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sábado, 19 de novembro de 2011

Lupi, uma carga pesada?





Por Zezinho de Caetés

Continuo, por dever de ofício, a tentar fazer meu papel de analista político. Está difícil, como já falei. E para ficar mais difícil ainda fui ver o depoimento do ministro do trabalho, Carlos Lupi, no senado. Como disse ontem aqui no Mural da AGD, que é o melhor meio de comunicação rápida que temos, foi deprimente.

Como se dizia lá em Caetés em minha juventude, só não chamaram o homem de “mestre de açúcar”. Não me perguntem a origem do significado disto que não sei. Apenas sei o significado.  Mesmo que não tenha sido dito nestes termos pela Senadora Kátia Abreu lá no Senado, para não ferir o decoro, seu discurso faz jus à frase que vi hoje no Blog do Noblat, atribuída a ela: “Lupi é um escroque, frio e calculista, cínico. Fica se escondendo na barra da saia da Dilma ao tentar misturar as denúncias contra ele com o governo.”

Eu não a repetiria aqui, pois os telejornais já mostraram a performance bisonha de um homem que já disse que não sairia do ministério nem à bala. Agora não precisa nem de bala para tirá-lo de lá. Basta um sopro da Dilma. O homem ainda não caiu de podre. Alguns dizem que ele está chantageando a presidenta. Penso que não. Acho que ela de tanto demitir ministro ou está com pena deles ou está cansada.

Mas, uma coisa é certa. Temos uma crise econômica que se aproxima da ainda alta popularidade da presidenta, e ela que tema, se uma crise política gerada pela sua inércia administrativa na punição dos “malfeitos” se juntarem para causarem problema. A oposição, também bisonha, já começa a acordar, e a voz rouca das ruas breve vai responder aos questionários de uma forma diferente. E quero ver o que o PT vai dizer em casa.

Hoje tudo é jornal de ontem. Até este texto, que estou enviando para ser publicado no sábado, pois já é noite de sexta, já estará defasado se o Lupi rodar. O texto abaixo já é um pouco mais velho do que este, pois foi escrito antes do depoimento de Lupi, mas, a jornalista Dora Kramer, tem todas credenciais para traçar um perfil das dificuldades da presidenta, e talvez por isso chame o texto de “Carga pesada”. E põe peso nisto. Continuem com a Dora, que eu já estou nas bancas esperando a Veja, e nem volto.

Não é confortável a situação da presidente Dilma Rousseff: ou demite o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e segue a regra aplicada a outros partidos de sua base aliada que também tiveram ministros envolvidos em denúncias em série, ou deixa tudo como está e empresta fundamento às bravatas de Lupi quanto a ser, diferentemente dos colegas, “imexível”.

Assim como o vampiro corre da luz e o diabo foge da cruz, o Palácio do Planalto tenta evitar o registro da contabilidade de seis ministros derrubados por suspeita de corrupção, fraudes e gestão indevida, para não dizer temerária.

Mas, ao resistir a fazer o que deve ser feito (a julgar pelo critério adotado pela presidente até agora) apenas para não dar o braço a torcer às pressões das denúncias que não cessam, o governo adere exatamente à lógica da qual busca fugir. Dança, ao inverso, conforme a música e não de acordo com seu critério do que seja ou não aceitável no comportamento de um ministro do Estado.

No último fim de semana acrescentaram-se novas denúncias às já existentes: a carona do ministro em jatinho na companhia de dono de ONG acusada de desviar dinheiro de convênios; a mentira ao Congresso sobre o assunto; atuação livre de lobistas dentro da pasta para acelerar processos de interesse de sindicatos; loteamento de superintendências regionais entre correligionários; privilégio na assinatura de convênios a Secretarias Municipais do Trabalho cujos titulares são filiados ao PDT.

Isso sem contar a impertinência verbal de Carlos Lupi.

Por menos caiu Nelson Jobim da pasta da Defesa, com palavras bem mais leves sobre “idiotas” imodestos, que a dúvida pública de Lupi sobre a autoridade de Dilma para demiti-lo.

Por denúncia semelhante à carona em avião contratado por empresário com negócios junto ao ministério, caiu Wagner Rossi da Agricultura.

Por convênios fraudulentos e favorecimento ao partido (PC do B), caiu Orlando Silva.

E por que Lupi não cai? Consta que no caso do PDT o buraco é mais embaixo.

Formalmente licenciado da presidência por conflito de interesses apontado pela Comissão de Ética Pública, Carlos Lupi é ministro do Trabalho e ao mesmo tempo presidente de fato do partido.

Domina a máquina de cima a baixo e isso dificultaria seu afastamento, porque deixaria o Palácio do Planalto sem interlocutor na legenda para negociar a troca de seis por meia dúzia, como foi feito nos casos anteriores.

Do ponto de vista estritamente argumentativo, a premissa seria verdadeira. Mas, no cotejo com a realidade exposta publicamente por alas dissidentes do PDT, revela-se um conveniente sofisma.

Há pelo menos dois grupos que contestam os métodos de Lupi de se fortalecer a estrutura partidária a partir do uso da máquina pública.

Um deles, aquele com representação no Parlamento, é integrado no Senado por Cristovam Buarque e Pedro Taques e, na Câmara, por Miro Teixeira e José Antônio Reguffe.

O outro se identifica com os fundadores e a liderança de Leonel Brizola. Acusa Lupi de desorganizar propositadamente o PDT para transformá-lo numa sinecura de uso pessoal.

Ambos os grupos já deixaram claro que apoiam investigações e querem ver Carlos Lupi longe do ministério e do partido.

São minoritários? São, mas mostram – como nenhum dos partidos até agora mostrou – que o PDT não é uma rocha em torno de Lupi e que, bem trabalhado, pode vir a ser uma peneira.

Ademais, mesmo junto aos que lhe são fiéis certamente pesa mais o poderio de uma presidente cuja avaliação positiva ultrapassa os 70% e ainda com três anos de mandato pela frente.”

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