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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ESPIRITISMO E COTIDIANO





Por Carlos Sena (*)

A doutrina espírita não está em moda, embora tenhamos esta impressão diante de filmes de sucesso e outras atividades na mídia envolvendo ESPIRITISMO. Certo é que nós, que nos codinominamos MODERNOS, estamos meio perdidos diante de nós mesmos, em função das circunstâncias de vida que enfrentamos diariamente.

Dentre tantos assuntos que atormentam sobremaneira nossa geração a SOLIDÃO, A MORTE, o FUTURO, talvez sejam os principais vieses dos nossos permanentes conflitos interiores. A velhice, certamente se insere nesse contexto em que a solidão anda à tiracolo no bojo da vida que por si só divide as pessoas e segrega os mais velhos como que nos exigindo exercício para convivências plurais.

A vida moderna parece que nos dá pouco substrato para enfrentarmos essas questões existenciais tão importantes; tão carentes de reflexões; tão desnorteadoras de princípios introjetados, quase sempre, pela sociedade de consumo. Talvez a doutrina Espírita entre nesse processo pela sua capacidade de não propagandear o bem que faz; de não instigar julgamentos entre irmãos; sem estimular a verdade absoluta, mas o perdão, o amor e a caridade como fontes de consolo e resignação diante da vida.

Geralmente o futuro nos mete medo. A morte nos mete medo. A velhice nos mete medo. Medo, aliás, é o melhor  escudo para a gente enfrentar o desconhecido ou, talvez, para nos esconder da nossa incompetência acerca da realidade da vida como ela é e como se nos apresenta. Neste sentido, o dinheiro é um dos principais causadores dessas instabilidades que nos levam a graus diferentes de infelicidade. Exemplo disto pode citar o caso de alguns milionários que, do alto de suas fortunas se perguntam: “por que tento dinheiro”, “por que não vivo sem angústia e sem solidão”, por que, por quê? Certamente não há diferença nenhuma entre a solidão do rico e a do pobre. O diferencial está na incompetência administrativa dos donos do dinheiro que só compram bens materiais e esses não servem para curar, por exemplo, a dor da perda de um ente querido. Dinheiro, como sabemos, deve estar ao nosso dispor. Um poeta já nos aconselhou que, pelo menos uma vez por ano devemos colocar um pouco de dinheiro em nossa frente e dizer-lhe: “isto é meu”. Porque o mais usual é que as pessoas são dele, deixam-se dominar por ele e, não raro, morrem sem descobrir essa sutil diferença.

O espiritismo não concorre com as demais igrejas como se pode crer. Na qualidade de doutrina acolhe qualquer pessoa que lhe procure. Não os interroga, nem cobra dízimo, não patrulha, não recomenda tipo de roupa nem posturas sexuais de ninguém. O espiritismo legítimo prega e fundamenta-se no cristianismo para despertar em nós, pecadores, o sentido da moral maior em que cada um tem que ser responsável pelo que faz, diz e pensa.  Nos centros espíritas não existe pastor, mas pregador, orador, que se prepara diuturnamente lendo o evangelho. A manutenção das casas é feita pelas ofertas anônimas dos adeptos, bem como por instituições particulares que exigem a permanência de anonimato.

As casas espíritas fazem trabalhos comunitários de grande importância, mas sem propagandear. Esse é um dos seus princípios, pois “dá com a mão direita sem que a esquerda perceba” (grifo nosso), conforme nos ensina a Bíblia. Assim, focamos alguns princípios doutrinários elementares, mas carentes de maiores contextos e estudos que cada um, do seu jeito e aproveitando o tempo de maneira particular, poderá utilizar. Talvez seja esse o grande diferencial dessa doutrina que tantos avanços tem alcançado na utilização dos seus dogmas para ajudar a diminuir a solidão, o medo da morte e da velhice e do futuro. Infelizmente a REENCARNAÇÃO tem sido para muitos o maior entrava de compreensão dessa doutrina. Contudo, reencarnação é um contexto que dificilmente se compreende sem leituras profundas e debates permanentes entre os iniciados. De fato é um tema importante, principalmente diante de um tipo de sociedade que vivemos que não acredita nos valores espirituais. O capitalismo não pode compreender outra coisa senão a matéria, o consumo, o dinheiro, até porque não dão trabalho de serem assimilados devido às suas respostas imediatas em forma de conforto e vida “boa”... Nesse contexto estimula a cultura excessiva do corpo (academias são uma praga), das roupas de grife, dos modos de amar de forma “ficante” (para não criar limo, amor ou coisa que o valha), das redes sociais, etc.

Infelizmente os grandes procuradores de refúgio espiritual são as pessoas maduras que, trituradas pela vida, querem respostas para perguntas que elas nunca fizeram antes, quando jovens. Regra geral não é, pois há muitos jovens já orientados na doutrina espírita. Mas com certeza, a grande legião que superlota as casa espíritas é composta por pessoas que não podem mais ser chamadas de jovens no sentido físico. Talvez a gente compreenda essa questão em função da própria vida que se encarrega de nos colocar nas costas os fardos que podemos carregar, embora sempre achemos que são pesados demais pra cada um de nós.

O melhor dessa doutrina não é o que ela possa fazer pelo nosso bem estar, mas o que o nosso bem estar pode fazer aos que nos rodeiam. Um pouco da lógica de que a felicidade que se consegue com a paz de espírito irradia por perto e alcança a todos. Contudo, quando se inicia um processo doutrinário, não se pode deixar de prosseguir. Orar e vigiar se tornam imperativos. As forças espirituais positivas e negativas estão geralmente nos mesmos espaços. A prática do bem, do perdão e a caridade são importantes instrumentos que nos ajudam na permanência da paz interior. Ter paz interior não significa que a vida parou por ali. Pelo contrário: ser feliz por descobrir Jesus dentro do coração requer muito mais oração para mantê-lo vivo; para nos mantermos blindados contra as correntes do mal.

Portanto, merece menção neste finalizar espiritual: o acaso na forma em que nós colocamos não existe. Tudo que nos acontece é por ordem de Deus. Exercitemos nossa intuição para aprendermos decodificar mais o que a espiritualidade quer nos comunicar – não nos referimos a receber espíritos! Receber espíritos é uma atividade avançada dos militantes doutrinários e, não raro, acontecem nos próprios centros que são controlados por entidades espirituais mantenedoras. Ler o que a intuição nos diz em nossa tela mental é fundamental. Da mesma forma que fundamental é não sermos fatalistas e crer sempre: o acaso não existe. Nós, pela nossa infinita limitação nem sempre temos a grandeza de compreender na hora o que nossa intuição nos diz. Mas não tem problema: basta que guardemos para entender depois... Muita paz... e LUZ.

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(*) Publicado no Recanto das Letras em 19/07/2011

Um comentário:

  1. Belíssimo texto, pois sendo adepto da Doutrina Espírita aqui em Bom Conselho, na Fraternidade Espírita Emannuel - O Amor em Evolução. Fico feliz por um texto tão coerente, pois ainda "sofremos" alguns ataques e preconceitos, mais nada que nos abale a vivência desta doutrina querida, O Consolador Prometido por Jesus...

    Josan Viana

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