“Educando
bolsonaristas
Por Monica De
Bolle
Na semana
passada, o governo apresentou uma boa proposta para a reforma da Previdência.
Mais ambiciosa do que a de Temer para resolver os problemas de médio prazo das
contas públicas, mais progressista do que a de Temer ao incluir alíquotas que
aumentam de acordo com os salários, mais abrangente do que a de Temer ao
incorporar Estados e municípios. Evidentemente, como em qualquer reforma dessa
envergadura, há pontos para discussão e aprimoramento. Há também o receio de
que o governo não tenha o traquejo necessário para evitar que a reforma seja
substancialmente diluída. É sobre isso que pretendo tratar.
Bolsonaristas
são um grupo heterogêneo dentro e fora do governo. Dentro há militares,
ideólogos-religiosos e tecnocratas – mistura esquisita. Fora há
ultraconservadores de direita, alguns religiosos outros não, gente que continua
a ver fantasmas petistas por toda parte ainda que o partido esteja
completamente desarticulado, e pessoas que simplesmente esperam do novo governo
o necessário e urgente rumo para o País. Difícil achar muitos pontos em comum
entre esses grupos, assim como é complicado encontrá-los dentro do governo.
Dessas dificuldades e complicações surge, inevitavelmente, a necessidade de
educar alguns – não todos – bolsonaristas.
Comecemos pelos
ministros. O do Turismo tentou intimidar a Folha de S. Paulo após revelações
comprometedoras, mas a liminar do cala a boca foi derrubada pela Justiça. Eis
um bolsonarista cuja educação veio diretamente de um dos três Poderes da
República. O ministro da Educação tentou emplacar o mote de campanha de
Bolsonaro na cartilha das escolas, a ser repetido pelos alunos como autômatos
todos os dias. Também tentou forçar a barra para que crianças e professores
fossem filmados no ato de cantar o Hino Nacional. Nada contra o Hino Nacional –
apesar do positivismo retumbante de sua letra, considero nosso hino belíssimo.
O problema é
filmar crianças e adultos para que o Ministério da Educação pudesse agir como
um big brother orwelliano. Não emplacou. A sociedade se manifestou de várias
formas, inclusive por meio das redes sociais, o atual quinto poder da República
Bolsonarista. O MEC foi obrigado a recuar da ordem que descumpriria vários
artigos da Constituição, conforme alertaram especialistas. O ministro ideólogo
de Bolsonaro foi educado de forma rápida e contundente. O ministro do Meio
Ambiente bem que tentou esvaziar as notícias sobre seus fictícios diplomas
acadêmicos. O quinto poder não permitiu, dando-lhe educação exemplar. O
ministro das Relações Exteriores, assanhado com a possibilidade de se aproximar
dos EUA dando declarações estapafúrdias sobre a Venezuela e a Coreia do Norte
foi velozmente desautorizado pelos generais – esse anda recebendo educação dia
sim, outro também. Aguardamos o aprendizado de Ernesto.
Tudo isso e mais
alguma coisa – porque sempre tem mais alguma coisa – aconteceu em momento
crítico, quando as atenções deveriam estar voltadas para a reforma da
Previdência. Não à toa, Rodrigo Maia soltou advertência: a má comunicação do
governo e a desarticulação da base podem comprometer seriamente a reforma.
Sobretudo se o País continuar a perder tempo com os devaneios de alguns de seus
Bolsonaristas.
Nas redes
sociais repete-se algo já visto na era petista. Em vez de as pessoas estarem
concentradas em algum debate – bobo, raso, ou sério – sobre a reforma da
Previdência, há profusão de xingamentos, intimidações, e até ameaças. Fui alvo
disso recentemente. A educação dispensada não foi difícil. Afinal, em tempos de
internet, certos bolsonaristas ou direitistas extremados assanhados podem até
acreditar que são anônimos. Mas a internet é uma maravilha. Por lá, nada se
perde e tudo se descobre, inclusive identidades de quem se acha protegido atrás
de avatares e monitores de computador. O quinto poder da República, mais do que
os outros, vale igualmente para todos.
Portanto, deixo
o recado. Podemos perder todo o tempo do mundo educando os bolsonaristas que se
acham os donos do Brasil – não são todos. Ou, podemos aprovar uma boa reforma
da Previdência. Alea Jacta Est.”
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AGD
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