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domingo, 14 de agosto de 2011

Se ficar o Lula pega e se correr o Lula come





Por Zezinho de Caetés

Vocês sabem que a frase que dá título a este texto é bastante popular quando se substitui Lula por bicho. Mas, na atual fase da política brasileira, o correto é Lula mesmo. A mulher que ele colocou em sua ex-cadeira só tem boas intenções e muito pouca capacidade de colocá-las em práticas. Isto não é mais uma crítica ao poste, pois ele está mostrando que, quando acende sua luz um pouquinho até que é boa de faxina.

O problema é aonde meu conterrâneo, o Luis Inácio, levou o que se chama de presidencialismo imperial neste país, e o que ele vai cobrar para voltar em 2014 como D. Luis III, e único. O artigo abaixo, que li ontem no Blog do Noblat, do jornalista Ruy Fabiano, intitulado “Dilma e seus aliados”, mostra isto com o rigor que o caso merece em termos jornalísticos.

Nunca na estória deste país se mostrou tanta gente roubando de uma vez só. Depois do Ministério do Transportes seguindo a Casa Civil, vem agora o Ministério do Turismo, no qual o Polícia Federal, dando uma de independente, o que deveria ser sempre, mostrou um bando de figurões como “bandidos comuns”. Pelo menos desta vez não se olhou a cor do colarinho. Foi tudo de camburão.

E o meu conterrâneo reclamou dizendo: “Não é aceitável que uma pessoa que tem endereço fixo, RG e CPF seja presa como se fosse um bandido qualquer e algemada como se estivesse participando de uma exposição pública.” Meu Deus, o homem virou elite de vera. Para o bandido comum, mas de colarinho preto de grude, mesmo com RG e CPF, algemas são necessárias?

Eu não sou a favor de expor nenhum tipo de preso de forma vexaminosa, mas se tivesse que reclamar eu o faria por a polícia ter feito isso, como quase sempre faz, com os pobres que roubam carteira nas feiras ou comida nos supermercados.

Mas o tema do artigo abaixo é muito mais amplo, embora não saia do simples dilema que Lula resolveu com tanta facilidade. Como governar com corruptos? A Dilma ainda não descobriu, o Lula sim, desde a Carta aos Brasileiros. “Se não podes com o inimigo, junta-te a ele.” Dilma, ainda reluta, mas vai terminar cedendo. Ou não? Reflitam com fim de semana depois de ler o texto abaixo:

“Entre as muitas diferenças entre Lula e Dilma está a de que a presidente não é estimada pela base parlamentar governista, à qual também não inspira confiança.

Conhecendo-se o perfil moral da base, ponto para a presidente. Do ponto de vista puramente pragmático, é, no entanto, uma imensa desvantagem, em termos do que se convencionou chamar de governabilidade. Sem a confiança da base, como governar?

No atual sistema, que tem o nome pomposo de presidencialismo de coalizão (mas que, convenhamos, merecia outro, a ser mencionado longe das crianças), não há como.

O apoio político tem como moeda de troca não apenas a concessão de ministérios, mas autonomia para que cada partido aliado faça deles o que quiser. A Polícia Federal nem sempre concorda – e a conta política vai para o governo. É o caso presente.

Tudo indica, pela reação às prisões que a Polícia Federal fez no Ministério do Turismo, esta semana, que a iniciativa não partiu do Palácio do Planalto, nem do Ministério da Justiça. A PF teria agido por iniciativa própria, dando sequência às investigações que realiza.

É, aliás, o papel das polícias, em circunstâncias normais. Mas quem disse que as circunstâncias são normais? Não são.

Dilma ainda administrava as consequências da faxina no Ministério dos Transportes, cujo lixo conhecia bem, já que, segundo o ex-ministro Alfredo Nascimento, e o ex-presidente do Dnit, Luiz Antonio Pagot, dali proveio parte do financiamento de sua campanha, e surge outra, no Ministério do Turismo.

A diferença é que, enquanto nos Transportes, estava em pauta o minúsculo PR, no Turismo trata-se do gigantesco PMDB, do vice-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, José Sarney, responsável pela indicação do ministro, o octogenário Pedro Novais.

Um problemão. A presidente vive um dilema: precisa acalmar a base e, simultaneamente, vê a faxina render-lhe popularidade. A plateia, que paga a conta dos estragos, acompanha de perto o desenrolar dos acontecimentos e atribui à presidente sua iniciativa.

A base, até aqui, envia recados – pela imprensa e por intermediários. Em síntese, diz: se continuar assim, não votaremos nada. Se os votos do PR já eram decisivos, imaginem-se os do PMDB. Mais uma vez, a presidente está tendo de recorrer ao Lula. Ele conhece os desvãos que conduzem aos aliados – e os pacificam.

A contrapartida, porém, é que Dilma aumenta seu grau de dependência política em relação a seu patrono. Sem Lula, não há como pacificar a base. Mas Lula não faz milagres: manda a conta do estrago, que terá que ser compensada com a interrupção da faxina.

Isso explica a contrariedade de Dilma em relação à ação da Polícia Federal, que botou no camburão, numa ação vertiginosa, toda a cúpula de um ministério comandado pelo PMDB, o do Turismo. Só ficou de fora o ministro, que, pela idade, seria preservado.

Não há caso similar no passado, recente ou remoto. Só se vê coisa parecida em câmaras de vereadores e prefeituras do interior.

Tudo isso ocorre em meio a um momento delicado para a economia, em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai à Câmara dos Deputados pedir que o país aperte o cinto porque a crise internacional é grave e de longo curso.

Se houvesse oposição, a coisa seria ainda pior. Mas ela se limita a ameaçar com CPIs e a mencionar a herança maldita do antecessor.

Permite, enquanto briga internamente, que Dilma, por meio de Lula, tente aplacar os revoltosos e ganhe tempo para uma reforma ministerial, que acabará sendo feita.

A singularidade do quadro político neste momento é que o temor de uma tempestade não vem da oposição, mas dos próprios (digamos assim) aliados. É o presidencialismo de ocasião – isto é, de coalizão.

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