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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os muitos Brasis




Por Zezinho de Caetés

Ontem vi na TV sobre os resultados do censo do IBGE. Fui em outra fontes e encontrei alguma coisa com mais substância do que os pequenos tópicos dados no Jornal Nacional.

Leiam abaixo, senhores o que eu vi, com menos detalhes na TV, e nem tive tempo procurar detalhes maiores ainda, o que escreveram Ana Veja Online os jornalistas Rafael Lemos e Lucila Soares. Eu volto em seguida.

Um país urbano, com taxas de crescimento populacional próximas das nações desenvolvidas, avanços sociais notáveis e desigualdades flagrantes, que mantém atual a idéia da coexistência de dois “Brasis”. Este é o Brasil retratado pelo Censo Demográfico de 2010, que teve mais uma etapa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. O conjunto de informações divulgado consolida as características da população e dos domicílios brasileiros levantadas em visitas a 67,5 milhões de domicílios, nos 5.565 municípios das 27 unidades da federação.

A taxa de analfabetismo é um dos indicadores em que a existência de dois Brasis se revela com mais vigor. Entre 2000 e 2010, o número de analfabetos com 15 anos de idade ou mais recuou de 13,63% para 9,6%. Mas as diferenças regionais são gritantes, e nas cidades pequenas, de até 50 mil habitantes, a situação é de calamidade educacional. No Nordeste, a taxa dessas cidades chega a 28%. Em todo o Brasil, existem 1.304 municípios com taxas de analfabetismo iguais ou superiores a 25%. Entre as crianças de 10 anos de idade, a proporção caiu de 11,4% para 6,5% na média brasileira, mas chega a 16,4% no Maranhão e a 13,7% no Piauí.

A chaga da desigualdade revela-se ainda mais impressionante quando se observam as taxas de analfabetismo associadas à cor. Enquanto na população branca existem 5,9% de analfabetos com 15 anos ou mais, entre os negros a proporção é de 14,4%, e entre os pardos, de 13%. Nas cidades pequenas, com até 5.000 habitantes, o analfabetismo entre os negros atinge 27,1%.

A essa diferença de oportunidades na educação pode-se atribuir boa parte da diferença de rendimentos constatada pelo IBGE. Os dados de rendimento ainda são preliminares, e mostram que a população brasileira é pobre. O rendimento médio mensal é de 668 reais, mas 25% dos brasileiros recebem até 188 reais, e metade da população recebia no ano passado até 375 reais, valor inferior ao salário mínimo vigente, de 510 reais. Quando se cruzam os dados de rendimento com os de cor, constata-se que negros e pardos ganham cerca de metade do que ganham os brancos. Na média brasileira, pretos recebem 834 reais por mês, e pardos 845 reais, contra 1.538 reais de brancos.

As maiores disparidades acontecem nas cidades com mais de 500 mil habitantes. Em Salvador, brancos ganham 3,2 vezes mais que pretos. Na comparação entre brancos e pardos, São Paulo aparece no topo da lista da desigualdade, com rendimentos 2,7 vezes maior.
Mulheres

A disparidade entre os rendimentos de homens e mulheres é outra distorção que persiste, embora com tendência à redução. No censo de 2000, os homens tinham rendimentos 53,33% maiores que os das mulheres. No censo de 2010, a diferença caiu para 42%.

A desigualdade entre os rendimentos de homens e mulheres reduziu-se em todas as regiões do país, exceto no Nordeste, onde essa relação ficou estável. Em 2010, metade dos homens ganhava até 765 reais, enquanto metade das mulheres recebia até 510 reais. Nos municípios com até 50 mil habitantes, os homens recebiam, em média, 47% a mais que as mulheres: 903 reais contra 615 reais. Nos municípios com mais de 500 mil habitantes, os homens recebiam, em média, 1.985 reais e as mulheres, 1.417 reais, uma diferença de cerca de 40%.

Destes, 84,4% viviam em cidades, e 15,6% em áreas rurais, consolidando um dos mais avassaladores processos de urbanização já ocorridos no mundo. Em 1950, 63,8% da população viviam no campo; em 20 anos a proporção se inverteu, e no censo de 1970 67,6% dos brasileiros já habitavam cidades.

Nos últimos 20 anos, a taxa de crescimento da população caiu a menos da metade. Entre 1991 e 2000, a população cresceu à razão de 1,64% ao ano; na década seguinte, a taxa foi de 1,17%; A idade média do brasileiro aumentou 26,5 anos para 32,1 anos entre 1991 e 2010. O Rio Grande do Sul é o estado mais velho da federação, com idade média de 34,9 anos. O saneamento básico melhorou, mas continua precário. 32,9% dos domicílios não estão ligados a rede geral de esgoto ou fossa séptica. No Nordeste, a proporção é de 54,8%.”

Fica muito claro que se fôssemos fazer um análise comparativa entre aquela época em que Lula deixou nossa Caetés e partiu para São Paulo, o Brasil e os brasileiros melhoraram de vida. Desde lá, passamos por ditaduras, governos militares, governos civis, várias formas de governo, várias constituições e até mais de uma capital do país. O que não mudou foi a ideia desde que eu era estudante de que sempre tivemos dois, três, ou mesmo muitos brasis diferentes.

Somos um Brasil Urbano quando fomos um Brasil Rural em pouco mais de meio século. Fomos 90 milhões em ação na Copa do Mundo de 1970 e seremos quase o dobro em ação na Copa de 2014. Fomos um país quase monocultor de café e somos hoje um multiprodutor de quase tudo, embora insistamos em ainda exportar matérias primas. Passamos da trigésima economia do mundo para a quinta em pouco mais de 40 anos, mas não podemos nos chamar de um país chamado Brasil, a não ser pela língua que falamos e pelo esporte que mais se pratica, o futebol.

As desigualdades é que nos representam. Quem é o jovem de 15 anos no Brasil? O do sudeste ou o do nordeste? Quem é a criança de 10 anos de idade brasileira? A do Rio Grande do Sul ou a do Maranhão? É aquela que estuda em escola com tempo integral ou aquela que nunca freqüentou uma escola? É aquela filha de pai preto no na Bahia ou aquela de pai branco em São Paulo? Não existe uma criança brasileira. São crianças e crianças.

O que quero dizer sem escrever muito é que o Brasil não mudou muito em termos de desigualdade social e econômica da época em que Lula andou de pau-de-arara para cá. Alguns melhoraram e outros pioraram, e dizem que na média tudo melhorou. Talvez, na média seja verdade, mas nos extremos continuamos os mesmos.

Ontem eu li e vi uma foto do meu conterrâneo Lula, infelizmente, padecendo de câncer, mas não perdendo sua pouse. O que é bom para todos nós. Embora, pensando bem os dois Lulas, o da década de 50 do ano passado e o de hoje, representado por qualquer dos seus netos, como o Brasil mudou. Enquanto o neto de Lula vê seu avô ser tratado no melhor hospital do país, temos com certeza centenas de netos que vêem seus avós morrerem de câncer no SUS.

E o que é mais intrigante é a desfaçatez do meu conterrâneo, explorando sua doença para fazer política. Eu já li muito sobre isto, desde aquele vídeo produzido oficialmente para mostrar quão transparente é o Lula. Poderia até perder tempo escrevendo sobre isto, mas ontem li um texto que resume muito bem o que acontece, escrito pelo Reinaldo Azevedo em seu blog, com o título: “As lendas pessoais de Lula tiranizam a política e os analistas. Ou: Doença, espetáculo e poder”. Leiam, e eu nem volto, pois estou com vergonha.

É lamentável a espetacularização do câncer, vazada como cenas da vida doméstica, protagonizada por Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, como demonstrei aqui, não esperou muito tempo e acabou revelando certamente mais do que pretendia o partido. Segundo escreveu no Twitter, Lula fez barba e cabelo e deixou o bigode para as eleições de 2012. É indecente.

Quem é da área sabe que Ricardo Stuckert é profissional dos bons. Era o fotógrafo oficial de Lula quando este era presidente e migrou com ele para o instituto. Já apontei aqui a influência da estética “Benetton”, by Oliviero Toscani, em algumas de suas fotos. Não foi diferente desta vez. O resultado, como peça de propaganda, é competente. Mas é disto que estamos falando: de propaganda. Assim como Toscani expunha um doente de Aids com a família chorando à sua volta para vender camiseta e moletom (ver o post que escrevi ontem sobre a Benetton), Lula usa a sua doença para, como comprova Berzoini, conquistar votos para o seu partido.

Profissionais da fotografia teriam muito a falar a respeito — necessitando de um tantinho de coragem, claro, para enfrentar a patrulha. Um resultado como o divulgado requer ajuste de luz, muitas dezenas de fotografia, até que se escolham “aquelas”. Há tudo nas imagens divulgadas, menos aquilo que se tentou vender ao público: o flagrante e a espontaneidade. Aqueles olhares para o nada — para o futuro da humanidade? — resultam de muitos cliques.

E agora falarei com a “autoridade” de que tem barba, muuuita barba, mais do que eu gostaria. Aquilo é uma cena preparada. O casal atua como modelo — ele, no seu papel predileto: Lula; ela, no dela: mulher de Lula. Por que afirmo isso? A parte mais chata da barba (além do pescoço; por que barba no pescoço, meu Deus?) fica ali na fronteira do lábio inferior, área já raspada e escanhoada, como se nota. O mesmo se pode dizer da papada. Tudo lisinho. E há a questão óbvia: a assessoria de Lula deslocou Stuckert até a casa do ex-presidente, mas não teve o bom senso de chamar uma profissional para lhe raspar cabeça e barba, operação que sempre comporta algum risco? Tenham paciência.

Fico cá pensando nos muitos candidatos a hagiógrafos de Lula, que exaltaram, nos primeiros dias da doença, como é mesmo?, a sua “transparência”, como se esta já não tivesse sido turvada quando gravou um vídeo, tendo o mesmo Stuckert por trás da câmera, marcando um encontro com os “eleitores” em algum palanque. Não sou assim tão inocente, não é? Lula é o homem público mais em evidência do país. É admirado por milhões de pessoas. É natural que haja curiosidade sobre a sua saúde e que muitos torçam para que seja bem-sucedido em seu tratamento. Assim, é aceitável que se divulguem imagens suas e que estas sejam selecionadas e tal.

Mas vamos devagar! É preciso haver algum decoro nisso! Lembrei aqui outro dia que Lula chorou copiosamente diante da Câmera de Duda Mendonça na campanha eleitoral de 2002 ao falar da primeira mulher, morta no parto, e do filho natimorto. Elaborava uma narrativa muito distinta de entrevista que havia concedido anos antes à revista Playboy sobre o mesmo assunto. Diante daquele espetáculo patético em 2002, lembro-me de ter escrito um texto no extinto site Primeira Leitura cujo título era: “Ele não tem limites”. Tudo bem pensado, espetacularizar a própria doença para obter benefícios políticos para o seu partido não é, assim, o seu auge. Chegou mais longe com a mulher e o filho mortos.

Não, senhores hagiógrafos! Isso não é transparência, mas obscurantismo. E explico por quê. Lula torna o processo político refém de sua biografia — ou melhor: o processo político se deixa capturar por suas lendas pessoais. Na Presidência, suas batatadas não podiam ser criticadas sem que pesasse a sombra do preconceito. Agora, quando ele faz óbvia exploração política de sua doença, considera-se de mau gosto apontá-lo. É preciso que Ricardo Berzoini o faça. Até a recomendação,  em tom de ironia, para que vá se tratar no SUS, ainda que a tanto ele não esteja obrigado, é tomada como grave ofensa, “baixaria”, um verdadeiro vilipêndio!

O processo político trata Lula como expressão do sagrado. Já ele próprio nunca se importou em ser bastante profano, como se vê mais uma vez.”

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