Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Diariamente Zé da Vassoura percorria a Ponte Duarte Coelho pela madrugada. Saia dos bares em direção ao sobrado pensionato na Rua da União. Nunca tinha lhe aparecido nada, andava devagar sob a luz tênue, da madrugada, sem assombrações. O tempo não lhe incomodava, podia ser inverno caminhando sob a chuva fina ou no verão sob a brisa da noite, não importava, o que importava mesmo era ele sempre estar em companhia dos amigos de bar, sentado e proseando as gargalhadas tomando gole da aguardente com limão, sua bebida predileta. Às vezes por insistência tomava um copo de cerveja, fazendo uma careta danada, dizendo que esta bebida não lhe animava, preferia como sempre a sua caninha.
Em uma noite de inverno, escura e com alguns postes de luz as escuras, caminhando sob uma chuva fina para o sobrado pela ponte escorregadia com os pés molhado dentro de um tênis azul e branco comprado no Mercado de São José, deu-se um imprevisto que foi contado pelo Zé da Vassoura aos seus amigos em noitada de farra, na Praça do Sebo estendendo-se para um boteco no Pátio do Terço:
“Foi assim! Sai do Bar do Gordo mais ou menos uma hora da madrugada. Fui o último a sair do bar já com as portas abaixadas, a garçonete que eu tinha uma predileção por ela, jogava água debaixo das mesas e com uma vassoura esfregando o chão.
Tomei a saideira, mesmo contra a vontade do dono do bar Epaminondas que não queria mais despachar, mas como a minha insistência era tanta ele serviu mal humorada a penúltima dose, porque a última eu não vou tomar, pois já estou morto e morto não bebe. Olhei para os quatro cantos e chuva fina deslizava pela rua e ai coloquei o meu boné e comecei a andar em direção ao meu sobrado, no segundo andar da Rua da União, onde morava há mais de cinco anos, desde que deixei a “dona encrenca”. Passei pela marquise do Agencia dos Correios. Muito morador da rua se ajeitava contra a frieza da noite enrolados em molambos sujos em cima papelão que lhe servia de colchão. Olhei com desprezo aquela gentalha ali deitadas e, mas ao mesmo tempo me veio o arrependimento e tive dò daqueles ali rejeitados pela sociedade e muito mais pelo Governo que nada mais faz em beneficio dos mais sofridos, dando-lhe pelos menos uma vida melhor.
Mas, deixa prá lá! Acenou com a mão.
Segui o caminho. Já não sentia frio. Atravessei a Rua do Sol em plena chuva. Baixei a aba do boné e um blusão que me serviu de agasalho, levantei o feche Clair. Quando chego no meio da ponte, com luzes apagadas e nenhum ser vivente circulando, senti umas pisadas estalando no granito. Parei. Olhei para trás desconfiado e nada vi. Assustei-me. Segui caminhando de ouvidos abertos e mais apressado. De repente, mais uma vez ouvi as pisadas, olhei para trás e nada vi. Apressei o passo. A cachaça que tinha tomada já não fazia efeito e o medo se instalava em mim. Atravessei a Rua da Aurora já em meia carreira. Um carro apareceu de repente na Avenida Conde da Boa Vista em velocidade, avançando o sinal vermelho. Em frente ao Edifício Pessoa de Melo já não sentia as pernas. Parei na esquina da Rua da União e nada vi. Uma casa de “recurso” continuava aberta com a radiola de ficha tocando uma musica de Nelson Gonçalves, com algumas meninas sentadas em mesas rústicas com os seus fregueses. Risos altos. O garçom já encostado no balcão pedindo que aquela fuzarca terminasse logo, mais ainda tinha muitas horas pela frente. Suado e não molhado pela chuva entrei e me sentei em uma mesa e logo apareceu uma acompanhante para me fazer companhia, com um sorriso solto.
Estás com medo?
Parece que viste fantasma?
Sossega!
Se acalme! Colocando sua mão e as unhas com um esmalte vermelho, em meu ombro como se fosse fazer uma massagem.
Olhei para ela, risonha e com um batom vermelho estonteante, contornado os lábios e uma cabeleira loira e os olhos amendoados, circulado por uma tinta preta. O vestido vermelho caia-lhe bem no corpo já um pouco desgastado.
Não! Respondi
Posso sentar?
Fiquei a meditar no que tinha acontecido há poucos minutos atrás. Seria assombração ou eu estava delirando? Esfreguei os olhos e passei a mão na testa molhada de suor, levantei-me:
Apenas disse me desculpe, vou dormir.
Sai e a poucos metros lá subia os degraus de madeira com os seus rangidos mediante o peso do corpo dando finalmente no meu quarto desarrumado. Deitei-”me do jeito que estava, dormi não sei por quanto tempo, me levantando já com o sol alto e assustado.”
Depois que contou toda esta estória, Zé Vassoura mudou de ambiente, começou a freqüentar os bares da Boa Vista, mais centrais e mais perto onde morava não precisando atravessar nenhuma ponte.
ZÉ DA VASSOURA E TODA CAMBADA DE CACHACEIRO QUE SE PREZA(COM EXCEÇÃO DO LULA, CLARO!!!), É UM BOM CAMARADA, NINGUÉM PODE NEGAR. PARA QUEM NÃO TÁ LIGADO, LEVANTE ÀS ANTENAS: TODA ASSOMBRAÇÃO É SABIDA, ELA MANJA MUITO BEM PRA QUEM APARECE!!!
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