“Movimento
ambientalista é de esquerda ou direita?
Por José
Goldemberg
Preocupações com
a preservação do meio ambiente datam da mais remota Antiguidade. Platão, há
2.500 anos, comparou o desmatamento na Grécia do seu tempo com “o esqueleto de
um homem doente: toda a gordura e a carne tenra se foram, deixando apenas a
moldura nua da Terra”.
Alguns
governantes, ao longo da História, se deram conta das consequências negativas
da destruição das florestas. Os antigos egípcios penalizavam quem cortasse
árvores e na civilização inca essa prática era punível com a morte.
Apesar disso, a
expansão do Império Romano varreu as florestas de quase toda a Europa e da
Inglaterra. O mesmo foi feito pelos colonizadores portugueses, que devastaram a
Mata Atlântica até esgotar a produção de pau-brasil.
A situação
começou a mudar no século 16, por diversas razões: em alguns países, como a
Áustria, um reflorestamento foi feito por questões econômicas; em outros, pelo
interesse dos aristocratas europeus em preservar as florestas em torno dos seus
castelos para garantirem espaço para suas caçadas. Aliás, essa é a razão pela
qual Londres tem hoje tantos parques. Na enorme expansão da conquista do
território da América do Norte, reservas naturais foram criadas até por motivos
estéticos, sob a influência de intelectuais como Thoreau.
Surgiram no
século 19 as primeiras associações ambientalistas do mundo, como a Open
Society, na Inglaterra, em 1865, o Sierra Club, nos Estados Unidos, em 1892, e
a Audubon Society, também dos Estados Unidos, em 1905.
O caráter básico
delas era a conservação da natureza, o que levou à criação, em 1952, da União
Internacional para a Conservação da Natureza.
No fundo, eram
todas elas organizações inspiradas em nobres propósitos, bem aceitos pelo
establishment e próximas da “direita”, mas pouco eficazes em evitar a
degradação ambiental decorrente da industrialização selvagem do século 19,
devida à utilização de carvão em grande escala. Nos países menos desenvolvidos,
a expansão colonial dos séculos 19 e 20 levou a degradação ambiental ao resto
do mundo.
Foi só a partir
da metade do século 20 que surgiram na Europa e nos Estados Unidos movimentos
sociais e organizações que começaram a questionar seriamente os modelos de
desenvolvimento econômico que levavam à degradação ambiental. Esses movimentos,
que se organizaram em parte pela repulsão à Guerra do Vietnã, acabaram se
expandindo para a luta contra o apartheid na África do Sul, a discriminação
racial nos Estados Unidos, a cruzada contra o uso da energia nuclear, depois do
acidente de Chernobyl, e a emancipação feminina, que a pílula anticoncepcional
acelerou.
Algumas dessas
organizações, como o Greenpeace, introduziram um tipo de ativismo que não
existia no movimento ambientalista do início do século 20, que era até então
tolerado pela “direita”. Por essa razão a revolução cultural dos anos 1970
ganhou aspectos mais próximos do que se rotula como “esquerda” do movimento
ambientalista, crítico da economia capitalista dos países do Ocidente e da
economia dos países da área socialista, uma vez que a União Soviética não
revelou preocupações maiores com a preservação ambiental do que seus
adversários ocidentais na guerra fria.
O que estamos
presenciando agora neste início do século 21 é um movimento de “contracultura”
ao que se poderia considerar exageros da revolução cultural dos anos 70. Ele se
manifesta no renascimento da valorização da família, no nacionalismo e nas
restrições à entrada de imigrantes de Estados islâmicos e africanos, sobretudo
na Europa e nos Estados Unidos. Neste país em particular, a eleição de Donald
Trump tem sido interpretada como uma reação ao “politicamente correto” dos anos
de Bill Clinton e Barack Obama.
Ele se manifesta
também por meio de ideologias evangélicas cristãs (não católicas), baseadas na
sua interpretação pessoal dos Evangelhos, e atrai também grupos de
protestantes, mórmons e judeus. Eles têm em comum um forte apoio à economia de
mercado (sem controle governamental), questionam a Teoria da Evolução, são
contrários à manipulação genética, eutanásia, homossexualidade, educação sexual,
ao aborto; e são céticos em relação ao aquecimento global, além de terem uma
forte suspeita das elites científicas que questionam as interpretações literais
da Bíblia.
Uma vítima dessa
descrença no conhecimento científico é a recusa em aceitar o fato notório de
que a atividade humana é a causa principal do aquecimento global, o que
favorece grupos econômicos importantes nos países produtores de combustíveis
fósseis e, principalmente, empresas de petróleo e de carvão.
Existe, porém,
um elemento novo que surgiu nesse debate, com o trabalho dos cientistas de
grandes universidades americanas como Princeton, Universidade da Califórnia, e
também de alguns pesquisadores brasileiros. Esses cientistas analisaram as
causas da degradação ambiental, como certos tipos de tecnologias – comuns a
todos os países industrializados, capitalistas ou comunistas – e o uso de
combustíveis fósseis. E identificaram os verdadeiros vilões, os responsáveis
pelos problemas.
Esses trabalhos
tiveram o mérito de “despolitizar” o debate e abrir caminho para a adoção de
tecnologias limpas, como o uso de energias renováveis. Exemplo de sucesso nessa
área foi a melhora da qualidade do ar, da água e a disposição do lixo, cujas
consequências positivas são visíveis a olho nu.
Contudo o aquecimento
global é mais difícil de explicar, porque não é visível, seus impactos não são
imediatos – somente se dão no longo prazo – e combatê-lo tem custos elevados. É
por essa razão que é preciso, nesse caso, um esforço redobrado dos cientistas
para evitar que o tema do aquecimento global seja novamente “politizado” e
deixar muito claro que não é sensato adiar as medidas que poderão resolvê-lo.”
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