Por Zé Carlos
Hoje voltamos para apresentação de nossas notas provenientes do Seminário Real de Amostragem. Como vimos nos primeiros artigos desta série que pode ser vistos neste blog, neste último, estávamos num intervalo, para um pequeno lanche, pois o Rei percebera que o assunto era indigesto, principalmente, para enfrentá-lo com fome. Com todos agora reanimados por um cafezinho da safra do próprio reino, o cientista retomou sua fala, com a permissão real.
“Caro Rei,
Ficamos com o que se chamou de Intervalo de Confiança e Coeficiente de Confiança, que são coisas que devem ter ficado claras para prosseguirmos. Olhando nos olhos da plateia, já notei um blogueiro querendo dormir, e resolvi recapitular as ideias com um exemplo, envolvendo as próximas eleições entre Zé Abílio e Josino Villela. Já chamo a atenção, que se houver mais candidatos, o raciocínio é mesmo, só aumenta um pouquinho o custo e a complicação do modelo utilizado.
Vamos supor que num distrito do Reino haja apenas 5 eleitores. Isto não está muito longe de nossa realidade interiorana. Vamos supor que nosso orçamento só é suficiente para entrevistar 2 pessoas daquele distrito, e perguntar a ele em quem vota. Vemos que neste caso o que queremos obter é um proporção de pessoas que vota em determinado candidato. Para efeitos práticos e pelo vício do quantitativismo nestes levantamentos, vamos dizer que se, ao perguntar se o indivíduo votaria num determinado candidato, se ele disser “sim”, vamos dizer que sua resposta equivale a 1(hum), se disser “não” sua resposta equivalerá a 0 (zero).
Com sua inteligência, majestade, não é difícil de ver que cada amostra de 2 pessoas, produzirá um e só um resultado, depois de escolhida, por exemplo, se os dois forem ferrenhos opositores do Zé Abílio, ambos votarão no Josino Villela. Então para o candidato Zé Abílio o resultado da amostra seria 0% de votos enquanto para Josino Villela seria 100%. Mas, é fácil de imaginar outras possíveis amostras com resultados diferentes, neste caso particular, de 0%, 50%, e 100%, como resultados. Para cada uma delas haverá um erro em relação ao resultado das eleições que envolverá todos os 5 eleitores. Então, para o exemplo dado, onde o resultado é de 0% na amostra e no final da eleição encontrarmos um resultado de 50% de votos para cada um, haverá um erro de |0 -50| que será o “erro amostral”, ou para facilitar, a margem de erro particular.
A pergunta que não quer calar é: De que vai depender este erro? O que temos em mãos é apenas uma estimativa do resultado baseado em duas pessoas e o verdadeiro resultado, a priori, só Deus sabe, e a posteriori, a amostragem não nos interessa mais. O que fazer então?
Os meus colegas descobriram que mesmo que não saibam antes qual proporção vai aparecer nas urnas, eles podem saber como esta proporção se comporta em nossa imaginação estatística, dizendo que sabem que se pegarmos todas as amostras e elas tiverem um tamanho razoável elas se comportam de forma “normal”. V.M. me perdoe por não explicar aqui com detalhes o que seja uma forma “normal”, ou distribuição normal, pois para isto estou oferecendo um curso introdutório de Estatística para os assessores de V.M.. Mas, posso dizer que é esta “normalidade” que me garante quanto eu posso errar num processo de amostragem sem perder a cabeça para as espadas dos carrascos de V.M.
Com ela, a normalidade, eu posso dizer que há uma chance ou probabilidade que se pode calculara a priori, e que me diz o risco de encontrar uma amostra cujo resultado possa ou não pertencer a um intervalo que será em parte fixado por mim ou por V.M. Isto já está tudo tabelado pelos meus colegas, e está nos livros (não deixem de fazer meu curso depois). Para um determinado grupo de pessoas que são “amostradas”, eu posso dizer qual a probabilidade que tenho de ao escolher duas pessoas, o resultado de suas respostas ou não esteja dentro daquele Intervalo de Confiança, e que significa que, mesmo errando o rei não pode me cortar a cabeça. Mesmo assim, sempre há uma chance de perdê-la, mas este é o meu risco e é também o de V.M. ao usar uma pesquisa para tomar decisões.
Tomar decisões com base em pesquisa é como “contar com o ovo antes de ser posto”, sempre há uma chance dele ser posto quadrado, embora seja pequena. Mas, se permite V.M. “passarinho que come pedra deve saber em detalhes sua anatomia” para não sofrer muito depois.
Agora veremos, se entendido tudo até aqui, quais as outras coisas que podem interferir nesta margem de erro, além da normalidade descoberta pelos estatísticos, que, apesar de já terem estudado outras formas, a normal, é a melhor para apresentação em seminário como estes.”
Neste ponto, quem já estava dormindo, ou quase, era o Rei. Alguns blogueiros reais já ressonavam, enquanto eu, mal aguentava a caneta na mão para anotar. E foi ouvida outra vez a voz grossa de Sua Majestade:
- Senhores, mesmo que estejamos todos com bastante atenção, é uma verdade insofismável de que “saco vazio não se põe em pé”, vamos ao café.
Eu, na medida do possível estou publicando estas notas, uma para cada intervalo do seminário. Penso ser mais produtivo, do que publicá-las todas de uma vez. Então até a próxima.
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