“Incertezas
seguram economia
Por Carlos Alberto
Sardenberg
A inflação
acelerou mais do que se esperava em fevereiro, mas os culpados do mês foram
rapidamente identificados. O feijão, por exemplo, com alta de mais de 50%,
conforme a medida do IPCA, índice do IBGE. Mas não só. Alimentos em geral
tiveram alta forte. Também a energia elétrica, mais matrículas e mensalidades
escolares, neste caso eventos exclusivos de fevereiro.
E daí?
Daí que nada.
Todos os demais itens mostram uma inflação mais do que comportada, rodando há
vários meses abaixo da meta do Banco Central. Para este ano, a meta é de 4,25%.
Em fevereiro, o IPCA acumulado em 12 meses bateu 3,89%, sendo um pouquinho
menor (3,85%) a previsão do mercado para o ano todo.
Tudo muito bem,
portanto?
Mais ou menos. O
problema é que, assim como a inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) também
está encolhendo. Cresceu apenas 1,1% no ano passado, e as previsões para 2019
vêm caindo há semanas, estando agora em 2,28% — muito baixo.
Acrescente-se ao
cenário a taxa de desemprego (12%), e se verifica que a inflação baixinha — em
si, um dado positivo — reflete também a fraqueza geral da economia. É por isso
que muitos analistas acreditam que o Comitê de Política Monetária do BC, o
Copom, deverá voltar a reduzir a taxa básica de juros, fixada em 6,5% desde
março do ano passado. É um recorde de baixa e de baixa prolongada no regime de
metas de inflação.
Faz sentido.
Quanto menor a taxa de juros, maior o incentivo para que consumidores e
investidores tomem empréstimos e gastem em alguma coisa. Mais PIB, portanto.
Ocorre que a
economia brasileira tem muitos outros problemas que desestimulam e/ou adiam
investimento e consumo com dinheiro emprestado. Em outras palavras, o pessoal
não anda muito animado para tomar compromissos a longo prazo, sequer a médio.
Poderia dizer
que a dúvida principal está na situação das contas públicas — ou seja, se
haverá ou não a reforma da Previdência, já que, sem a contenção do déficit
previdenciário, o governo federal e os estaduais quebram em poucos meses.
É por aí, mas
vai além. Há um mal-estar crescente em relação à capacidade das instituições
(incluindo o governo executivo, Congresso e Judiciário) em arbitrar e desfazer
os impasses que bloqueiam a atividade econômica.
Nem chega,
ainda, a ser algo formulado. Mas uma sensação de que pode não dar certo. Fatos
em si pequenos, incidentes que passariam despercebidos vão se acumulando e
deixando uma má impressão.
O governo
Bolsonaro, que assumiu sob expectativa de que faria deslanchar as reformas, a
cada dia oferece uma confusão em torno de assuntos que nada têm a ver com as
boas propostas (os pacotes Guedes e Moro, por exemplo). As demissões e
contrademissões no Ministério da Educação, por causa de rixas entre facções,
levantam a dúvida mais que razoável: é esse pessoal que vai reformar o ensino?
O Congresso
parece passar o seguinte recado: pode-se votar a reforma da Previdência, desde
que se restabeleça algum “toma lá dá cá”.
O Supremo
Tribunal Federal parece não perceber o tamanho da crise financeira do Estado.
Há pouco, por exemplo, decidiu que o governo de Minas não precisa pagar o que
deve ao governo federal, nem fazer um programa de ajuste fiscal. (A posição do
ministro Paulo Guedes, correta, é condicionar a ajuda federal ao ajuste
estadual).
Ok, trata-se de
um caso aqui outro ali, mas a sucessão de pequenos incidentes vai criando um
baita problema.
Por outro lado,
não desapareceram as esperanças de alguma boa reforma. Ontem, por exemplo, a
Bolsa bateu recorde de alta. Ligou o modo “agora vai”, acreditando que o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, vai sustentar a tramitação da reforma da
Previdência. Mas outro dia mesmo, o pessoal estava apreensivo com as ressalvas
do próprio Maia à capacidade de articulação do governo.
Nesse vai e vem,
comprar ações, num dia bom, é fácil. Pode-se vender amanhã. Mas iniciar um novo
negócio, comprar em várias prestações, é outra coisa.”
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AGD
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