Em manutenção!!!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

NO AR - DESTINO, ACASO OU FALHA TÉCNICA?




Por Carlos Sena (*)

NO AR. De repente dezesseis vidas se transformam em cinzas em pela quarta-feira. Não, não era quarta-feira de cinzas, mas era no Recife a capital do frevo. De repente, sonhos se transformam em... Em que se transformaram os sonhos deles, posto que viraram cinzas NO AR?

Sonhos transformados? Abortados? Infelizmente não nos é dada, na condição de humanos, esta capacidade de compreensão. Para quem acredita na espiritualidade, menos difícil é essa hora, principalmente para os familiares. Entender que “só se morre no dia” conforme costumamos dizer, não é tão simples. Mas é preciso exercitar a compreensão da vida por ela mesma em que pequenos fatos se tornam importantes para se ter noção da vida e dos fatos dela, na lógica do acaso... Ou não!

Em apenas três minutos, dezesseis sonhos, dezesseis anseios, dezesseis eternidades se transformam como um piscar de olhos. Em apenas três minutos, dezenas de outras vidas se transformam em vida, por conta da “vida como ela é” – é assim que temos que não querer compreender rupturas de afeto que “outros poderes” nos proporcionam sem sequer nos perguntar? Em tão pouco tempo, um vôo para a morte! Em tão pouco tempo um vôo para “matar em vidas” familiares que provavelmente não terão mais abraços, beijos, carinhos, cuidados e outros aconchegos de família ceifados pela morte NO AR. (O pior da morte não é ela em si, posto que ninguém tem vida eterna. O pior dela é a ruptura de sentimentos, de significados criados no compartilhar do amor ente pais e filhos, amigos, amores... E quando isto acontece fora do esperado, via tragédia, então é de cortar o coração dos que ficam.)

Um co-piloto troca o plantão com o colega e este morre. “Bola da vez”? Acaso? Fatalidade? Se não foi acaso, quem é o sortudo – o co-piloto que ficou em terra? Ou o que morreu é apenas o azarado? Mas se tiver sido o “dia do co-piloto” por que teria que sê-lo dos demais ocupantes do avião? O justo estaria pagando pelo pecador? No caso do piloto que evitou uma tragédia maior conduzindo o avião para um terreno baldio, evitando que ele se jogasse em cima de vários prédios, serie ele JUSTO ou PECADOR? Parece mesmo que a lógica fatalista é a menos convincente, embora saibamos que tudo poderia acontecer, inclusive nada. Segundo se noticia, a aeronave estava com todas as revisões em dia, mas a gente não deve crer nisto, pois os capitalistas atrasados desta província não têm esse cuidado com clientes. Pra eles o mais importante é o lucro fácil, como é o caso de companhias aeras maiores que vendem bilhetes e sublocam em aeronaves menores por conta do lucro. Isto aconteceu comigo. Fui a Maceió dar uma aula na UFAL – Universidade Federal de Alagoas e, no aeroporto do Recife fui conduzido para essa tal NO AR. A Gol fez essa proeza e eu, sem entender, meio atordoado, segui viagem. Um inferno foi a minha viagem. Dei sorte por estar vivo? A aeronave era igualzinha a essa que caiu e matou os dezesseis. Talvez até tenha sido a mesma , pena que não anotei o numero do vôo. Mas, “meno male”, pois estou aqui perplexo diante desse acidente. Mas, e os que tiveram suas vidas interrompidas, deixando a vida dos familiares sem rumo, sem teto, sem?...

Finalizo acreditando que o acaso não existe. Contudo me recuso a compreender alguns mistérios que talvez estejam no nível da SANTÍSSIMA TRINDADE – um dos grandes mistérios da igreja católica. Não existindo o acaso, a gente fica querendo alinhavar conceitos – coisas de humanos que não gostam de guardar acontecimentos para entender depois. A doutrina espírita tem muita explicação para isto e até certo ponto concordamos com ela. “Estava escrito”? Era o dia de todos e a hora? Não era o dia do co-piloto que ficou em terra? Era o dia da passageira que foi transferida de outro avião (dizem que da Gol) grande para esse? Não havendo acaso, a espiritualidade trabalhou bem juntando tantas pessoas de diversos locais para morrerem juntas?

Diante dessa tragédia, resta-nos orar para que os familiares tenham o conforto espiritual. Se for confirmada “falha técnica”, não há muito que fazer. O dinheiro sempre fala mais alto e o capitalismo selvagem que tudo economiza pelo lucro fácil, certamente comprará a justiça. Num país em que se matam mais do que na guerra do Vietnã, não se pode esperar muito das autoridades; num país em que as quadrilhas dominam o tráfico de dentro das cadeias via fones celulares, não se pode esperar muito das autoridades; num país em que se prende um ladrão de galinhas, mas se deixa soltos políticos que roubam milhões, não se pode esperar muito das autoridades... Se elas fossem, de fato, autoridades, já teriam resolvido ou minimizado tudo isto. Mas enquanto há vida há esperanças.

PS.: Dois dias depois da tragédia, o NE TV - jornal local da rede Globo de Televisão entrevistou o filho do co-piloto. Ele falou que o pai morrera porque "era seu dia". Explicou: "meu pai estava de folga e foi chamado por um colega para trocar o plantão. Chegando no aeroporto atrasado, já tinha outro co-piloto no local para iniciar o vôo. Como o avião ainda estava parado, meu pai assumiu no lugar do outro colega que ia lhe substituir", grifo nosso. Resumindo: o co-piloto morreu com os demais, substituindo dois outros colegas.

De quem seria o dia de morrer? Como compreender essa tragédia, a luz dos fatos e das convicções religiosas?

------------------

(*) Publicado no Recanto das Letras em 14/07/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário