-se o Seminário Real de Amostragem.

(Brevemente, publicarei, um apanhado de todo este importante simpósio sobre este importante método que permite saber quem ganhou antes deles ganharem. Aguardem).

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