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sábado, 12 de novembro de 2011

Os arroubos da juventude




Por Zezinho de Caetés

Agorinha mesmo estava lendo o Blog da Lucinha Peixoto que, segundo ela é um “Blog do Povo, pelo povo e para o povo de Bom Conselho”. Bem, ela pode até nem ajudar o povo de lá mas, que se interessa pela terra dela isto é um fato. Ou, pelo menos, mais do que eu me interesso pela minha Caetés, a não ser quando falo do meu sonho da Academia Caeteense de Letras, ou quando me lembro das desfeitas que comigo fez meu conterrâneo, hoje padecendo de uma enfermidade difícil, o Lula, eu fico triste por isso também.

No blog de Lucinha, ele fala sobre alguém que ela chama de Dr. Filhinho, e fala tão mal, que eu corro para explicar que longe de mim querer me meter em questões da terra dela, e nem teria cabimento. Conheço aquela terra e alguns pessoas de lá, mas meu ramo de escrita gira em torno da região, estado, país e mundo, deixando Bom Conselho de lado. Apenas me chamou atenção o argumento que ela desenvolve em torno do jovem, que segundo parece, já está se formando em Medicina, mas, segundo ela, não pensa com a idade cronológica, mas, com uma idade mental muito menor do que a dada pela linha do tempo.

Não sei se é verdade ou não mas me levou a pensar nos atos tresloucados dos estudantes paulistas, naquela malfadada invasão da USP, sobre o que já escrevi aqui comentando um texto do Blog do Alon (aqui). Até que enfim a coisa foi resolvida, sem antes haverem os protestos contra a polícia e as arruaças de sempre. Foram parar todos no xilindró.

Li que havia entre eles até os chamados estudantes profissionais, representados num dos líderes que já havia sido jubilado em um curso e entrou noutro para continuar usufruindo da comida barata e das mordomias proporcionadas pela nossa universidade pública. Além disso já respondia a muitos processos policiais, enquanto na universidade passava por bom moço, já que não poderia passar por bom estudante.

Coisas da democracia ainda nova no Brasil, onde as pessoas ainda sentem a nostalgia dos tempos da ditadura e a política resvala para uma falta de ética, que não produz incentivo nenhum a nossa juventude. Quase cometo a heresia de dizer que a necessidade de uma causa justa, leva à luta por causas rasteiras e anti-democráticas. Vivemos num país onde não há mais nada pelo que lutar, pois o lulo/petismo já conseguiu tudo. Não há mais pobres, não há mais miséria, não há mais problemas na saúde, na habitação, no saneamento, na educação e nem mesmo nos esportes, pois o mestre é corintiano. Quem diz que isto não é verdade é um direitista carcomido pelo vírus da inveja e do reacionarismo.

Então os meninos, não tendo mais nada o que fazer vão fumar maconha e bater na polícia, relembrando um pouco a rebeldia sem causa de 1968, onde era proibido proibir. Pelo menos, a polícia de  São Paulo, conseguiu proibir, democraticamente, o que uns poucos acham que não é proibido, mais por esperteza do que por convicção.

Vejam em seguida o excelente texto do Sandro Vaia sobre o caso, publicado no Blog do Noblat e que tem como título: “Meu reino por uma causa”, para meditação neste fim de semana, onde ainda não se sabe, até a hora em que escrevo, se o ministro, que ama a presidenta ainda está nos quadros do governo. Fiquemos com os arroubos da juventude.

Um jovem é um ser imaculado por natureza, e por ser puro é inimputável.

Antes de crescer, ele tem direito a uma cota de desatino que já lhe é concedida não só pela natureza mas pela má consciência dos adultos, que veem neles a encarnação dos sonhos que perseguiram na juventude e abandonaram para tocar a maldita, prosaica e material vida.

Por isso é muito malvado e reacionário querer impor freios à natural energia criadora dos jovens.

É isso que faz, por exemplo, o repórter da TV Globo chamar de “meninos” meia dúzia de marmanjos jubilados que usam o campus da universidade para exercitar seu peculiar senso de democracia, onde 300 se acham no direito de dizer o que os outros 84.700 devem fazer ou pensar da vida.

É muito “libertador” querer expulsar do campus universitário uma polícia que foi chamada para reprimir o crime (e conseguiu reduzi-lo em quase 90%) mas que não pode aplicar a mesma lei a todos, porque, como sabemos, no nosso modelo de democracia, todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros.

A lei é para os comuns, e alguns vetustos senadores e alguns sobredotados estudantes universitários são incomuns - portanto, fora do alcance da lei.

Desde maio de 1968 a efervescência política juvenil foi alçada à categoria de pensamento, ainda que a memória daquela época não tenha deixado legados muito mais concretos do que a mitificação de alguns danny-le-rouges e alguns filmes épico-existenciais de Godard e Bertolucci.

O episódio da reitoria da USP está mais para uma estética J.B.Tanko do que uma estética Bertolucci, mas mesmo assim é compreensível que jovens ajam como jovens e demonstrem toda a sua monumental ignorância histórica comparando o chega-pra-lá da PM com a repressão da ditadura e chamando de “tortura” as duas horas de calorão forçado dentro de um ônibus.

O cômico quase desaparecimento de um aluno filho de pai militante, que esteve a ponto de transformar em mártir o pimpolho que estava bem protegido na casa da mamãe, encerrou com chave de ouro a épica jornada dos estudantes à procura de uma causa.

A desocupação da reitoria, em cumprimento a uma decisão judicial de reintegração de posse, foi executada com a devida serenidade e cautela pela tropa da PM, e os estudantes e seus apoiadores procuraram com minúcias um hematoma que fosse para transformar em bandeira, mas não conseguiram achar sequer um mísero arranhão para chamar de arbitrariedade ou violência. Um fiasco.

Ao ver aqueles meninos e alguns nem-tão-meninos privilegiados olhando para a polícia com o desdém que os oprimidos dedicam aos opressores, foi impossível não lembrar do intelectual comunista italiano Pier Paolo Pasolini e seu famoso poema sobre a Batalha do Valle Giulia, um embate entre policiais e estudantes da Universidade de Roma ocorrido em março de 1968, no contexto da revolta estudantil que abalou toda a Europa.

Naquela batalha, dizia o marxista Pasolini, ele simpatizava com os policiais, pois eles eram os verdadeiros filhos de famílias pobres, e os estudantes eram os filhos da burguesia.

A eles disse:

Vocês são medrosos, inseguros, desesperados (muito bem)
mas sabem também como ser
prepotentes, chantagistas, seguros
prerrogativas pequeno burguesas, amigos.

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