"Como criança na
Disney
POR MERVAL
PEREIRA
Diz-se de uma
pessoa feliz em uma situação que está "como pinto no lixo". Pois
Bolsonaro parecia uma criança feliz na Disney. A visita aos Estados Unidos pode
ser considerada um sucesso, com o apoio de Trump à entrada do Brasil na OCDE, o
aceno para que nos associemos à OTAN, a
possibilidade de reduzir o déficit na balança comercial com os Estados Unidos,
a utilização da Base de Alcântara pelos americanos, que pode trazer tecnologia
e intercâmbio. Mas a política externa brasileira está sendo tocada por uma
dupla assimétrica: o deputado Eduardo Bolsonaro indicou o chanceler Ernesto
Araujo, mas faz questão de mostrar que quem manda é ele. Ontem, submeteu seu
apadrinhado a uma humilhação pública, ao substituí-lo na audiência com o
presidente Trump na Casa Branca.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores
da Câmara, o 03 na hierarquia familiar reforçou a ideia de que é o 01 da
política externa. Muito parecido com os governos petistas, que tinham dois
chanceleres: Celso Amorim, e a eminência parda do petismo, Marco Aurélio
Garcia. Amorim conseguiu impor-se com o tempo e se transformou em um petista de
cúpula. Mas Garcia tinha gabinete no Palácio do Planalto e uma influência
indiscutível na formulação da política externa.
Como agora, não
havia discordâncias ideológicas entre os dois, mas dificilmente o chanceler
neófito Ernesto Araujo terá voz própria na política externa de Bolsonaro. As
medidas radicalizadas que o governo abraça, como mudança da embaixada
brasileira para Jerusalém; disputa com a China, que ainda veem como comunista,
uma atuação mais radical na Venezuela, todas saem da cabeça de Eduardo
Bolsonaro, cujo papel nas relações internacionais foi elogiado por Trump: “Vejo
o filho do presidente, que tem sido fantástico”.
Os dois, Eduardo
e Araujo, são discípulos do ideólogo da radicalização de direita Olavo de
Carvalho. Os esquerdistas veem
golpes sempre que perdem, os direitistas têm mania de ver comunista em qualquer
lugar. Por isso o presidente Bolsonaro disse nos Estados Unidos que “nosso
Brasil caminhava para o socialismo, para o comunismo”.
No que foi
seguido pelo presidente americano Donald Trump, que disse que pensa de forma
semelhante a Jair Bolsonaro. “A última coisa que queremos nos EUA é
socialismo”. Assim como o PT tem o socialismo só em seu programa, também o
socialismo que Trump rejeita, na última eleição foi representado pelo veterano
Bernie Sanders, que se diz liberal progressista.
Nos Estados
Unidos, a social-democracia europeia é sinal de comunismo. Não foi Bolsonaro
quem impediu que o país se tornasse comunista, simplesmente porque nunca houve
essa ameaça. Nem há, entre os bolivarianos que o PT financiou com o dinheiro da
corrupção, um país comunista. Todos se dizem de esquerda, mas são mesmo
cleptocracias ditatoriais.
Se o PT
conseguisse permanecer no poder, tentaria implantar não o socialismo no Brasil,
mas um governo autoritário, como a Venezuela de Chaves, ou a Nicarágua de
Ortega. No máximo, o que chamam de socialismo do século XXI, que mascara com
populismo a rapina dos tesouros nacionais.
Quem interrompeu
a caminhada do PT não foi Bolsonaro, foi Dilma, cujo governo desastroso, e
falcatruas no orçamento, deram espaço para seu impeachment. Quem governou o
país nos últimos três anos foi Michel Temer, que de comunista ou socialista não
tem nada.
Se eventualmente
houvesse uma maquinação petista para assumir o poder sem contraposições
institucionais, e tentaram várias vezes abrir atalhos para isso, o MDB velho de
guerra é que inviabilizou a pretextada aventura abandonando a parceria com o PT
e aderindo à oposição.
A aliança com os Estados Unidos, que é um
ativo importante para o Brasil, foi tratada pelos Bolsonaros como uma benção
dos céus. Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, um dos pilares do governo,
que foi muito claro no apoio à relação comercial com a China, caiu na esparrela
e disse a certa altura que temos um presidente que adora os Estados Unidos,
jeans, Disneylândia e Coca-Cola.
Para completar a
sequência de embaraços, Bolsonaro, seguindo um twitter do filho 02, disse em
uma entrevista na Fox que a maioria dos imigrantes não têm boas intenções
quando vão para os Estados Unidos. Eduardo havia dito que os brasileiros
ilegais nos Estados Unidos eram “uma vergonha” para o Brasil.
O presidente
Jair Bolsonaro pediu desculpas mais tarde, alegando que cometera um equívoco,
queria se referir à “menor parte”. O chanceler de facto passou batido. “
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AGD
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