Por Carlos Sena (*)
Por que uma pessoa nasce em berço de ouro, enquanto outra nem sequer berço tem? Por que há tantos delinqüentes com saúde perfeita e tantas pessoas “do bem” presas a cadeiras de rodas ou doenças incuráveis? Por que há tanta roupa sobrando nos armários e tantas pessoas sem nenhuma pra usar e se defender do frio e das chuvas? Por que há tantos parlamentares roubando milhões e nunca vão pra cadeia, enquanto tantos pobres lá estão porque roubaram um pão, uma margarina no supermercado? Por que geralmente a justiça perde para a iniqüidade, a saúde para a doença, a vida para a morte, o bem para o mal? Por que tanto sofrimento na face da terra? Por que há tanta dificuldade na evolução do ser humano?
Compreender estas e outras perguntas é se imiscuir num mundo de mistérios. Mistérios que as igrejas e seitas, geralmente se apresentam com formas e receitas prontas para definir o mundo, a vida e o destino das pessoas. Desde que o mundo é mundo e que os homens existem na face da terra que ele ruma, gradativamente em processos evolutivos. Se hoje vivemos a civilização do amor trazida por Jesus Cristo, um dia tivemos a lei do “dente por dente e olho por olho”... Três mil anos depois de Cristo, a humanidade se pergunta sem resposta acerca de diversas diferenças e acontecimentos com o ser humano em função do seu destino. Criou-se céu, inferno, purgatório. Criou-se novo testamento e já existia o velho. O homem chegou a lua, descobriu parte do universo, criou conforto material e evoluiu na ciência, revolucionou a medicina, dentre outras coisas, mas parece que não cresceu tanto na sua relação com o outro e com a espiritualidade. Valores simples como a solidariedade e o perdão, ainda são sentimentos que a humanidade não domina nem sequer compreende sua essência. Em pleno terceiro milênio, fazemos guerra pela paz e o nosso egoísmo parece que nunca deixou de ser como permanece hoje.
A doutrina espírita tem nos dado sérias contribuições para compreensão da vida na terra. Seus revolucionários conceitos estão, a cada dia, caindo no entendimento de muita gente que, disposta, começa a estudar e se espiritualizar diante de agruras particulares ou coletivas. O espiritismo, enquanto doutrina não se digladia com religiões, seitas, e outras crenças. Ele se reconhece, inclusive, nos conflitos que produz quando divulga sua conduta objetiva diante da vida e da morte.
A era de Aquário em que vivemos, tem nos remetido muito a diversos estados de consciência crítica acerca do que somos nesta vida e do que vivenciamos nela, a despeito de tudo que sabemos e questionamos acerca do que se passa conosco e com pessoas do nosso meio de amizade. A INTUIÇÃO – essa conselheira de primeira grandeza, aos poucos vai se conduzindo no contexto sério e isento de outras ilações mesquinhas. A espiritualidade se expressa em diversas formas, dependendo do grau de merecimento e crescimento de cada um. Acredito que quanto mais a gente se desliga de sentimentos como ciúme, vingança, injustiça, adentramos no universo do amor e do perdão e da caridade. Afinal, são estes os pilares do espiritismo e que poucos são os que acreditam nessa fórmula simples que, permanentemente, temos condições de exercitar.
Outros revolucionários conceitos espiritistas como REENCARNAÇÃO, CARMA e DIVIDAS de vidas passadas, são por demais condenados por diversas instituições religiosas, bem como por pessoas tidas e respeitadas por seus valores intelectuais e sociais. Mas a doutrina espírita não se confronta com tudo que acerca dela é colocado como empecilho ao seu entendimento. Parte-se do princípio de que “tudo tem seu tempo”, como no sermão da montanha foi tão bem delineado. Com certeza que fica difícil entender que alguém morre e volta depois no corpo de outra pessoa. Qualquer tentativa de explicação vai cair na vala comum de que “contra fatos não existem argumentos” – afinal, ninguém nunca, depois de morto, voltou pra dizer como é lá em “cima”. As questões do CARMA e dela derivadas, seguem em pela sintonia da REENCARNAÇÃO para se obter a compreensão holística do processo.
Diante disto, este pobre texto não pretende levar ninguém a modificar seu pensamento acerca. Contudo, algumas evidências nos parecem fortes: a) se, diante das indagações feitas no inicio, a resposta fosse que tudo aquilo foi permissão de Deus, certamente estaríamos falando de um DEUS vingativo. Afinal, permitir que alguém nasça em berço de ouro, enquanto outros nem berço têm, seria uma tremenda injustiça. Mas Deus não é injusto. Talvez nós é que não temos a capacidade suficiente do entendimento de tudo. Afinal, “há mais mistérios entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia possa imaginar”... Também não creditamos nada ao fatalismo, nem ao determinismo, pois se isto fosse verdadeiro, nosso LIVRE ARBÍTRIO estaria comprometido.
Verdade é apenas a existência de cada um com suas peculiaridades. A vida é dom de Deus, independente da forma que Deus entre em nossa vida. De fato, a cada Dele tem várias moradas e talvez nisto, resida os seus mistérios. Certamente que vivemos na terra “pagando”. A forma dessa dívida não me compete dessecar nem teríamos essa competência. Nosso destino, traçado ou não por nós, é o caminho que seguimos sem que o fatalismo nos monitore. Melhor ouvir o grito da nossa consciência, da nossa INTUIÇÃO. Exercitemos e prossigamos com nossas duvidas e com nossas certezas, mas com a convicção de que o ACASO NÃO EXISTE.
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/11/2011
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